Seduz e rouba chefe da PSP entre quinze novas vítimas
Paula Neves atacou de norte a sul até à última semana. Drogava homens que atraía na internet.
Paula leu no CM que um entre dezenas de homens que seduziu e drogou, para roubar, lutava pela vida em Viseu, no hospital, mas valeu-lhe um amigo da Judiciária. Este ensinou à burlona, já identificada, que por lei só tinha de se apresentar. Afastava o perigo de fuga e ficava à solta. Assim fez, numa esquadra de Lisboa, em Fevereiro de 2009. Depois faltou a vários julgamentos, foi fintando a Justiça e, só desde então, já fez mais de 15 vítimas de norte a sul do País. Entre elas até há um chefe da PSP, que a ex-prostituta atraiu para um encontro marcado pela internet, em Lisboa, a 30 de Outubro.
A saga de Paula Neves, aos 40 anos, só parou na última quarta-feira – foi presa numa pensão de Setúbal por agentes da Divisão de Investigação Criminal da PSP de Lisboa. Ficou em prisão preventiva, pela primeira vez, depois de drogar e roubar dezenas de homens e mulheres.
O caso do chefe ‘Ramos’ (nome fictício), da PSP, foi só um dos últimos. Seduzido em conversa no portal Terra à Vista para um encontro sexual, acabou drogado com comprimidos num restaurante chinês, em Lisboa, e só se lembra de acordar no dia seguinte, dentro do seu carro. Além de dinheiro e cartões multibanco, até a carteira profissional da PSP Paula Neves (neste caso apresentou-se como ‘Alice’) lhe roubou.
O modus operandi, no caso dos homens, é quase sempre este. Sedução pela internet, adormecidos por comprimidos colocados em bebidas e roubados. O excesso de dosagem já deixou vítimas amnésicas; algumas ficaram entre a vida e a morte.
Mas o repertório de Paula é bem mais vasto, roubando taxistas e mulheres, com diferentes esquemas, ou burlando hotéis. Além das dezenas de casos antigos, conhecidos em todo o País, a PSP tem agora mais sete situações apuradas – três em Lisboa, uma em Faro, Setúbal, Almada e Porto – e oito em investigação: sete em Lisboa e uma em Vila Franca de Xira.
A 12 de Outubro, em pleno centro de Lisboa, nem uma idosa escapou: Paula Neves foi a casa da vítima, fazendo-se passar por assistente social, e roubou-lhe 1700 euros.
APANHADA NA PENSÃO BOCAGE COM NOME FALSO
Paula Neves sempre foi vista pelas polícias como pessoa astuta e de difícil localização, uma vez que reside em pensões e hotéis durante curtos períodos de tempo. A PSP acabou por receber uma ‘dica’ de que a burlona estaria em Setúbal e, após acções de vigilância, acabaram por detectá-la na pensão Bocage, em Setúbal, na última quarta-feira. Paula Neves estava hospedada com um nome falso – Ana Costa – e, abordada por agentes da PSP, acabou por autorizar uma revista ao quarto 113. Ainda tinha na sua posse vários pertences e cheques das vítimas com quantias avultadas.
DROGAS LEVARAM VÍTIMA DE ROUBO A SOFRER UM ACIDENTE DE CAMIÃO
Dra. Manuela da Guarda. Foi com este nome que Paula Neves se apresentou a um homem de 46 anos no chat Clube da Amizade, na internet. Em 27 de Janeiro de 2009, marcaram um encontro sexual em Viseu, mas nunca chegaram a ter relações. Em vez disso, a vítima acabou drogada, depois de Paula Neves ter colocado uma substância dopante numa garrafa de sumo no parque de estacionamento de uma grande superfície. Uma vez que a vítima se começou a sentir mal, Paula e o cúmplice foram pedir ajuda à segurança do hipermercado (onde foram captadas as imagens de videovigilância a que o CM teve acesso). Levaram-no de táxi ao Hospital de Viseu, de onde saíram uma hora mais tarde para levantarem 1600 euros do cartão da vítima, que ficou internada. Esta acabou por fugir do hospital durante a noite. Meteu-se ao volante de um camião TIR e sofreu um acidente, ao que tudo indica por ainda não estar totalmente recuperado.
SUMO 'ENVENENADO' QUASE MATAVA TAXISTA
Numa praça de táxis da Figueira da Foz, quase todos conhecem Paula Neves, a quem tratam por ‘doutora’, uma vez que é uma cliente assídua. Em Novembro de 2009, a burlona solicitou o serviço de um taxista, de 61 anos. Ernesto Cardoso acabou drogado, roubado e envolvido num acidente de automóvel, já em Vila Nova de Gaia. Foi salvo por uma médica, a condutora do carro com que chocou. Nesse mesmo dia, Paula Neves faltou a uma comparência no Tribunal de Santarém, onde deveria ser ouvida por ter enganado a dona de um quarto que tinha arrendado.
Paula Neves pediu a Ernesto uma ida até Aveiro. Ainda passaram pelo hotel onde estava hospedada, foram a Aveiro, passaram na rua de Santa Catarina, no Porto, e acabaram num centro comercial na Foz. Mais tarde, foram para Vila Nova de Gaia, sob o pretexto de a burlona ir lá esperar uma amiga à central rodoviária. Nessa altura, Paula Neves ofereceu um ‘presente envenenado’ ao taxista: um sumo que o deixou "meio a dormir".
O taxista, que é diabético, sabe apenas que entregou um anel, uma aliança e 105 euros à burlona, e que acordou no dia seguinte no Hospital de Vila Nova de Gaia, altura em que recuperou a consciência.
Pelo meio, Ernesto Cardoso pegou no seu táxi e colidiu com a viatura de uma médica, que acabou por o socorrer. Nessa altura, em finais do ano passado, a burlona Paula Neves esteve cinco dias num hotel da Figueira da Foz, que deixou sem pagar a conta.
SÓSIA RESPONDIA A ANÚNCIOS DE HOMENS E BURLA-OS
Uma outra burlona tornou-se igualmente conhecida em Viseu, em Dezembro passado, por se ter apropriado de 58 mil euros de dois homens, a quem prometeu juras de amor. Pensando ter encontrado em Maria, 55 anos, a mulher da sua vida, Mário (nome fictício), ex--bancário, de 60, entregou à burlona 55 mil euros. Outro homem, de 71, seduzido pelo mesmo método, ficou sem três mil euros. Suspeita de crimes idênticos em outros pontos do País, a burlona disse na altura ao CM que pediu apenas "dinheiro emprestado" e que o ia devolver.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt