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A história de Alexandre Pinto da Costa

O primogénito de Pinto da Costa tem alcunha de ‘o quinhentos'.

10 de abril de 2016 às 01:45

Vive nas imediações da Ponte da Arrábida na Afurada, Vila Nova de Gaia, e procura casa na Foz, no Porto. Quer um apartamento no último andar e o preço não pode ultrapassar 1,5 milhões de euros. Não tem vertigens e tem liquidez para investir. Na última Passagem de Ano, bateu-lhe na garganta uma sede imprevista; atestou, e muitíssimo, no Hotel do Freixo, onde se fez acompanhar por uma madame, aliás um avião, nunca antes apresentada no círculo de amigos. Nas viagens com o FC Porto para o estrangeiro, Jorge Nuno Pinto da Costa vai à frente, e não é para abrir caminho. Alexandre opta por ir com elementos da claque e com jornalistas. Dá-lhe gosto largar bocarras, mas assim que o pai se levanta ai, ai, ui ui, perde logo o pio.

 

No defunto reinado de Lopetegui costumava dar bitaites a propósito de jogadores do FC Porto que agenciava para tentar lançar mistérios ocasionais. Assiste aos jogos de forma tranquila – e que a sua tranquilidade seja entendida pela ausência de palavrões. Ao contrário do sócio, pelo que ficámos a saber, é talentoso no calão. Contactado, Pedro Pinho precisou de garantia; um e-mail onde constasse o curriculum da autora do artigo. A resposta deve chegar no ‘dia de são nunca’. Os dois são muito amigos e desde há muito tempo. Estudaram no Colégio Luso-Francês, uma instituição de ensino das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora.

 

O 'Quinhentos'

Deus não dorme, não toma xanax e não castiga. A fama que o antigo aluno Alexandre Pinto da Costa desfruta na Invicta não vem da Bíblia: ‘Quinhentos’. A razão não está ligada a nenhum misticismo. Neste caso, não é a ciência que anda oculta, mas o que uma criatura pode fazer nas bombas de gasolina, para além de atestar depósitos ou comprar rebuçados para a tosse. Trocar dinheiro, notas, que geralmente são de quinhentos. Para entrar na Confraria Gastronómica das Tripas à Moda do Porto não precisou de tanto. Quatrocentos euros bastam para receber a farda e a boina, pagar a joia anual e o jantar no Palácio da Bolsa.

 

Desde a entronização, a 10 de Outubro 2014, nunca mais apareceu nas actividades da confraria, presidida por Manuel Moura, a pessoa que lhe lançou o convite. Fernando Póvoas, entronizado no mesmíssimo dia, conhece-o dos tempos de gaiato. Alexandre teria 13 anos quando acompanhou o médico numa prova de ciclismo – o Grande Prémio Futebol Clube do Porto – e "a partir dessa altura, houve uma admiração por aquele miúdo, que já era muito alto para a idade e com conversa de adulto". O clínico, que detém a fórmula do emagrecimento, define o filho primogénito de Jorge Nuno com francas calorias: "Inteligente e com memória de elefante (sai ao pai), ‘low profile’. É de uma seriedade extrema , por vezes, se calhar, demasiado frontal."

 

Os assobios que se ouviram no Dragão não se limitaram a expressar o profundo desagrado diante da derrota com o derradeiro classificado na tabela, o Tondela. A divulgação das obesas comissões vindas da compra e venda de jogadores pela Energy Soccer, detida parcialmente por Alexandre, ajudou a impulsionar os dedos na boca para repudiar. Football Leaks espalhou a salada mista e a digestão deu azia a imensos estômagos. Não se vê o rosto do autor desse portal, mas a documentação que por lá anda dispensa cartões de visita. O empréstimo de Casemiro ao FC Porto durante uma época deu a Alexandre Pinto da Costa um lucro bestial: 700 mil euros em comissões. A Energy Soccer, que intermediou a contratação de Ricardo Quaresma a custo zero em Janeiro de 2014, veio a encaixar meio milhão de euros. Também nos comércios de Rolando, Atsu e Álvaro Pereira, os montantes (quer pela gestão das carreiras, quer pela intermediação nas negociações) apareceram. Há mais. A Energy Soccer recebeu 280 mil euros para fazer observação de jogadores para os dragões. Esse serviço foi contratado pelo FC Porto, em 2014, à Vela Management Limited, vinculada à Doyen, que posteriormente subcontratou a empresa do filho do chefe portista para prestar os serviços.

 

De nada adiantou à empresa ter emitido um comunicado a desmentir os quase dois milhões facturados ao FC Porto e de pouco serviu ao CEO ter dito em entrevista que, ao longo dos últimos quatro anos, o valor arrecadado se resumia a 596 mil euros e que ele, Alexandre Pinto da Costa, descendente directo do presidente, não exerce influência na compra de jogadores. A insatisfação dos portistas está viva e a internet encarrega-se de a difundir.

