Uma fonte de saúde
O celibato é, para muitos, a escolha perfeita. Mas diz a Ciência que casar tem vantagens para a saúde. Quando se trata de uma união feliz, parece não haver melhor remédio que o matrimónio.
A felicidade floresce, a saúde melhora e a esperança de vida aumenta. A poção mágica para o cenário que todos invejam não é apenas um sonho. Ela até existe. A ciência deu-lhe um nome: casamento duradouro. E para os cépticos, há provas de que viver feliz para o resto da vida não é apenas uma frase feita ou o fim previsto para um qualquer conto de fadas. É possível e com efeitos quase milagrosos para a saúde física e mental.
O tema começou a ser alvo de debate nos anos 90 e, desde então, a teoria de que a vida a dois é um factor a considerar quando chega a hora de avaliar a saúde ganha força. Os estudos sobre a matéria sucedem-se. Um dos mais recentes, realizado na Universidade de Birmingham, em Inglaterra, avaliou o impacto da vacina contra a gripe em 180 pessoas com mais de 65 anos. E os que se afirmaram mais satisfeitos com o casamento tiveram maior produção de anticorpos contra o vírus. Responsável: o casamento.
O lucro para a saúde de subir ao altar e dizer a palavra mágica – sim – não se fica por aqui. “O amor faz bem ao coração”, afirma Carlos Catarino, cardiologista. “Quando amam, as pessoas andam melhor e cuidam-se mais.” E há evidências científicas que confirmam que um casamento feliz pode ser uma bênção para os corações femininos. Ao longo de 13 anos, um estudo de investigadores norte-americanos das Universidades de San Diego e San Pittsburgh sobre mulheres de meia-idade revelou que as que viviam relações felizes tinham menos probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares, quando comparadas às solteironas ou presas a relações menos afortunadas.
Para os mais vaidosos fica a certeza: um matrimónio feliz pode ajudar a melhorar a aparência. Segundo cientistas dinamarqueses, uma união saudável pode fazer com que os elementos do sexo feminino se pareçam até dois anos mais novos quando chegam à meia-idade – menos um ano nos homens.
Motivos para o casamento não faltam, mas o número de uniões tem decrescido. Dizem os dados do Instituto Nacional de Estatística que, em 2004, realizaram-se 49 178 bodas, contra 56 457 dois anos antes. E muitas relações são pouco duradouras. Mas ainda há uniões capazes de resistir. A de Esmeralda Pereira conta já com 37 longos anos. E felizes também. Aqui não há dúvidas: o dia em que subiu ao altar e disse sim mudou para sempre a sua vida. “Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido.” Para trás ficou a memória dos tempos menos bons, da austeridade materna e paterna, das dificuldades financeiras. O futuro a dois foi tudo o que sempre sonhou. “Quando há amor, compreensão, união, isso é suficiente para apagar os momentos mais difíceis. Tive sempre muita sorte porque o meu marido é muito bom para mim.” Esmeralda conhece pouco sobre as teorias apregoadas pela ciência no que diz respeito ao casamento. Sabe apenas que se sente bem fisicamente, que não tem problemas de maior e que, acima de tudo, tem sido “muito, muito feliz.”
“TER UMA RELAÇÃO A DOIS é o melhor que há”, diz a ginecologista Maria do Céu Santo. Um remédio santo, confirmam os especialistas da Universidade de Victoria, British Columbia, no Canadá. Com base nos dados recolhidos, os cientistas formularam uma teoria, a que deram o nome de ‘hipótese de protecção do casamento’: o apoio social e financeiro que os elementos do casal dão um ao outro torna-os mais saudáveis assim como ajuda a monitorizar o comportamento de saúde de cada um.
Noutro trabalho, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, que reforça o papel das uniões, concluindo que “o isolamento social é um factor de risco para a saúde que merece tanta consideração quanto os factores para a doença cardiovascular e outros problemas.” Isto porque, em geral, os homens casados têm menor risco de morrer vítimas de qualquer causa e um risco duas vezes menor de morte por acidentes e suicídios. É que, diz-se, o estado civil pode ser um indicador importante quando se trata de tirar a própria vida, mais comum entre divorciados, depois em solteiros e não menos vulgar em viúvos. É mais raro, no entanto, entre os casados.
RESTAM POUCAS DÚVIDAS que o casamento provoca alterações em homens e mulheres. E dele faz parte integrante o sexo que é fonte de prazer e bem-estar. “Quando se faz amor, são libertadas hormonas que aumentam o bom humor e tornam as pessoas mais bem dispostas. Ele é essencial para uma vida equilibrada”, explica Maria do Céu Santo. Vantagens a que se junta ainda a possibilidade de queimar calorias – até 200 durante o orgasmo.
