Cresceu num orfanato, trocou a escola pelo trabalho e teve marido alcoólico. Aos 61 anos, estreia-se na publicidade
A disponibilidade mostrou-a no seu perfil no Instagram. Até deixou contacto profissional. Faria trabalhos de publicidade. E fez. O convite da agência BAR para protagonizar a campanha publicitária da banana da Madeira veio transformar esta sua fantasia em realidade. No vídeo promocional, fica-se a saber que "a banana nunca faltou na mesa", que é a fruta que leva para o seu menino na capital espanhola, e quando o craque jogava no Manchester United também transportava a banana da Madeira para terras da senhora majestade. De graça, só o ar e água na fonte. Consta que os honorários andaram nos duzentos mil euros.
Bem, é caso para dizer que Maria Dolores dos Santos Aveiro não deu o rosto pelo vil metal. Essa quantidade de euros, para quem felizmente é abastado, não representa lotaria nenhuma. Um facto não devemos ignorar: a sua imagem, a par do filho mais novo, tornou-se valiosa. O sotaque, óbvio e fortíssimo, encaixa na perfeição no âmbito do anúncio. Paula Bobone sugeriu-lhe, em tempos, terapia da fala. A patroa da etiqueta não teve más intenções, a sugestão não implicava que arrancasse a dicção madeirense, apenas considerou que a articulação das palavras pudesse ficar nítida e perceptível.
MAIS MAGRA.
Emagreceu 18 quilos. Começou a ter cuidado com os alimentos que ingere. Fritos e molhos substituem-se por grelhados, saladas, água. A bicicleta, em casa, comprada pelo Cristiano Ronaldo, e o massagista, que vai ao seu apartamento dia sim, dia não, ajudam a varrer gorduras do corpo. A saúde está rija, mas com o colesterol não se brinca. Na verdade, a preocupação abrange diferente campo: o bem-estar e sentir-se confortável com as suas ancas. É uma mulher que gosta de se aprumar. São de gel, gelinho, as unhas. A cor pode ser o vermelho. Mas não é regra. Pode ser igualmente transparente da forma francesa.
O cabelo é banhado com castanho suave, as madeixas de dourado discreto, as costas apreciam massagens e os pés vibram por tratamento esfoliante. Maria Dolores recebe este firmamento no Cabeleireiro, Estética e Wellness Fatima Oliveira, em Santa Marta do Bouro, Amares, perto da mansão de férias de Cristiano Ronaldo, junto à barragem da Caniçada, na serra do Gerês. "Nunca vem sozinha ao salão." Acompanha-se pelas filhas e netos. Não aparece de surpresa: "Telefona sempre a marcar." E, à hora marcada, Fátima Oliveira não necessita de mandar embora cliente nenhuma. Maria Dolores "é simples e educada". E um bónus: "Tem um grande coração." Lutadora. Corajosa. Não desiste, nem em circunstâncias desesperadas. Emotiva. Sentimental. Teimosa. O amigo que a magoar no dedo pequeno magoa-a na mão inteira. Perdoa, mas nunca mais será a mesma pessoa. Medos, apenas um, o de morrer e de deixar aqueles que ama. O cancro sondou-a na mama e foi chutado. A sua força interior é ilimitada.
VIDA DE POBRE
Nos tempos da pobreza, depois de trabalhar como cozinheira, passava a ferro, esfregava quintais. Não recebia tostão, os vizinhos davam-lhe o ouro para que nada faltasse aos seus filhos: sobras de comida. Entenda-se, antes de cortar na casaca de uma mãe que ampara as lágrimas numa echarpe, que valerá fortunas. Houve olhos que viram, em Vilamoura, no Tivoli Residences, a família Aveiro, à volta da piscina, a beber sumos de pacote e a deliciar-se com sandes artesanais. Maria Dolores sabe o que é riqueza e mais sabe o que é miséria.
O orfanato do Hospício da Princesa Dona Maria Amélia há muito que fechou as portas, contudo, o livro de registo continua aberto. O número 375 diz respeito à criança chegada em 2 de Março de 1962: Maria Dolores dos Santos, que vinha com a irmã Laurentina. Tinha seis anos e não tinha mãe, que tinha morrido aos 37 anos. O pai ficara com o primogénito. Os manos Florentina e o bebé, Jorge, recolheram-se noutro asilo por serem pequeninos. No orfanato não resta nenhuma freira desse período, embora a sua fama "rebelde" continue a ecoar. Desobediente, indisciplinada, evidentemente. "Razões sobravam-lhe para que assim fosse", sentencia uma antiga colega, que prefere o anonimato. "Horas tristes e tempos muito tristes. Faltava-nos carinho e a Dolores revoltava-se imenso." Na casa onde Deus deveria estar mais atento, a progenitora de Cristiano Ronaldo suportou castigos do diabo. Davam com urtigas no rabo quando se descuidava com o xixi, por exemplo. Após várias tentativas de fuga, uma deu resultado mas o que a esperava assemelha-se ao pior dos pesadelos: uma madrasta com mão especialista para o espancamento, e escassez de comida na mesa. A escola só a viu até aos 14 anos. E depois, a obra de vimes, que tanto jeito dava ao pai. A juventude dura culminaria com o casamento. Aos 18 anos quis gozar da sua liberdade e disse sim a um marido que ganhava pouco e que bebia bastante. Operário da construção civil, e roupeiro do clube Andorinha, Dinis Aveiro, que fora seu único namorado, recebia um salário curto. A ida para o Ultramar piorou a dependência do álcool. O primeiro-cabo regressa revoltado. Quatro gravidezes, a última, com o craque da bola no útero, esteve para ser travada, mas a receita caseira para abortar não deu resultado. Maria Dolores comprou cerveja preta, ferveu-a e bebeu-a. E correu, muito. Mas o bebé haveria de nascer com quatro quilos.
Quem vem ao mundo no Machico fervilha pelo futebol. Maria Dolores, mesmo antes de Cristiano Ronaldo se iniciar no Clube de Futebol do Andorinha, já se revelava uma adepta veemente. Quando havia jogos ao fim de semana, ia e levava os filhos consigo e percebeu, desde cedo, o dom que Cristiano Ronaldo possuía. José Bacelar, dirigente desse clube na freguesia de Santo António, Funchal, enfatiza o quão importante foi para Cristiano Ronaldo, aliás, para a família inteira, a figura de Maria Dolores: "Tinha domínio sobre os filhos e também sobre o marido. A autêntica matriarca. Era ela a pessoa que sustentava a família."
Aplausos chegam de várias frentes. Paulo Sousa Costa, autor do livro ‘Mãe Coragem’, editado em 2014, e recentemente em Madrid, defina-a assim: "Uma supermulher, com uma vontade de viver e uma capacidade de sofrimento acima da média. A vida trouxe-lhe dificuldades que levam qualquer ser humano a desesperar, mas D. Dolores disse sempre sim à vida e, acima de tudo, aos seus filhos e nunca desistiu."
Na Feira do Livro, em Lisboa, Helena Sacadura Cabral e Maria Dolores já estiveram juntas a dar autógrafos: "Foi muito agradável o convívio. Eu tenho apreço pessoal por Dolores Aveiro. É uma mulher que nunca teve pretensões de ser diferente do que é." À Maria Dolores não acontece, o que a tantos: "São já poucas as pessoas a quem o dinheiro não sobe à cabeça. Dolores Aveiro continua a ser genuína!"
O principal responsável pela entrada, aos 12 anos, de Cristiano Ronaldo no Sporting, Aurélio Pereira, conta-nos um episódio que considera marcante para que conheçamos a mãe do melhor do Mundo. "Há jogadores que não se transformam em craques por causa das suas mães", frisa. Foi assim: Cristiano Ronaldo zangara-se com a professora no Sporting e, por conseguinte, chamaram-no à atenção. Pela primeira vez teria a possibilidade de ir jogar, como juvenil, à Madeira mas, de castigo, ficou em Lisboa. Outras mamãs viravam-se contra o grupo do Sporting... "Maria Dolores deu-nos razão e chamou a atenção ao filho", conta Aurélio Pereira.
Nascida em 31 de Dezembro, e a caminho dos 62 anos, Dolores namora com José Andrade, ex-militar da GNR, habita no bairro La Finca, em Madrid, para estar perto de Cristiano Ronaldo e, sobretudo, para o ajudar com o seu filho.
Diz-se que Maria Dolores terá sido a primeira a saber que da América do Norte viria um bebé. Também se diz que as namoradas do CR7, se quiserem ter futuro, devem andar pianinho com a possível sogra. Os 55 mil euros que, em Junho de 2015, carregava na bolsa de mão foram motivo suficiente para ser interceptada no aeroporto de Madrid-Barajas. A massa seria para obras.
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