Cláudio Ramos: "Sinto-me capaz de suceder a Rui Patrício"
Vestir a camisola de Portugal é um objetivo do guarda-redes do Tondela. Acredita ter lugar para estar entre os eleitos de Fernando Santos.
- Nas últimas épocas o Tondela andou sempre perto dos últimos lugares da tabela. Agora na 11ª posição, é a revelação deste campeonato?
Cláudio Ramos - Não sei se somos, mas estávamos confiantes de que íamos fazer um campeonato diferente dos últimos. Tal vez a permanência do grosso da equipa, em relação à última época, tenha ajudado, porque já nos conhecemos todos.
- Ainda assim estão a seis pontos do penúltimo lugar, quando ainda faltam sete jornadas…
- Não podemos relaxar. Temos de ser responsáveis e sérios até ao último jogo. Ainda há muitos pontos em disputa. Temos o nosso exemplo da última época, em que por esta altura tínhamos 17 pontos e conseguimos a manutenção.
- Como é que as equipas de menor dimensão, olham para as polémicas fora de campo, que envolvem principalmente os três grandes?
- Não nos preocupa muito. Cada um com os seus problemas. O que nos preocupa é o que se fala de colegas serem pagos para ajudar candidatos ao título.
- Acha que os três grandes são sempre favorecidos?
- O futebol português está focado nos três candidatos e esquecem-se das outras equipas. Por isso fala-se muito na criação de um campeonato a três. Mas acho que os árbitros querem fazer o seu trabalho, são todos profissionais e em Portugal temos bons árbitros.
- Terá sido por isso que o Sporting venceu o Tondela (2-1) aos 90+8 minutos?
- Não se sabe o que vai na cabeça do árbitro [João Capela]. Deu quatro minutos de compensação, depois deixou jogar até aos 98’. Não podemos duvidar de ninguém. Como não podem duvidar de nós jogadores, do nosso profissionalismo. Há que acreditar que foi um dia mau do árbitro.
- Acha que tem sido uma das grandes figuras da equipa, esta época?
- Pelas exibições, notícias, pelas boas críticas, acho que posso afirmar que tenho sido uma das figuras. Mas não sou só eu, a equipa também.
- Tem feito exibições de grande nível, especialmente contra os três grandes. É uma forma de mostrar que tem qualidade para representar equipas desse calibre?
- Não vejo isso dessa forma. Se calhar há mais visibilidade nesses jogos, porque os órgãos de comunicação social dão maior relevância do que se fosse contra equipas de menor dimensão. Também porque nós guarda-redes temos mais trabalho contra os candidatos ao título.
- Já foi abordado por algum dos três grandes?
- Não, nunca houve nenhuma abordagem e sinceramente não penso muito no futuro. Estou mais focado no dia a dia.
- Tinha preferência em jogar por algum dos grandes?
- Quando se começa a jogar a nível profissional, não há clubismos. Se houver uma oportunidade, vou aceitar.
- Sente que é o segundo melhor guarda-redes português no campeonato, sendo que Rui Patrício talvez seja o mais cotado pelo seu estatuto?
- A nossa Liga tem excelentes guarda-redes… O Casillas que já ganhou tudo o que havia para ganhar. A nível de portugueses temos o Varela [Benfica] e o Ricardo, no Chaves, que são muito bons, mas é um assunto que não me preocupa.
- Sente-se capaz de suceder a Rui Patrício na seleção nacional?
- Nunca fui à seleção. É um bocado difícil dizer isso. É um guarda-redes de grande qualidade, que já ganhou um Europeu... Sinto que era capaz, mas fica difícil dizer isso sem lá estar.
- Acha que tem valor para estar nesta seleção?
- Acho que sim, mas tenho a perfeita noção de que também há outros com muita qualidade, como é o caso dos que estão lá. Tenho de continuar a trabalhar.
- Esperava ter sido convocado para estes particulares?
- Não pensei nisso, andei mais focado no meu trabalho. Mas não estava à espera de ser chamado.
- Porque acha que ainda não foi chamado?
- Representar um clube com menos projeção pode ter influência. Se jogasse num clube que lutasse por outros objetivos, talvez fosse mais fácil.
- Acha que ainda vai a tempo de ser convocado para o Mundial?
- Acho que é impossível. Como o selecionador Fernando Santos já disse, aquele grupo é o que está mais próximo de ir. E quase todos são campeões europeus e por isso merecem estar no Mundial por tudo o que já fizeram.
- A passagem que teve pelas camadas jovens da seleção pode vir a jogar a seu favor?
- Pode vir a ser bom para mim, mas para já é impossível ser chamado.
"Jonas e Bas Dost foram a maior dor de cabeça" Qual foi o jogador que mais problemas lhe causou num jogo?
- O Jonas e o Bas Dost, porque foram os que mais golos me marcaram e os que mais dores de cabeça me deram.
- Que jogador gostaria de defrontar?
- O Ronaldinho. Foi o melhor que vi jogar. Mas acho que o [Cristiano] Ronaldo ia fazer–me sofrer.
- Qual é o seu ídolo?
- Acompanhei dois guarda-redes quando era mais novo. O Casillas, quando estava lá fora, e o Quim, em Portugal.
- Que equipa estrangeira sonha representar?
- O Manchester United. Sempre foi a equipa que joguei no FIFA [videojogo].
- Além do muito trabalho diário, o que é preciso para se ser um bom guarda-redes?
- Ser confiante, acreditar sempre nas nossas capacidades, independentemente de fazermos bons ou maus jogos.
- A quem deve a sua carreira?
- À minha mãe, à minha mulher e ao meu pai, que sempre me apoiaram. À minha família em geral.
- Qual foi melhor conselho que já deu e que já recebeu?
- Acreditar e confiar em mim. É um conselho que também dou. Que todos os sonhos se podem realizar.
- Se não fosse profissional de futebol, o que seria?
- Professor de educação de física, que é para o que estou a estudar. Estou no terceiro ano da faculdade.
Problema no coração não foi entrave
- Em algum momento pensou desistir do futebol?
- Houve uma altura que tive um problema no coração, quando era miúdo, mas nunca pensei desistir.
- Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
– Aos 14 anos, tive de escolher entre ir para o Guimarães [jogar pelo Vitória] ou ficar com a minha família. Mas fui e acho que decidi bem.
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