A distopia do quotidiano

Visionária percepção da humanidade submetida à tecnologia e do seu progressivo isolamento individual

19 de abril de 2020 às 10:00
E. M. Forster Foto: Direitos Reservados
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Nestes tempos de confinamento, em que vivemos uma distopia bem real, o mais libertador é mesmo viajarmos pelas muitas distopias literárias que a imaginação humana foi criando, desde ‘O Admirável Mundo Novo’ (1932) de Aldous Huxley, um mundo de condicionamento biológico e psicológico ditado pela manipulação genética, a ‘1984’ (1948) de George Orwell, onde o pensamento é condicionado pela manipulação da linguagem e das memórias, os dois exemplos mais famosos. Mas há tantas outras distopias por onde fugir… Desde logo ‘A Máquina do Tempo’ (1895) de H. G. Wells, uma viagem a um terrífico mundo futuro, mas também ‘O Tacão de Ferro’ (1908), de Jack London, a crónica de uma revolução esmagada, ‘Nós’ (1924), de Evgueny Zamiatin, com o individual a ser esmagado pelo totalitarismo colectivista, ‘A Casa dos Mil Andares’ (1929), de Jan Weiss, onde o poder omnisciente e controlador é invencível porque é o próprio sistema, ‘Eu, Robot’ (1950), de Isaac Asimov, com os seus universos de robots, ‘Farenheit 451’ (1953), de Ray Bradbury, onde a alienação televisiva e a proibição da literatura são as faces de uma mesma moeda, ‘Androides Sonham com Ovelhas Eléctricas?’ (1968), de Philip K. Dick, com os seus caçadores de recompensas, ou ‘Neuromante’ (1984), de William Gibson, que antecipa a conexão digital única e universal, para só referir algumas das distopias mais antigas. Mas também E. M. Forster, o escritor inglês reconhecido e admirado por romances como ‘Um Quarto com Vista’ (1908), ‘Howards End’ (1910) ou ‘Passagem para a Índia’ (1924), se atreveu pela literatura distópica como nos mostra ‘A Máquina Pára e outros Contos’, um conjunto de dez histórias publicadas entre 1904 e 1920 sobre assuntos tão diversos como a hipocrisia das falsas convenções ou a mitologia clássica. Mas é o conto do título, ‘A Máquina Pára’ (1909), que aqui nos interessa, pela antevisão de um mundo de submissão à tecnologia e de degradação das relações humanas face ao domínio da máquina. Uma visionária antecipação que este confinamento colectivo veio tornar ainda mais visível.

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de perto; depois, a da divisão do meio musical – como de todos os meios artísticos – por capelinhas fechadas, curtos-circuitos de amizades e afinidades estéticas que este TV Fest não evitava, antes pelo contrário; finalmente, da existência de Portugal muito para além de Lisboa…

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