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Autópsia a Dino revela cocaína

Francisco Adam (o ‘Dino’ da série ‘Morangos com Açúcar’, em exibição na TVI) consumiu cocaína pouco tempo antes do acidente de automóvel em que perdeu a vida, no Domingo de Páscoa, 16 de Abril – e conduziu ainda sob o efeito da droga.
19 de Maio de 2006 às 13:00
Francisco Adam tinha 22 anos. Na madrugada de Domingo de Páscoa morreu ao volante num cruzamento perigoso após uma sessão de autógrafos na discoteca Clube In Campo, em Coruche
Francisco Adam tinha 22 anos. Na madrugada de Domingo de Páscoa morreu ao volante num cruzamento perigoso após uma sessão de autógrafos na discoteca Clube In Campo, em Coruche FOTO: Vítor Mota
Segundo fontes médicas que tiveram acesso aos resultados dos exames toxicológicos ao cadáver, os especialistas do Instituto de Medicina Legal, em Lisboa, encontraram cristais de cocaína (erytbronxylon, o nome científico) em “quantidade relativamente significativa”.
As análises revelaram ainda no corpo de ‘Dino’ vestígios de anfetaminas e cafeína – estimulantes que habitualmente são adicionados à cocaína para aumentar o volume e potenciar os efeitos.
FUROR NA DISCOTECA
Francisco Adam passou as últimas horas de vida na discoteca Clube In Campo, em Coruche: chegou cerca da meia-noite e participou numa longa sessão de autógrafos, que reuniu quase um milhar de fãs, até perto das três e meia da madrugada de domingo.
O actor deslocou-se à discoteca ao volante do seu Renault Clio, na companhia dos amigos Filipe Diegues e Osvaldo Serrão. Francisco Adam, ao fim de três horas e meia a distribuir autógrafos, pediu música da banda Outwork e dançou durante uma boa meia hora ao ritmo intenso e acelerado. A cocaína, segundo um médico contactado pelo CM, estimula o sistema nervoso central e produz agitação.
O actor e os amigos abandonaram a discoteca por volta das 04h00. Francisco Adam seguiu ao volante, Osvaldo Serrão no banco ao lado e Filipe Diegues atrás. No final da estrada nacional 119, no entroncamento com a 118, o condutor perdeu o controlo do carro: o Renault Clio embateu nos separadores, seguiu em frente e esmagou-se contra eucaliptos. Francisco Adam, de 22 anos, teve morte imediata. Filipe sobreviveu com ferimentos ligeiros. Osvaldo Serrão, gravemente ferido, lutou durante 12 dias em Santa Maria até que foi transferido, a 28 Abril, para o Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde morreu.
Segundo as nossa fontes, as análises clínicas a Osvaldo também revelaram vestígios de cocaína. “Não sei o resultado das análises e da autópsia”, disse ao CM o irmão, Marco. Ontem, o CM tentou sem êxito contactar os pais de Francisco Adam.
REACÇÃO A PERIGOS FICA MAIS LENTA
O consumo de substâncias estupefacientes como a cocaína afecta principalmente as capacidades psicomotoras dos condutores. Ou seja, as drogas induzem uma sensação de euforia, alteram a percepção visual e dilatam os tempos de reacção a situações perigosas, como explicou ao CM um médico legista.
“Um condutor que não tomou nada consegue aperceber-se de determinados perigos e reagir, em tempo útil, aos mesmos. Mas, em alguém que conduza sob o efeito de estupefacientes, a reacção fica lentificado. Isto é, a reacção a um determinado perigo é mais lenta”, disse o clínico. “Além disso, a pessoa perde a noção dos comportamentos e das consequências do mesmos”, acrescentou.
SEGURO NÃO VALE EM CASO DE DROGA
A morte do condutor num despiste de automóvel, que provoque também a morte a um passageiro, complica o processo de pagamento de seguros. “Se não houver mais ninguém que possa ter causado o acidente, a morte do condutor elimina a responsabilidade no desastre e os herdeiros não podem exigir indemnizações ”, diz ao CM fonte de uma seguradora. A companhia paga apenas a apólice a terceiros e a ocupantes nos casos em que o seguro do veículo os inclua. Mas as famílias das vítimas podem recorrer aos tribunais para conseguir da seguradora um valor superior. O recurso à Justiça demora anos. Caso seja paga a apólice a terceiros ou a ocupantes do carro causador do acidente e a seguradora concluir que o culpado do desastre estava sob efeito de drogas ou álcool, a companhia pode exercer o direito de regresso com vista à devolução do dinheiro. “Caso não se verifique a devolução voluntária, o que é mais frequente, terá de ser o tribunal a decidir”, disse a mesma fonte.
