Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting e administrador da SAD responsável pela área financeira, pede aos sportinguistas que se unam e que não coloquem em causa a estratégia definida pela direção do clube. Numa entrevista à '
Rádio Observador' Salgado Zenha apela para que "as agendas próprias" sejam colocadas de lado, até porque, afiança, o Sporting está "no caminho certo".
É possível o Sporting ter sustentabilidade pelo aumento das receitas?"Temos a consciência que no futebol as receitas estão dependentes dos resultados desportivos, mas é preciso criar as condições para num momento mais negativo mitigar a perda de receita e num momento positivo otimizá-la. Foi o que fizemos. Quando chegámos tínhamos uma quebra na receita de 'gameboxes' entre os 20 e os 30 por cernto, no merchandising também era significativa e no final do ano demos a volta a praticamente a tudo. Isso foi feito, mas não porque o ano passado começou por ser fácil, porque não foi. Tivemos momentos desportivos difíceis, mas acabámos por preparar bem essas situações e conseguimos dar a volta, de forma a otimizar."
Quanto tempo o Sporting aguenta estas crises cíclicas?"A instabilidade não ajuda o Sporting. É preciso ser sério relação a isso. A instabilidade não vem do mandato de Bruno de Carvalho, vem dentro e há muito tempo. Por alguma razão não somos campeões há tantos anos. Temos de dar condições a quem está à frente do Sporting. Não pode ser por um momento mais negativo no futebol profissional que podemos colocar em causa todo um plano e estratégia definidas pela direção. A estabilidade é fundamental para tornar o clube sustentável. Se a cada bola na barra se coloca o plano estratégico e desportivo em causa, assim será mais difícil."
Quanto tempo o Sporting aguenta a contestação dos sócios?"Se Deus quiser o Sporting será eterno. O Sporting vai aguentar com certeza se todos estiverem unidos e trabalharem no mesmo sentido. O clube tem todas as condições para ser sustentável. Posso chegar aqui e dar uma entrevista negativa, pessimista sobre a situação do Sporting, mas eu acredito que o clube tem condições para ser sustentável e eterno. Há ferramentas para o fazer e nós temos um plano."
E esta direção aguenta quanto tempo a contestação?"Esta direção tem um mandato, que quer cumprir. Em teoria todas as direções devem cumprir mandatos, o que espero é cumprir o mandato e entregar aos sócios o que nós prometemos. Temos cumprido exatamente aquilo que estava no programa eleitoral no que diz respeito ao meu pelouro. Ter um programa eleitoral e cumprir parte desse programa em apenas um ano de mandato prova que sabemos para onde queremos ir."
Sócios a comprar ações para comparecerem na Assembleia Geral da SAD"Eu sou completamente a favor que haja participação nas assembleias gerais, independentemente de haver pessoas que compram ações só para participar. Tenho conhecimento que vai ser mais participação do que habitualmente e fico feliz. Mas devem participar sempre, mesmo quando os momentos são mais positivos. Haver críticas só para se aproveitarem do momento, não é isso que queremos. Deve haver união. Que a crítica seja construtiva, as assembleias gerais são os sítios certos para essas críticas."
Empréstimo obrigacionista "Foi um processo muito difícil, dos mais difíceis em que trabalhei. Fazer um empréstimo obrigacionista que tinha que tinha sido prorrogado, nas condições em que foi, e em seguida começar a comerciálizá-lo um dia depois de o ex-presidente ser constituído arguido, isto são condições inacreditáveis. O que foi conseguido aconteceu por duas razões: pelo trabalho de toda a equipa e por o Sporting e os sportinguistas terem muita força. Tivemos senhores de idade que não sabiam como investir a fazer doações. Isto é o Sporting.
Senti que houve pessoas do Sporting que fizeram um forcing grande para isto não se tornar realidade. Não vou dizer nomes. Acho triste, infeliz, acredito que esse não é o sportinguista típico. Mas as pessoas têm o direto a arrepender-se, temos de lutar por ser mais unidos. Faço um apelo para nos unirmos neste momento. Há agendas próprias, mas as pessoas devem perceber que há momentos para fazer isso. Há eleições. Não nos unimos em torno do Sporting quando uma direção tem um mandato acho errado."
Reestruturação financeira"A reestruturação financeira vai ser concluída em breve, até ao final do ano. Anunciaremos no momento certo. Qualquer que seja o acordo que saia daqui será sempre melhor do que já existia, porque caso contrário não o faríamos."
Herança pesada"Podia ser pessimista, destrutivo e matar a situação do Sporting. A herança é difícil, foi difícil, mas quando entrámos neste ano já era muito melhor do a que encontrámos quando chegámos. As coisas estão melhor, estão longe de estar bem, mas estamos no caminho certo."