 

Entre vários blogues acham-se Tribunal do Dragão, Invicta ou Sou Portista que mostram, e sem paciência, o desagrado. A petição ‘Adelino Caldeira e Alexandre Pinto da Costa fora da estrutura do FC Porto’, embora não tenha muitas assinaturas, conta com imensos comentários que nada abonam a favor de Alexandre e do pai. "Os dois daqui para fora" rege-se pelo que consideram alguns adeptos: a fase negativa do clube começou com a chegada desse administrador da FC Porto SAD, o tal que festejava as derrotas com champanhe, e igualmente com Alexandre por ser "a junção perfeita para ir buscar dinheiro ao clube, conseguir meter os seus jogadores no clube (mesmo não tendo lugar numa equipa da distrital) e ganhar comissões". As continuadas comissões de Alexandre em transferências e negócios embrulhando o FC Porto estão a gerar um ambiente de guerra na SAD. 

Essa indisposição tem sido crescente na facção da Sociedade Anónima Desportiva mais próxima de Antero Henrique, vice-presidente do FC Porto, que integra a administração da SAD. Nuno Encarnação, comentador da CMTV e portista, não deixa passar em branco: "Numa empresa privada em que o presidente fosse detentor da empresa e o filho prestasse serviços, não haveria problema. Mas neste caso, esta empresa é uma SAD em que o presidente não é dono." Carlos Abreu Amorim, talvez por ter sido processado pelo FC Porto, não quis falar com a Domingo. Pelo deputado do PSD fala a sua página de Facebook: "Este é um FC Porto que começou a época em Janeiro, que destruiu o seu conceito de equipa, que se tornou um joguete fácil e cúmplice nas mãos dos empresários, sem estratégia, com uma direcção acomodada, desprovida de soluções para si própria, avelhentada e, sobretudo, pejada de nepotismo e de milionários que enriqueceram no clube e sem causa." Já Manuel Serrão não se acanha em dizer que é preciso "haver mudanças". O desastroso resultado encontra-se conexo "à política de contratações, com novos jogadores, e se calhar com mudanças de directores".  

Meia gente

Franzino. Frágil. A fraca aparência física não o impedia de jogar à bola com os primos e com o vizinho Manuel Serrão. Na praia do Mindelo, em Vila do Conde, a tradição das férias de Verão cumpria-se nos anos da infância até ao raiar da adolescência. Outro desporto igualmente se impunha no court de ténis que havia em casa dos pais do comentador da TVI24.

 

O FC Porto lá estava no coração do rapaz fraquinho e de todos os que cabiam no automóvel de Jorge Nuno a caminho do futebol. Manuel Serrão, que não é dado a exageros, alerta: "Olhe que o Alexandre não era o menino do papá".  Olhamos. Os mimos virão depois, no Inverno de 2011, e pelas razões terríveis: no pulmão de Alexandre havia um tumor. Operado no Hospital Santos Silva, com êxito, a saúde, aos poucos, se recompunha. Nos oito meses que antecederam o brutal susto, Alexandre e o pai reconciliavam-se após uma década de silêncio. É comum atribuir a Fernanda Miranda, a actual mulher do líder portista, a responsabilidade da reaproximação. Fernanda cimentara amizade com Maristela – a mulher de Alexandre à época. Os 16 anos de casamento acabaram, em 2014, num divórcio causado por infidelidades de Alexandre.

A justiça pela guarda dos filhos, Maria e Nuno, o património comprado no regime de bens adquiridos e as queixas por violência contra o companheiro, fizeram manchetes. A zanga entre pai e filho igualmente. Os motivos da rixa embrulham-se. Questões pessoais, e referimo-nos ao matrimónio de Jorge Nuno com a sua secretária, Filomena Morais. Razões empresariais e, claro está, a transferência de Sérgio Conceição que ajudou, e muito, a afundar a Superfute, a sociedade de José Veiga com Alexandre Pinto da Costa. O presidente do FC Porto, como forma de retaliar com o negócio de Zahovic, que fora feito à revelia, surpreendeu-os de maneira abissal: colocou no punho de um agente rival – Luciano D’Onofrio – a transferência e a comissão do portista Sérgio Conceição. E a partir daí, caros leitores, a relação de um pai e de um filho despromoveu-se a um par de desconhecidos. O filho viu-se proibido de entrar nas instalações do clube.

 

Hoje em dia, partilham opiniões e negócios. Fonte próxima lembra que Alexandre fundou a primeira claque, os Dragões Azuis, e que o seu primeiro negócio foi a venda das cadeiras de plástico no estádio do Dragão. A mesma fonte, seca de raiva, diz que não vale a dizer que Alexandre não integra a estrutura e os órgãos sociais ou que é um agente licenciado. Ele não faz parte de nada, mas farta-se de ganhar dinheiro do FCP.

 

Três dias após o Futebol Clube do Porto ter perdido para o clube do Petit, a casa de Jorge Nuno é atacada por homens, todos furibundos. Petardos são atirados para o interior do condomínio de luxo, na Avenida da Boavista e largam-se vitupérios, contra a gestão do clube e contra um administrador. O insulto maior é dirigido a Alexandre Pinto da Costa ou Alexandre Jorge Graça Pinto da Costa, nascido em 26 de Abril de 1967, para sermos mais rigorosos.

 

(Texto escrito na antiga grafia)

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