Todos os "apanhados" do YouTube estão apanhados pelo medo.
Desde há décadas que, à chegada de um português ao Brasil, logo o indígena puxa pela piada do "Manoel e do Joaquim", ou seja, os "portugas" simplórios que são gozados e endrominados pelo espertalhaço brasileiro.
Era, e é, apenas, o exercício prático do preconceito cultural e estereotipado que todas as sociedades inventam para sua própria defesa e protecção. Nada se perde, tudo se transforma. Muitas das histórias do Manoel e do Joaquim são contadas por óbvios descendentes de portugueses e decalcadas de histórias de outros povos. Em Portugal, contam-se as mesmas anedotas com alentejanos, em França brinca-se com os belgas, em Angola quem sofre é o bailundo.
No Brasil, durante os anos de chumbo da emigração em massa de milhões de famílias camponesas, a mulher lusitana foi sempre desenhada vestida de negro, calçada com tamancos e com forte buço a decorar-lhe o lábio superior. É assim mesmo. Os cartoonistas, ainda que em estado de alerta, desenham sempre o mexicano com bigodão e sombrero, o francês com bigodinho e boina à pintor, o inglês de chapéu de coco, o alemão de monóculo.
Quanto ao muçulmano, sempre reduzido à simples condição de árabe, é enfarpelado com longas túnicas e lenço branco, seguro sobre a cabeça por uma "cordinha" preta ("igal"). Poucos ocidentais imaginam, nem isso lhes interessa, que o "igal" era antigamente utilizado pelos beduínos para amarrar os pés dos camelos, para que não fugissem.
Com os atentados dos últimos anos, congeminados por radicais islâmicos nascidos europeus, criaram-se estereótipos de alarmes sociais (‘moral panics’, dizem os anglo-americanos). São acessos súbitos e naturais de indignação e medo.
Quantas vezes a "culpa" é da própria democracia informativa, que permite a transmissão, em directo pela TV, de tiroteios e operações policiais. Nas últimas semanas, vários vídeos de "apanhados", a maioria com origem no Brasil, tornaram-se virais no YouTube. A cena é quase sempre a mesma. Um homem vestido à árabe aproxima-se de alguém sentado num banco de jardim ou numa esplanada. Carrega consigo uma mochila. De repente, larga a mochila e foge a correr. A reacção do receptor da brincadeira, o "apanhado", é sempre a mesma: também ele desata a correr dali para fora.
Hoje, para milhões de pessoas, alguém vestido de árabe é muçulmano, se é muçulmano deve ser terrorista, se carrega uma mochila é porque lá dentro está uma bomba. Ninguém se lembra que, em Paris, Nova Iorque ou Bruxelas, os terroristas islâmicos atacaram sempre ataviados com modernas vestimentas à ocidental. Todos os "apanhados" do YouTube estão apanhados pelo medo.
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