Diz que sabem a peixe, os ovos de gaivota. Diz Marieta Soares, de 60 anos, que tem na ponta da língua a receita típica do pão-de-ló da Berlenga. Doce que não dispensa estes ovos pouco maiores do que os de galinha, com casca mesclada de cinzento e preto, mas também um "pudim chinês" para disfarçar o sabor. Não dispensava, melhor dizendo. "Nas alturas em que elas põem os ovos, entre Maio e Junho, vejo-as cheias de fome a alimentarem-se de lixo" – conta. "Nunca mais usei esses ovos..."
Marieta está entre uma vintena de habitantes da Berlenga. Trabalha no parque de campismo e nos balneários. Na ilha, não há quem não aproveitasse ovos de gaivota para juntar ao atum de conserva ou às salsichas. Acompanhavam bacalhau e não eram nada maus escalfados. Isto até ao ano passado, porque, este ano, já Marieta não os cozinhou. "Mas ainda há por aí pescadores e homens das obras que os vão comendo", frisa.
FORA DAS EMENTAS
À ementa dos restaurantes de Peniche é que estes ovos "não chegam há 18 ou 20 anos. Vinham à ilha da Berlenga barcos com pessoas para os apanharem e, diziam, vendiam-nos a restaurantes de Peniche e Ribamar". Até que foi proibido.
Entre 1996 e 2008 foram destruídos 60 mil por ano – uma forma (cara) de tentar controlar o número abusivo destas aves. Em 1998 esperava-se que a apanha de ovos voltasse a ser permitida. E assim, até os restaurantes os poderiam usar nas ementas. A medida, que podia ser popular, não vingou. Culpa-se a poluição.