Rui Costa e Sousa, maior industrial do bacalhau em Portugal, é um empresário ‘sem papas na língua’ e afirma que, quanto ao ‘fiel amigo’ foi vendida aos portugueses uma verdadeira ilusão de marketing por parte dos noruegueses.
Correio da Manhã – Natal é sinónimo de bacalhau. Os portugueses continuam a gastar o mesmo com o ‘fiel amigo’?
Rui Costa e Sousa – Nota-se que os peixes de tamanhos maiores, que se costumam vender mais nesta altura, não tiveram até agora a saída esperada. Na nossa empresa, estamos a manter as vendas dos outros anos, porque investimos, estamos preparados e ligados aos melhores fornecedores do mundo. Neste negócio só é bem sucedido quem for profissional e tiver experiência. Dou-lhe um exemplo, andei dez anos a carregar navios na Noruega e conheço aquilo bem, não compro bacalhau por fax ou telefone, como muitos outros fazem. Nestes últimos 15 anos houve muita gente que não soube controlar o negócio. Eu, nestes 25 anos, sou o mesmo Rui e a empresa é a mesma, mas no comércio de bacalhau os artistas são sempre os mesmos, mas as empresas mudam de dois em dois anos.
Diz conhecer bem os noruegueses. São eles que dão as cartas em termos de bacalhau?
– Não, isso é tudo marketing. Os noruegueses tentaram mostrar ao mundo que eram os reis do negócio. Nesta última década, a Noruega vendeu muito peixe para aqui, mas ia comprá--lo aos russos, que têm a maior frota mundial. O peixe sai de lá, mas é oriundo da Islândia, do Alasca ou do Canadá e vem para Portugal como norueguês, só porque os portugueses meteram (erradamente) na cabeça que o bacalhau deles é que é bom. Na Noruega há dois tipos de pessoas, os pescadores e uns senhores importantes que compram onde nós também compramos, ou seja, directamente a quem pesca. Os empresários em Portugal fazem um produto acabado melhor. Temos mais condições e somos mais sérios do que eles. Neste momento, o bacalhau que vem de lá, é um bacalhau mal tratado, cheio de humidade. Os grandes clientes são os hipermercados, que não se preocupam com a qualidade, querem é preço. As donas de casa por vezes estão a comprar carradas de água e sal.
Mas isso vai acabar com as novas regras de controlo de qualidade...
– Esperamos que sim, O produto pode comercializar-se das duas maneiras, mas quem compra tem que saber como as coisas funcionam.
Começa a haver interesse no mercado pelo bacalhau ultracongelado demolhado. As suas marcas não o disponibilizam.
– Mas isso vai mudar. Temos de nos adaptar às necessidades das senhoras modernas e por isso, já comprámos uma fábrica para produzir esse produto, que sairá dentro de poucos meses.
Em termos de novos investimentos, o grupo tem-se virado para o Brasil. É uma terra de oportunidades para o bacalhau?
– Sem dúvida. Já lá vendemos bacalhau há cinco anos, mas a dada altura resolvi abandonar a forma como estava a trabalhar. Cheguei à conclusão que no Brasil existem pessoas sérias, mas também muitos que fazem de tudo para não pagar e isso para mim não dá. Daí que resolvi criar uma empresa e já não vendo aos grandes, só aos clientes destes, que já são cerca de cinco mil. Mas, o projecto é mais ambicioso e passa pela construção de uma fábrica que faça lá a transformação para venda. Acreditamos que entre 180 milhões de brasileiros teremos mercado para vender o mesmo que vendemos em Portugal.
Rui Costa e Sousa tem 50 anos e começou a trabalhar cedo no ramo do bacalhau, com uma pequena distribuidora. Hoje gere com o irmão um dos principais grupos de importação e comércio de bacalhau.
Tem quatro filhos (três raparigas estudantes e um rapaz de 8 anos), que espera estarem à altura do legado paterno.
B. I.: ALTA QUALIDADE
Rui Costa e Sousa & Irmão, SA, tem sede em Tondela, mas divide o seu centro de actividade com a Gafanha da Nazaré, Ílhavo, e vários entrepostos em todo o País.
Às duas unidades de transformação do grupo chega o bacalhau fresco comprado directamente na Noruega, Rússia, Islândia e Alasca, para ser seco à moda portuguesa. Com vendas de nove mil toneladas/ano, o grupo factura cerca de 50 milhões de euros, o que o coloca como líder do sector, com a marca ‘Alta Qualidade’.
A sua mais recente estratégia passa pelo mercado brasileiro, onde criou uma firma própria para distribuição, a partir de São Paulo. A escassos meses de abrir uma segunda filial no Rio, o grupo exporta bacalhau no pouco mais de três milhões de euros, sendo 70% para o Brasil.
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