São vários os mails entre Nuno Cabral, ex-delegado da Liga, e Paulo Gonçalves, agora tornados públicos pelo blog Mercado de Benfica, que envolvem o ex-assessor jurídico dos encarnados.
Vinte horas depois da primeira tentativa de divulgar as conversações roubadas por Rui Pinto, o hacker mais procurado do país, conhecem-se os conteúdos de centenas de mensagens trocadas em 2014.
Sabe-se, por exemplo, que o ex-delegado da Liga ‘trabalhava’ para as águias e pelo teor das conversas parecia fazer o ‘acompanhamento’ das equipas de arbitragem. Com dez anos de diferença, a história muda de cidade e de emblema futebolístico, mas parece voltar a repetir-se. Paga-se sexo com outro nome de código que não ‘fruta’.
Nos mails pede-se ‘discoteca’ e ‘camisolas’. Os nomes dos jogadores reportam para o nome das acompanhantes. Que cobravam 200 euros, se tivessem apenas um cliente; duplicavam o preço, se fossem dois.
Nuno Cabral, que o
CM tentou, sem êxito, contactar através de telefone e do envio de mensagens, nunca explicou o motivo de mandar fotos de mulheres, com nomes, números de telefone e preços.
E porque o fazia para o amigo Paulo Gonçalves, a quem pediu um "aumento mensal de mil euros" pelos serviços prestados aos benfiquistas.
As conversações agora tornadas públicas não deixam dúvidas sobre o encriptamento das conversas. Sabiam ambos que a ‘oferta’ de serviços de sexo podia configurar o crime de corrupção.
Por isso, Nuno Cabral nunca dizia o nome a quem se destinavam os bilhetes. Usava iniciais e dizia que precisava para ele, ‘meu irmão e minha irmã’ de casacos ou camisolas.
Outros mails agora tornados públicos dão conta de que esses encontros aconteciam numa unidade hoteleira na capital, não muito longe do estádio. O hotel de cinco estrelas era pago pelo Benfica e os quartos marcados para a noite imediatamente a seguir ao jogo.
Reservas enviadas para Gonçalves As reservas efetuadas num hotel de luxo em Lisboa, a maioria de apenas uma noite, eram em nome de Paulo Gonçalves e enviadas para o seu mail.
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Camisolas L’ de Matic e Markovic Num mail, datado de dois de janeiro de 2014, Nuno Cabral pede uma camisola de tamanho L dos jogadores Matic e Markovic. Pede ainda um casaco de treino.
Amigas da Damaia e de Campolide Nuno Cabral identifica as jovens da Damaia e de Campolide pelo primeiro e último nome. Envia também os seus contactos telefónicos.
Vieira controlava bilhetes Numa troca de mails com Paulo Gonçalves, a oito de janeiro de 2014, sobre a oferta de bilhetes, Luís Filipe Vieira deixa claro que esse assunto só pode ser tratado com ele. Gonçalves perguntava se podia falar com Ana Zagalo, funcionária do clube, mas o presidente do Benfica diz-lhe para não o fazer: "Tenho em meu poder os bilhetes possíveis para oferecer", responde Luís Filipe Vieira.
Em causa estava uma partida em casa frente ao FC Porto. O ex-assessor jurídico da SAD dava conta de que precisava de 11 convites.
No processo E-Toupeira, no qual a SAD do Benfica foi acusada da prática de 30 crimes, entre os quais corrupção, o procurador Valter Alves refere que todas as decisões de Paulo Gonçalves, designadamente a oferta de bilhetes e merchandising do clube às ‘toupeiras’, eram do conhecimento de Luís Filipe Vieira.
O presidente dos encarnados nega conhecer a motivação das ofertas.
Alegada lista de convites a juízes O nome de António Joaquim Piçarra, presidente eleito do Supremo Tribunal de Justiça, surge numa alegada lista de juízes convidados para os jogos do Benfica. No total, a lista tem 45 juízes desembargadores e conselheiros, mas não é claro o contexto da mesma informação, nem para que é que era usada.
Alguns blogs lançavam esta quarta-feira suspeitas sobre os magistrados judiciais, mas, questionado pelo
CM, o juiz conselheiro António Piçarra refere que, ao longo da sua vida ativa, recebeu convites de vários clubes.
"Nunca aceitei nenhum e sempre que fui a um jogo paguei o bilhete", disse ao
CM.
O Benfica desmente a notícia do Correio da Manhã num Direito de Resposta.