A matança de Newtown veio lembrar que é na América onde acontecem mais massacres nas escolas. Adam Lanza, 20 anos, alto, pálido e em quem ninguém reparava, dia 14, com duas pistolas semiautomáticas e uma espingarda de calibre .223 matou 27 pessoas, incluindo 20 crianças (entre cinco e dez anos) da sua antiga escola primária. Sobreviveram as que entraram num jogo diferente do seu.
A professora Victoria Sotto escondeu 20 alunos em armários da sala de aulas. Disse-lhes que ficassem em silêncio – era um jogo. Morreu sozinha, aos 27 anos. Em outra sala, uma menina de seis anos escondeu-se entre os corpos dos colegas: fez-se de morta. “Todos os meus amigos morreram”, disse ao ver a mãe. Não há nada mais aterrador do que um massacre numa escola. As armas não brincam.
Outras características: em geral, são homens jovens, isolados e com experiência com armas.
Segundo Carlos Poiares, este perfil, “de alguma forma, corresponde à verdade. Mas não nos esqueçamos que a juventude é essencialmente muito vulnerável à pressão social. E esta vulnerabilidade acaba por pôr em questão o projecto de futuro, que pode ser preenchido por esta cultura, em que a violência parece suprir a incapacidade de atingir certos patamares”.
Para o professor de Psicologia Forense, falta à sociedade americana “perceber quais as razões para este tipo de comportamento. E, além do controlo das armas, promover a inclusão e, simultaneamente, combater os comportamentos transgressivos”.
O maior massacre de sempre numa escola americana remonta a Abril de 2007: Cho Seung--hui, estudante de 23 anos, matou a tiro 32 colegas e professores na universidade conhecida por Virginia Tech, em dois ataques, com duas horas de intervalo.
Pelo meio, Cho teve tempo para ir aos correios enviar ao canal NBC a sua visão dos acontecimentos, num vídeo onde posa com armas semiautomáticas nas mãos. Todos estavam avisados.
Dois anos antes, foi avaliado num centro psiquiátrico e, por ordem judicial, deveria submeter-se a terapia psicológica. “Vocês tiveram um bilião de hipóteses e formas de evitar este momento. Decidiram derramar sangue. Encurralaram-me e só me deram uma possibilidade. Agora, têm sangue nas mãos e nunca mais vão conseguir lavá-lo” – disse.
IMITAÇÃO DOS MASSACRES
Wellington, Cho Seung-hui, Eric Harris, Dylan Klebold, Adam Lanza todos se suicidaram. “Uma das razões pode passar pela incapacidade do sujeito em se confrontar com as consequências”, explica Carlos Poiares. Outra das características comuns a estes crimes é a imitação. O massacre de Columbine costuma ser o mais copiado. As escolas são o cenário mais escolhido por dois motivos: a fragilidade das vítimas; e porque muitos dos criminosos atribuem à escola a razão para os seus males.
“Os EUA, infelizmente, são o país que produz mais massacres. Compete tanto à sociedade americana como à comunidade internacional pensar o que diabo se passa num país onde ainda há a cultura do cowboy e do Faroeste, onde se fazem massacres constantemente”, questiona Carlos Poiares. Barack Obama já disse: “Não podemos tolerar mais isto. Estas tragédias têm de acabar, e para isso nós temos de mudar.”
Em Newtown, Adam Lanza começou por matar a mãe, por ironia, com as armas que esta coleccionava em casa – e também ela o iniciara no uso de armas. “Só demonstra como esta é uma pedagogia do terror e que acaba por provocar o terror nas cidades”, arremata Poiares.