Mas se o casamento feliz pode operar maravilhas na saúde, uma relação infeliz pode provocar o efeito oposto, algo que não passou despercebido aos cientistas da Universidade de Penn State, nos Estados Unidos. Segundo os trabalhos realizados, quem opta por manter uma união marcada pela infelicidade pode sofrer de baixos níveis de auto-estima, problemas de saúde e menor satisfação com a vida. Por isso, refere Alan Booth, professor de Sociologia daquela instituição, “há maiores probabilidades de aumentar o bem-estar terminando uniões de baixa qualidade, uma vez que não há qualquer evidência que comprove que mantê-las é melhor do que o divórcio.” Na realidade, apesar do impacto negativo que resulta de terminar uma relação, manter um casamento infeliz pode ser bem pior. A saúde que o diga.
MAIS DIVÓRCIOS E MENOS MATRIMÓNIOS
O casamento pode ser um passaporte para uma vida melhor, mas nem todos pensam assim. Dados do Instituto Nacional de Estatísticas confirmam que a tendência nacional segue no sentido da diminuição do número de casamentos, ao mesmo tempo que cresce o número dos que chegam à conclusão que mais vale só que mal acompanhado.
- 81 724 bodas celebradas em 1974.
- 49 178 matrimónios realizados 30 anos depois, em 2004.
- 103 125 maior número de uniões, em 1975.
- 777 divórcios em 1974.
- 23 348 separações três décadas depois, em 2004.
- 27 960 foi o recorde de divórcios, que aconteceram em 2002.
Nem só de momentos bons vivem as relações. Os altos e baixos são característicos de todas as uniões. O que
é preciso é saber lidar com elas e ultrapassá-las.
CONVERSAR
O silêncio pode ser um veneno para o casamento e, consequentemente, para a saúde. De acordo com um estudo feito nos Estados Unidos, as mulheres que optam por se calar em situações de conflito têm quatro vezes mais risco de morrer de doenças cardíacas. Por isso, o melhor mesmo é falar.
AMOR E CARINHO
Um abraço pode operar maravilhas. O carinho tem o efeito de um calmante nos problemas e tensões da vida quotidiana. Dar e receber afectos é, pois, fundamental para o sucesso de uma relação. E mais ainda, diz um estudo que os abraços reduzem o risco de problemas no coração.
ACERTAR AGULHAS
Muitos são os casais que não combinam regras para uma vida a dois do agrado de ambos. Há pequenos pormenores que podem levar à irritação (como deixar a roupa no chão), mas que, quando discutidos, são capazes de tornar a convivência entre marido e mulher um mar de rosas.
ATENÇÃO AOS SINAIS
Quando a tensão a dois passa todos os limites, o corpo ressente--se. Angústia, ansiedade, depressão e culpa são sinais de que nem tudo vai bem e de que é hora de mudar. Dores de cabeça e tensão muscular são outros sintomas, a que se junta ainda a azia, gastrite e outros problemas digestivos.
OPINIÃO DA JORNALISTA DULCE GARCIA
REMÉDIO SANTO
O AMOR FAZ BEM À SAUDE – grande novidade.
Curioso como tantas vezes a ciência, termómetro perfeito da evolução das sociedades, limita--se a confirmar as verdades do coração, tão velhas como o mundo.
Os pediatras não se cansam de avisar os jovens pais de que o único ingrediente fundamental para a educação de uma criança – e não há receitas infalíveis – é um e só um, o amor.
Não é por acaso que as dores de dentes e as cólicas dos bebés parecem diminuir para metade quando se aninham no colo macio e quente da mãe. Pesadelos, tristeza, medo do escuro, birras de sono, tudo isto passa com a mesma receita sem preço nem validade: amor, muito amor.
ESTA SEMANA, particularmente cara aos namorados, trouxe notícias felizes da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. O amor faz bem ao coração. É um facto: o sangue dos amantes circula mais livremente nas artérias, o que diminui, em muito, risco de acidentes vasculares.
A Universidade da Carolina do Norte também tem uma palavra a dizer sobre o assunto: um estudo divulgado no início do mês prova que um abraço de alguém que se ama é melhor do que qualquer comprimido para a hipertensão. Este gesto, tão simples, ajuda a tensão arterial a entrar nos níveis considerados saudáveis sem que seja necessário recorrer a nenhum aditivo.
Como se não bastassem estes argumentos, um outro estudo efectuado por cientistas norte--americanos assegura que o amor aumenta a esperança média de vida, diminui o stress, protege de infecções e promove estilos de vida mais saudáveis. E fica o aviso, tão importante como recebê-lo, em doses maciças, é também dá-lo sem medo.
HÁ POUCAS PESSOAS capazes de gostarem sem reservas nem exigências. A pessoa que eu conheço que melhor sabe amar os outros é a minha irmã mais velha. Não me parece que haja no mundo alguém mais generoso ou com um coração maior. Acho até que só o facto dela gostar de nós – familiares e amigos – nos enche de saúde.
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