“No meu bairro ninguém me revista”
Agentes pretendiam deter um homem por tráfico de droga, mas foram recebidos ao murro e pontapé. Dois suspeitos foram detidos por agressões.
O que seria apenas mais uma operação de rotina para a PSP de Oeiras acabou por tornar-se um pesadelo para cinco dos agentes que dela fizeram parte. Foram recebidos de forma pouco amistosa no bairro social da Quinta da Politeira, freguesia de Barcarena, Oeiras, e atacados a murro e pontapé quando tentaram deter um suspeito de tráfico de droga. Dois deles tiveram mesmo de receber cuidados médicos no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa.
O suspeito já era bem conhecido das autoridades por associação ao mundo da droga. Uma patrulha da PSP deslocou-se ao local, anteontem, pelas 15h00, para detê-lo em flagrante delito a traficar estupefacientes. Quando o abordaram, o suspeito deixou um aviso bem claro aos agentes: 'No meu bairro ninguém me revista'.
De imediato, o suspeito começou a agredir a soco e pontapé os agentes que o abordaram, protegido pelas pessoas que, rapidamente, se juntaram ao redor. Num ápice, os agentes viram-se em número inferior e, para piorar o cenário, começaram também a ser agredidos pelo irmão do traficante – um homem bastante corpulento –, que entretanto chegou ao local.
Em inferioridade numérica, os agentes viram-se obrigados a pedir reforços a outras patrulhas, tendo sido destacada ainda para a zona dos incidentes uma Equipa de Intervenção Rápida da PSP. Em poucos minutos, dezenas de pessoas concentraram-se no local, entre as quais a mãe dos irmãos, acompanhados de várias outras mulheres, que insultaram os agentes. Já com o contingente reforçado, os polícias tentaram afastar as pessoas. Foi aí que entrou em acção mais um agressor. 'Aqui ninguém bate em mulheres', disse, ao mesmo tempo que também ele começou a agredir os agentes.
Durante vários minutos o caos instalou-se naquele bairro social e, com tanta confusão, o suspeito inicial – aquele que as autoridades pretendiam deter por tráfico de droga – aproveitou para fugir do local, acabando apenas por ser detidos o irmão do mesmo, bem como o morador que agrediu os agentes em último lugar. A PSP ainda perseguiu o suspeito, mas este fugiu. Dois agentes foram assistidos e tiveram alta.
BAIRRO NOVO TEM 480 HABITANTES
A Quinta da Politeira tem existência registada desde 1756. O Bairro Municipal da Quinta da Politeira, na freguesia de Barcarena, foi construído por iniciativa da Câmara de Oeiras – que financiou uma parte – em 1996 e levou dois anos para ser concluído. Com uma área de 12 145 metros quadrados, começou a ser habitado em 1998. O bairro é um projecto do arquitecto Manuel Adelino e é constituído por 160 fogos. Tem 480 habitantes, sendo 147 famílias arrendatárias da câmara e 13 são proprietárias. Ao longo dos anos o bairro tem sofrido várias alterações.
DISCURSO DIRECTO
'SENTE-SE A IMPUNIDADE': António Ramos, Pres. Sindicado Profissionais de Polícia
Correio da Manhã – São muitos os casos de polícias agredidos?
António Ramos – São à média de quatro a cinco por dia. Tem-se registado um aumento acelerado de agressões a agentes.
– Porquê?
– Porque há um sentimento de impunidade desde que foi aprovada a lei de 2001. Defendemos que deveria haver o processo sumário. Quem comete crimes deveria ser logo presente ao juiz, julgado e punido. E se não fosse logo julgado deveria esperar em prisão e não em liberdade. Depois, muitos nem sequer se apresentam e alguns até fogem.
– Há muitos casos?
– Sim. Principalmente de cidadãos estrangeiros. Deveriam ser extraditados e julgados e condenados nos países de origem.
QUATRO AGRESSÕES POR DIA
Por dia são agredidos cerca de quatro agentes da PSP por todo o País, num total de 1460 todos os anos. É esta a convicção do presidente do Sindicato Nacional de Polícia, Armando Ferreira, que fez recentemente esta revelação em Madrid, durante um encontro de sindicatos europeus do sector.
Este responsável sindical disse, no mês passado, que muitas destas agressões não chegam sequer a fazer parte dos relatórios da PSP, já que muitas 'acontecem no decorrer de acções policiais e que ficam encobertas pelo facto de haver necessidade do recurso à força nas mesmas. Muitas das vezes não constam das estatísticas'. Devido ao número de agressões, decorre mesmo a nível europeu uma campanha contra a violência a agentes da autoridade.
No entanto, e tendo em conta o Balanço Social 2008 da PSP, os números são completamente diferentes. O relatório denuncia apenas 177 vítimas de agressões, 18 delas com ferimentos graves. Segundo o documento elaborado pela força, 152 dessas agressões tiveram lugar na via pública e 11 dentro das esquadras. Do total de agredidos, nove eram mulheres.
OUTROS CASOS
BELA VISTA A FERRO E FOGO
Na Bela Vista, Setúbal, há um ano, agentes da PSP foram alvo da ira de jovens, que chegaram a disparar sobre a esquadra e arremessaram cocktails molotov contra patrulhas.
QUERIAM MATAR POLÍCIA
Dois dos cinco homens que assaltaram uma bomba em Setúbal, a semana passada, revelaram ao juiz que queriam matar um polícia para vingar as mortes de Antonino (gang do multibanco) e ‘MC Snake’.
FERIDOS NO FIM DO MUNDO
Um jovem de 19 anos detido, dois polícias feridos, pedradas contra a PSP, gás-pimenta e tiros de shot-gun contra os moradores marcaram o bairro Fim do Mundo, Carcavelos, há um ano.
NOTAS
LISBOA: AGREDIDOS NO TRIBUNAL
Dois grupos de jovens envolveram-se em agressões após uma leitura de sentença no Campus de Justiça, Lisboa, em Janeiro. Dois agentes foram agredidos e um jovem detido
BEJA: À PORTA DA ESQUADRA
Dois agentes da PSP de Beja foram agredidos, em 2008, por um jovem, de 18 anos, à porta da esquadra, depois deste ter sido interrogado. Os agentes foram hospitalizados
OEIRAS: DETIDO EM HÍPER
Um jovem de 18 anos agrediu dois agentes da PSP dentro do Intermarché de Porto Salvo, Oeiras. O suspeito recusou identificar-se e partiu para a agressão, acabando detido
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