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Gaspar, o novo boneco

“Neste ano de Quaresma forçada, os figurões do costume deram lugar a nova estrela, a única não reciclada – Gaspar”

17 de fevereiro de 2013 às 15:00

As máscaras, bonecos, cabeçudos e gigantones do Carnaval 2013 foram quase todos reciclados de outros Entrudos. De Ovar a Loulé, de Torres Vedras à Nazaré, marcas da crise, do tempo e do caruncho apanharam as ‘fronhas' de Cavaco e Soares, Jerónimo e Louçã, Portas e Sócrates, até de Passos e Tozé. Todos ‘bonecos' batidos, vistos e revistos, alguns de asa caída e nariz à banda, ressuscitados por conta de muita fita-cola e alguma imaginação.

Neste ano de Quaresma forçada, os figurões do costume deram lugar a nova estrela, a única não reciclada, apenas ministro da constelação carnavalesca - Gaspar, o homem que gere os carcanhóis impostos pela troika. Gaspar, o novo boneco, brilhou a grande altura, ora esvaziando bolsos do Zé Povinho, ora ajoelhando e rezando às portas do FMI e quejandos.

O meu amigo Zé dos Pneus, olho vivo, fez-se à estrada até aos Algarves, para gastar já em Fevereiro o que o ministro Gaspar lhe promete rapar ainda este ano. Explica que, por coincidência, deu boleia ao "velho amigo Gaspar". Quem é Gaspar? Malandro, o Zé explica que não é ministro, é raiano desconfiado e poupadinho, que nunca alinha em almoçaradas. Homem de poucas falas, passado obscuro e negócios rentáveis, o Gaspar amigo do Zé mantém ar carrancudo e sorrisinho enigmático. "Vocês conhecem o tipo!" Não! Ninguém do grupo conhece o Gaspar maldisposto, só mesmo o pintas do Zé dos Pneus.

Em Quarta-feira de Cinzas, o Zé desembrulha experiências carnavalescas. Elogios aos resistentes nazarenos que insistem nas velhas "cegadas" de crítica social e aos diabólicos caretos transmontanos, guardiões de tradições milenárias. "O nosso amigo Gaspar odeia essas coisas! Gosta é de ir a descanso para o Algarve!" Conversa de treta, pretexto para umas bicadas ao governo, que acabou com o feriado e corta a tolerância de ponto. Erro político profundo - Carnaval e seus excessos dão folga a pulsões mais drásticas e violentas.

À volta do novo boneco Gaspar e de umas cervejolas, o Zé acaba de dedo apontado ao outro lado da rua. "Olha! Lá vai o Gaspar!" O pessoal lança bruaá de admiração. "Ó Zé! Mas aquele é o Fernandinho das Finanças!" O Zé dá o seu arrotinho maroto: "Qual Fernandinho qual carapuça! Para mim passou a ser o Gaspar!"

Texto escrito com a antiga grafia

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