FAMÍLIA
INDEMNIZAÇÃO
Marco Serrão, o irmão de Osvaldo, confirmou ontem ao CM que a família ainda não recebeu qualquer dinheiro relativo ao seguro, uma verba que deverá ser paga, disse, pela “seguradora do carro”. “Estamos à espera que venham cá as pessoas da seguradora, mas ainda não fomos contactados”, afirmou.
PROCESSO AO HOSPITAL
O processo aberto pela família de Osvaldo Serrão ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, está a decorrer, disse Marco Serrão. “Está tudo entregue ao advogado, que nos aconselhou a não prestar quaisquer declarações sobre isso”, afirmou o irmão de Osvaldo.
MORTE EM ALMADA
Os familiares garantem que, após ser transferido de Santa Maria, Osvaldo terá ficado horas no corredor do Hospital Garcia de Orta à espera de um quarto, mas a direcção hospitalar diz que “foi necessário perceber a situação clínica para o poder encaminhar”.
DROGA AO VOLANTE
10 por cento dos intervenientes em acidentes de viação, no ano passado, acusaram a presença de estupefacientes.
5 por cento de todas as vítimas mortais – condutores, passageiros e peões – também estavam sob efeito de estupefacientes.
219 foram as autópsias realizadas na delegação do Norte do Instituto de Medicina Legal (IML). Doze acusaram positivo.
50 por cento dos casos positivos detectados no IML de Coimbra acusaram a presença de cocaína.
43 condutores sujeitos a exame no IML de Lisboa estavam sob o efeito de drogas, na maioria dos casos cocaína e canabinóides.
35 amostras positivas foram detectadas no IML do Porto, mas não foi possível determinar a categoria dos intervenientes.
NOTAS
CRIME: EXTINÇÃO
O processo-crime na sequência deste acidente extinguiu-se com a morte de Francisco Adam. Foi arquivado pelo Ministério Público.
DROGA: TESTE RÁPIDO
O Governo aprovou, a 23 de Março, o teste rápido à droga nas estradas portuguesas. Até final do ano estará nas mãos da Polícia.
POSITIVO: EXAME
A amostra é recolhida através de um ‘kit’. Sempre que o resultado for positivo, o condutor será submetida a um exame médico.
CONDIÇÕES: RESTRITAS
Por enquanto, a Polícia só pode realizar testes à droga – canábis, heroína, cocaína e até anfetaminas – em condições restritas.
DGV: AUTORIZAÇÃO
Antes de entrarem em funcionamento os equipamentos de fiscalização têm que ser aprovados pela Direcção-Geral de Viação.
ACTOR ACUSADO DE ATROPELAR E FUGIR
O actor Pedro Teixeira, o ‘Simão’ da segunda série de ‘Morangos com Açúcar’, está acusado de atropelamento e fuga. O caso remonta à noite de 5 de Maio de 2002, quando João Guinote, um fotógrafo de 34 anos, conversava com dois amigos numa zona de bares, em Almada, e levou “uma pancada” de um condutor que se pôs em fuga. Partiu “um pé”, mas ainda viu a matrícula do Ford Fiesta – o carro do actor dos ‘Morangos’.
Contactado pelo CM, o actor confirma que naquela noite passou no local, mas diz-se “inocente”. “Passa sempre tanta gente naquela rua [Capitão Leitão, junto ao Incrível Almadense], que esse senhor tirou a minha matrícula mas fez confusão com o carro”, garante Pedro Teixeira.
Certo é que o caso chegou à barra do Tribunal de Almada e, no último dia 5, João Guinote e Pedro Teixeira foram ouvidos, tal como as respectivas testemunhas. O antigo actor dos ‘Morangos’ foi constituído arguido e responde por omissão de auxílio na sequência de atropelamento. Haverá, inclusive, uma perícia ao local do acidente no próximo dia 31.
João Guinote não desiste e recorda que estava junto ao passeio quando surgiu o Ford Fiesta que lhe passou com a roda por cima do pé. Depois, continuou a marcha e “foi visto mais à frente a abrandar a marcha e a olhar para trás”.
De pé partido, e imobilizado durante 45 dias, a vítima apresentou queixa na PSP e diz que avisou os pais do actor. Nunca recebeu um pedido de desculpas, “não quiseram logo assumir a culpa” – mas garante que “acabaram por lhe admitir que tinha sido um erro da parte dele”.
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