Paulo Gonçalves, diretor do departamento jurídico do Benfica e braço direito de Luís Filipe Vieira, foi esta manhã detido pela Polícia Judiciária sob suspeita de, em nome da SAD do clube, ter subornado três funcionários judiciais para lhe fornecerem peças processuais do chamado 'caso dos mails' - em que o Benfica e os seus dirigentes são investigados, no DIAP de Lisboa, por corrupção desportiva, num alegado esquema com árbitros e observadores dos mesmos. As buscas ao Benfica terminaram cerca das 18h desta terça-feira.
O assessor jurídico da SAD da Luz acompanhou, sob custódia da PJ, as buscas ao seu escritório nas instalações do Estádio da Luz, sabe o CM. Vai passar a noite detido na Polícia Judiciária. Esta operação recebeu o nome de "Operação e-toupeira".
Os funcionários dos tribunais de Guimarães e de Fafe, um dos quais, Nogueira da Silva, está também detido pela Unidade de Combate à Corrupção da PJ, entraram no sistema CITIUS - base de dados da justiça - com passwords e códigos de acesso deles e abusivamente em nome magistrados do Ministério Público, tendo acedido centenas de vezes a processos judiciais como os casos dos mails e dos vouchers, entre outros.
Paulo Gonçalves ofereceu emprego a sobrinho de funcionário judicial
Quanto às contrapartidas dadas por Paulo Gonçalves aos oficiais de justiça subornados, direta ou indiretamente através do empresário Óscar Cruz (filho do ex-dirigente do FC Porto, com o mesmo nome), passavam por convites VIP para assistirem a jogos do Benfica na Luz e fora de casa, e oferta de produtos de merchandising do clube, como camisolas da equipa principal.
Para além disso, e segundo avançou a Sábado, um sobrinho de um dos funcionários judiciais visados nesta operação terá sido, igualmente, contratado pelo Benfica para trabalhar no Museu Cosme Damião, o museu do clube.
Na operação de hoje, que está a passar por novas buscas à SAD do Benfica, na porta 18 do estádio da Luz, e a outros locais, como os tribunais de Guimarães e de Fafe, onde foram cometidos os crimes, estão envolvidos mais de 40 inspetores da PJ - para além de procuradores do MP, juízes e um representante da Ordem dos Advogados, que acompanha as buscas ao escritório de Paulo Gonçalves e a detenção do mesmo.
O Benfica desmente esta informação e garante, em comunicado, que o sobrinho do funcionário judicial não trabalhava no museu do clube.
"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD esclarece que é falsa a informação veiculada por alguns órgãos de comunicação social de que Fernando Rocha, sobrinho de um funcionário judicial, teria sido contratado pelo Sport Lisboa e Benfica e trabalharia no Museu Benfica Cosme Damião", escrevem os encarnados, garantindo que Farnando Rocha "não pertence, nem nunca pertenceu, aos quadros profissionais de qualquer estrutura do Sport Lisboa e Benfica e Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD".
Paulo Gonçalves acompanha buscas sob detenção
Segundo apurou o CM no local, Paulo Gonçalves foi detido esta manhã na sua casa, em Santarém, e foi encaminhado para o seu gabinete, no Estádio da Luz, onde acompanhou sob detenção, as buscas da Polícia Judiciária.
Depois, deverá passar a noite nos calabouços da polícia, uma vez que, segundo avança a Sábado, o interrogatório judicial estará agendado para quarta-feira, no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.
PJ confirma Operação e-toupeira
A Polícia Judiciária já confirmou a detenção de "dois homens pela presumível prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal".
Em comunicado, a PJ adianta que a operação envolveu cerca de "50 elementos da Polícia Judiciária, um juiz de instrução criminal e dois magistrados do Ministério Público", sendo que "foram realizadas trinta buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa" que levaram à "apreensão de relevantes elementos probatórios".
A investigação, denominada e-toupeira, foi iniciada "há quase meio ano" para averiguar "o acesso ilegítimo a informação relativa a processos que correm termos nos tribunais ou Departamentos do Ministério Público a troco de eventuais contrapartidas ilícitas a funcionários".
Também é confirmado que os detidos vão ser sujeitos a primeiro interrogatório judicial e que a investigação prossegue.
Benfica garante total disponibilidade para colaborar com a Justiça
O Benfica emitiu esta terça-feira um comunicado em que confirma as buscas às suas instalações, mostrando "total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade".
No comunicado, o clube também declara o seu apoio a Paulo Gonçalves, detido esta manhã no âmbito da operação 'e-toupeira'.
Francisco J. Marques já reagiu
O diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, responsável pela divulgação dos emails do Benfica, já reagiu no Twitter à detenção de Paulo Gonçalves.
A revolução começou há uns meses. Sem medo, pela verdade
— Francisco J. Marques (@FranciscoMarkes) March 6, 2018