"Em Portugal não se pode governar com base num programa eleitoral verdadeiro, só se ganham eleições com mentiras. Mentiras que vêm escondidas em duzentas ou trezentas páginas que ninguém lê", afirmou o antigo governante numa conferência sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2013, que decorreu em Lisboa.
Na conferência sobre a parte fiscal do orçamento, Henrique Medina Carreira - um dos ministros das Finanças dos governos liderados por Mário Soares - considerou ainda que não será com a receita de impostos que se resolverá o problema.
"Nós não vamos resolver o problema com impostos. Em 1960 e 1970 os impostos correspondiam grosso modo às despesas. A partir de 1980 verifica-se que as colunas amarelas [impostos] são sempre mais pequenas que as lilases [despesa]. (...) Isto demonstra que não era preciso grandes análises, nem grandes divagações", afirmou Medina Carreira.
“ESTADO SOCIAL DEVERÁ FALIR DENTRO DE POUCOS ANOS”
O antigo ministro das Finanças prevê a falência do estado social dentro de poucos anos e diz que, segundo os seus próprios cálculos, em 2020 seriam precisos 120% dos impostos para pensões. "Prevejo dentro de alguns anos, não muitos, a falência do estado social".
"Em 1990 nós gastávamos com o estado Social 67% dos impostos, em 2000 eram 75% e em 2010, 88%. Hoje, praticamente grande parte dos impostos é para o estado social. Toda a gente acha que a saúde tem que ser boa, que a educação tem que ser melhor, que os pensionistas não podem ser atingidos, que os funcionários têm um contrato com o Estado para a vida, é neste entalamento entre aquilo que as pessoas pensam e o que é a nossa realidade que reside o grande problema", afirmou.