Superbactéria mata homossexuais nos EUA

Uma variante da bactéria Staphylococus aureus, multirresistente a antibióticos, incluindo a meticilina (um dos mais poderosos), já há alguns anos conhecida nas unidades de saúde, começou a aparecer fora do meio hospitalar nas comunidades homossexuais de São Francisco, Boston, Nova Iorque e Los Angeles, segundo um estudo da Universidade da Califórnia, a publicar em Fevereiro na prestigiada revista científica ‘Annals of Internal Medicine’.

16 de janeiro de 2008 às 13:00
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Os autores do estudo apontam esta infecção como a causa da morte de 19 mil norte-americanos em 2005.

Em Portugal, segundo Cristina Costa, coordenadora do Programa de Infecções Hospitalares Multirresistentes da Direcção-Geral da Saúde, ainda “não há conhecimento de casos na comunidade”. Salvaguardando não ser especialista na estirpe comunitária, “diferente da hospitalar”, Cristina Costa explicou ao CM que a variante multi e meticilino-resistente da Staphylococus aureus (responsável por infecções na pele) é “conhecida nos hospitais há alguns anos” e tende a ocorrer em pessoas fragilizadas”, como idosos e doentes em cuidados intensivos.

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A especialista acrescenta que “lá fora começa a falar-se no aparecimento desta estirpe na comunidade gay”, como indica o estudo norte-americano. Questionada sobre o porquê da especial incidência nos homossexuais, sugeriu tratar-se de uma população “imunodeprimida e com mais lesões cutâneas”, logo mais propícia ao contágio.

Já o ex-director da Comissão Nacional de Luta contra a Sida (CNLS), Machado Caetano, lembrou ao CM que o aparecimento de estirpes bacterianas multirresistentes são “um problema de saúde crescente nos países desenvolvidos, que mais acesso têm aos antibióticos”.

Garantindo que “todos os médicos de clínica geral já se depararam com a Staphylococus aureus multirresistente”, Machado Caetano explicou ao CM que a meticilina é “um dos antibióticos mais poderosos” e que um organismo que a ele resista “torna-se um problema grave”.

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O imunologista prefere descrever a estirpe do artigo como uma “infecção reemergente”, que implica “tomar todos os cuidados” por parte do pessoal de saúde nos hospitais e pelas pessoas na comunidade.

No que respeita à maior vulnerabilidade dos homossexuais (“homens que tenham relações sexuais com outros homens”, na descrição do artigo científico), o anterior responsável pela luta contra a sida entende que “este é um primeiro estudo” e que, portanto, “tem de ser confirmado por outros investigadores”.

Os autores do estudo chamam à nova estirpe USA300 e concluíram que o risco não está relacionado com o da sida, apesar da transmissão ocorrer por via sexual. A maioria das infecções localizou-se nas nádegas, órgãos genitais e períneo.

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"PRESERVATIVO É CUIDADO BÁSICO"

Alertado pelo CM para a existência desta superbactéria, o activista gay António Serzedelo defendeu que cabe “ao Ministério da Saúde e à coordenação nacional do VIH/sida difundir os avisos necessários”.

Insistindo na necessidade de “cuidados básicos, como o uso do preservativo quando se tem relações sexuais com estranhos”, Serzedelo mostra-se convicto de que não é necessário um alerta especial para os viajantes, até porque “a bactéria pode perfeitamente vir dos EUA para cá através de um qualquer indivíduo, norte-americano ou não”.

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Em especial, o ex-presidente da Opus Gay deixa uma advertência aos que frequentam os “locais de sexo intensivo”, como “as saunas ou os back-rooms às escuras”. Particularmente nestes últimos, ninguém sabe quem tem sexo com quem, o que na opinião do activista é “repugnante”. Isto “não por moral, mas pelo culto do hedonismo e pelo desrespeito pela própria vida e pela de terceiros”.

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