Porquê 2% e não outro número? Entenda a meta de inflação do Banco Central Europeu
Observação casual em televisão neozelandesa tornou-se um mantra global da economia.
A inflação da Zona Euro desacelerou para 1,8% em setembro, segundo uma estimativa rápida do Eurostat, reforçando os argumentos em prol de um novo corte nas taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE). É a primeira vez desde meados de 2021 que a taxa de inflação homóloga se situa abaixo da meta dos 2%. Mas porque é que os 2% são a meta tanto do BCE, como da Reserva Federal norte-americana e de outros bancos centrais no controlo da subida dos preços?
Uma inflação de 2% no médio prazo proporciona uma margem de segurança contra a deflação e flexibilidade suficiente para reduzir as taxas de juro em situações adversas. Para a política monetária, a deflação é mais difícil de combater através do instrumento das taxas de juro, uma vez que em caso de recessão sobra pouca margem para estimular a economia com a redução dos juros.
Esta meta de inflação de 2% no médio prazo é simétrica, ou seja, o BCE considera a inflação abaixo da meta tão indesejável como a inflação acima da meta.
Origem
Em 1988, a Nova Zelândia estava a recuperar de duas décadas de inflação nos dois dígitos. Um ano antes, estava nos 15%. O Governo da Nova Zelândia instruiu o banco central a fazer baixar a inflação.
Numa entrevista televisionada, o então ministro das Finanças da Nova Zelândia, Roger Douglas, anunciou que o Executivo almejava situar a inflação entre os 0% e os 1%. A meta foi estipulada de modo improvisado, mas o Banco Central da Nova Zelândia viu-se forçado a trabalhar em função dela.
A equipa do então governador do Banco Central neozelandês, Don Brash, percebeu que tendia a existir um viés ascendente nos cálculos do custo de vida e estimou que para a Nova Zelândia esse viés era de 0,75%. Arredondaram-no para 1%, o que lhes deu um limite máximo - não muito científico - de 2%. Em seguida, vários outros países adotaram essa meta.
Trajetória de descida
O BCE já reduziu os juros em junho e setembro. Dois cortes consecutivos de 25 pontos baixaram a taxa de juro diretora para os 3,5%. "Os dados confortam-nos. Estamos a caminho da meta dos 2%. A trajetória descendente das taxas de juro é bastante óbvia", sinalizou a presidente do BCE, Christine Lagarde, em setembro.
Os mercados projetam um terceiro corte na reunião de 12 de dezembro, a última do ano. "Os últimos acontecimentos reforçam a nossa confiança de que a inflação regressará à meta de 2% em bom tempo. Levaremos isso em conta na nossa próxima reunião de política monetária em outubro", assinalou Christine Lagarde na segunda-feira.
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