“Não vi equipa tão unida como a de Portugal”
Entrevista a Beto, ex-jogador do Sporting e da Seleção Nacional.
Correio da Manhã - Em 2004, o Beto fez parte da Seleção que foi vice-campeã da Europa. O que recorda dessa final?
Beto - Apoio fantástico do povo, a caminhada para o estádio e depois coisas menos boas, como o lance que decidiu o jogo e de como ficámos tristes no final.
– Doze anos depois, Portugal volta à final de um Europeu. O que tem de ser diferente?
– Basicamente o resultado. Santos tem sido pragmático, o importante é ganhar, as finais não se jogam, ganham-se. É ser coeso, manter união e espírito de grupo e acredito que possa ser diferente de 2004.
– O que pensa da França, a outra finalista?
– Grande seleção, com excelentes individualidades, como Griezmann, Payet e Pogba e um grande guarda-redes, Lloris. Será final de grande nível.
– Em 2004 houve algum excesso de confiança por Portugal jogar em casa?
– Havia uma euforia grande à volta da Seleção, isso notava-se nos adeptos, mas não acredito que isso tenha envolvido os jogadores. Penso que nos faltou uma pontinha de sorte.
– Como viveram os jogadores as horas que antecederam a final no Estádio da Luz?
– Com ansiedade enorme, mas controlada, porque apoiávamo-nos uns aos outros. Havia nervosismo, todos queríamos ganhar sabíamos que podíamos entrar na história do futebol português.
– Entrar na história é uma motivação, ou pode ser um foco de pressão maior?
- Tem de ser uma motivação e não uma pressão acrescida. É um jogo para desfrutar, mas com as devidas precauções. É um momento único, alguns não terão outra possibilidade. Há que estar motivado e muito concentrado.
– O papel de favorito pode condicionar o rendimento da Seleção na final?
– Penso que não, numa final pode haver percentagem mínima de favoritismo, mas não será preponderante. As finais definem-se nos pormenores.
- Que balanço faz da presença da Seleção na fase final do Europeu até ao momento?
– Aconteça o que acontecer, Portugal tem de estar orgulhoso dos seus jogadores, todos desejamos que tragam o título, mas já elevaram bem alto o nosso país e temos de estar gratos a todos.
- De que maneira deve Portugal encarar a final de domingo, em Paris?
– Com a mesma humildade e espírito de união com que tem estado e níveis de concentração e motivação elevados, porque estar na final já é suficientemente motivante.
- O ‘fantasma’ de 2004 ainda pode pairar na cabeça dos jogador nesta final?
– Não. Muitos eram miúdos, como Renato Sanches. Não haverá ‘fantasmas’.
- Após a fase de grupos, surpreende-o que Portugal tivesse atingido a final?
– Não começámos tão bem, mas à medida que o Euro foi decorrendo, Portugal tem evoluído nas prestações, tem melhorado e nos jogos decisivos teve exibições muito boas, com grandes jogadores, muito concentrada e acima de tudo um coletivo muito forte.
- O Beto foi treinado por Fernando Santos no Sporting. Como é ele como treinador?
- Um líder nato, tive muito gosto em trabalhar com ele, excelente profissional, dizem que tem ar carrancudo, mas tem coração enorme, é excelente pessoa e isso nota-se pelo espírito que a Seleção tem. Todos os jogadores falam muito bem da equipa técnica e isso diz tudo.
- Quais foram os principais trunfos que Portugal tem apresentado no Europeu?
- Um coletivo e entreajuda muito fortes, união de grupo fantástica. Ainda não vi uma equipa tão unida como Portugal, com vontade enorme e essa atitude levou-nos à final.
- Nos jogos a eliminar, Santos optou pelo habitual meio-campo do Sporting. O que ganhou a Seleção com estas opções em simultâneo?
- Ganhou rotinas, jogadores que se conhecem bastante bem, fizeram um ano fantástico no Sporting e Santos soube aproveitar essas virtudes.
- O Beto foi capitão de equipa no Sporting. O que acha da forma como Ronaldo exerce o estatuto na Seleção?
- As imagens que mostram de Ronaldo é a de um verdadeiro líder, simples e motivador.
- Como avalia o nível apresentado por Ronaldo no Euro?
Ronaldo está a aparecer sempre nos jogos decisivos, dou- -lhe muito valor pela qualidade que tem e pelo espírito de sacrifício em prol da equipa, pois ajuda em tudo. Ronaldo tem sido capitão exemplar.
- O Beto como jogador teve uma prova de fogo bem cedo, quando se estreou num dérbi contra o Benfica e logo com um golo. Como viu a estreia a titular de Renato Sanches e também com um golo, na fase final do Europeu?
- Renato é um miúdo fantástico, apareceu num momento muito bom, tem muito dinamismo, qualidade, poder de choque. Tem feito Campeonato Europeu muito bom.
- O que transmitiu Renato Sanches de novo à Seleção?
- Transmitiu uma ambição enorme, nota-se que é ambicioso, com uma vontade enorme de vencer e isso obviamente passou para os colegas.
"Que seja uma liga sem casos"Já estamos na pré-época para a temporada 2016/2017. O que espera da futura edição da Liga portuguesa?
– Espero que seja uma liga competitiva, vai ser uma luta forte entre os grandes de Portugal. Que seja uma Liga sem casos, tranquila e de bom futebol.
- A renovação de Jesus é uma boa decisão de Bruno de Carvalho?
– É um grande treinador, se o presidente achou que foi o melhor, ótimo.
– Como vê a evolução de Ruben Semedo?
– Evolução fantástica, já tinha feito metade de época muito boa no V. Setúbal, acabou muito bem, mereceu a titularidade e tem margem de progressão enorme para potenciar. Vai ser um grande central.
– Manter Slimani será o melhor para a nova temporada no Sporting?
– Tem contrato, espero como sportinguista que continue e faça uma época igual ou superior à anterior.
– Quem é o principal favorito ao título?
– Os três tradicionais.
– Que opinião tem da passagem de Carrillo do Sporting para o Benfica?
– É uma situação cada vez mais normal no futebol. Estava em final de contrato, tomou uma decisão.
– Nuno é a escolha certa para o FC Porto?
– Tive o prazer de jogar com o Nuno, é um homem e colega fantástico que tem feito bons trabalhos. Desejo-lhe sorte, menos contra o Sporting.
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