Apesar da diminuição da sinistralidade rodoviária e das operações de fusão ocorridas no sector segurador nacional, Portugal continua a ser o País da União Europeia (UE) onde o custo da reparação automóvel é mais caro.
“Em termos médios, a reparação de cada sinistro está a custar mil euros”, afirmou ao Correio da Manhã Alvarez Quintero, presidente da Comissão Automóvel da Associação Portuguesa de Seguradores (APS). Aquele responsável referiu ainda que “se está a fazer um esforço para baixar um valor que continua a ser o mais elevado da Europa”.
A APS realizou um estudo comparativo em 2005, sobre os custos de reparação automóvel (denominados em Paridades do Poder de Compra – eliminando a diferença de preços que existem entre os vários países), e chegou à conclusão de que os preços em Portugal superam o dos restantes países, em virtude do recurso sistemático à substituição de peças, ao custo de mão-de-obra e à falta das chamadas redes de oficinas preferenciais (com acordos celebrados com as companhias de seguros).
O principal factor que encarece a reparação de um automóvel é o custo das peças. Os mecânicos nacionais preferem substituir peças (muitas vezes por peças de origem a pedido do próprio cliente) a ter de repara--las. Segundo dados da APS, a taxa de substituição de peças em Portugal é de 76 por cento contra 63 por cento em Inglaterra e 50 por cento em Espanha. Esta opção é explicada, em parte, pelo facto dos reparadores terem uma maior margem de lucro nessa substituição.
Outro factor é a baixa utilização de peças de qualidade equivalente, mas de custo inferior à peça original. Em Portugal apenas substituímos 15 por cento de peças do tipo equivalente, metade do que é realizado em Espanha.
Uma razão importante para este nível de custos tem a ver com o elevado número de oficinas de pequena dimensão que existem. Uma premissa que é partilhada pelo secretário-geral da Associação Nacional das Empresas de Reparação Automóvel (ANECRA). Para Neves da Silva “há oficinas a mais”.
“Os carros estão tecnologicamente mais evoluídos, o que faz com que só necessitem de ir à garagem de 50 em 50 mil quilómetros. Existem também razões de ordem económica que fazem com que, em tempos de crise, as pessoas retardem o mais possível a imobilização da viatura e, por último, existe uma grande concorrência entre oficinas”, diz Neves da Silva.
Segundo aquele responsável, o futuro passa pelas redes associadas de várias oficinas, aproveitando as economias de escala. Em Espanha cada oficina repara, em média, cerca de 600 automóveis por ano, em França esse número é de 560 veículos, em Inglaterra sobe para os 750, enquanto em Portugal se fica pelos 168.
Segundo o estudo da APS existe ainda um grande potencial de aperfeiçoamento ao nível do serviço prestado ao cliente final, nomeadamente ao nível da certificação das oficinas. Neste domínio a ANECRA tem desenvolvido um conjunto de iniciativas importantes, de que um dos exemplos é a rede de oficinas padronizadas denominada RINO, que presta serviço junto de grandes clientes, como é o caso dos gestores de frotas.
CUSTOS DE REPARAÇÃO
CUSTO MÉDIO DE REPARAÇÃO AUTOMÓVEL (Ajustdao pela paridade do poder de compra)
Portugal - 1.409 euros (Pintura, 73 euros / Mão-de-obra, 464 euros / Peças, 872 euros)
Espanha - 764 euros (Pintura, 64 euros / Mão-de-obra, 302 euros / Peças, 338 euros)
França - 921 euros (Pintura, 91 euros / Mão-de-obra, 373 euros / Peças, 457 euros)
TAXA DE SUBSTITUIÇÃO DE PEÇAS
Portugal - Peças reparadas, 21% / Peças substituídas, 79%
Espanha - Peças reparadas, 50% / Peças substituídas, 50%
Reino Unido - Peças reparadas, 37% / Peças substituídas, 63%
HORAS MÉDIAS DE MÃO-DE-OBRA (Custo médio de mão-de-obra, reparação)
Portugal - 18,6 horas / 464 euros (Preço por hora de mão-de-obra, 25 euros)
Espanha - 12,2 horas / 341 euros (Preço por hora de mão-de-obra, 28 euros)
França - 14,4 horas / 505 euros (Preço por hora de mão-de-obra, 35 euros)
Reino Unido - 21,3 horas / 745 euros (Preço por hora de mão-de-obra, 35 euros)
O PROBLEMA DA "PERDA TOTAL"
Neves da Silva acusa as seguradoras de exagerarem nos casos de “perda total” (uma das matérias que será regulamentada na legislação a publicar pelo Governo). “Quando as companhias dizem ao sinistrado que existe uma ‘perda total’, indemnizam sem ter em consideração o IVA. Quando o automobilista leva o carro para reparar numa oficina, raramente tem dinheiro, uma vez que à reparação se deve somar a cobrança do IVA”, refere.
UMA FACTURA DE 2.889 EUROS
No final de Setembro de 2005, por volta das 06h30 da manhã, um Opel Vectra bateu numa carrinha na Avenida de Ceuta. Não houve feridos, mas o Opel sofreu vários danos que o impossibilitaram de continuar a marcha. O condutor chamou o reboque e colocou o carro a arranjar numa oficina na Amadora. A reparação durou três semanas (o triângulo da suspensão teve de vir da Alemanha).
Foi necessário substituir o pára-choques da frente, um farol dianteiro, o guarda-lamas e dois amortecedores, entre outros componentes. A factura da oficina foi de 2889 euros. Só a chapa e a pintura custaram 650 euros e a mecânica acrescentou-lhe mais 115 euros. A mão-de-obra também foi contabilizada e, no final de tudo, o IVA deu ‘uma ajuda’. Foram 501,54 euros de Imposto Sobre o Valor Acrescentado, a tornar mais difícil o pagamento da despesa.
PRODUTIVIDADE
Portugal tem um valor médio de custo de mão-de-obra de cerca de 25 euros/hora. No entanto, a produtividade é das mais baixas da Europa, o que leva a que as reparações demorem mais tempo.
ENCAMINHAMENTO
A taxa de encaminhamento para oficinas preferenciais é, em Portugal, de pouco mais de dez por cento, quando em Inglaterra é de 81 por cento e em França de 65 por cento.
153 MILHÕES DE EUROS
O custo total de acidentes regularizado através do sistema de Indemnização Directa ao Segurado (IDS) foi, em 2005, de 153 milhões de euros, o mais baixo desde 2000. A explicação para este resultado está, na sua maior parte, na forte diminuição da sinistralidade ocorrida nos últimos anos.
400 MIL ACIDENTES
Em 2004 registaram-se cerca de 400 mil acidentes, dos quais mais de 360 mil só provocaram danos materiais. Destes, cerca de 46 por cento foram regularizados através da Indemnização Directa ao Segurado (IDS).
MENOS VENDAS
Em Portugal foram matriculados 20 847 veículos em Março (menos 1,3 por cento do que há um ano atrás), com o valor acumulado a recuar 2,4 por cento para as 51 916 unidades vendidas. Na Europa Ocidental, a venda de veículos ligeiros cresceu 4,1 por cento em Março, face ao mês homólogo de 2005. No conjunto dos 26 países considerados nas estatísticas da Associação Europeia de Construtores venderam-se 1,7 milhões de unidades em Março.
DISCRIMINAÇÃO
Algumas seguradoras continuam a discriminar os segurados, empurrando-os para oficinas que eles não querem utilizar.
CENTRO DE REPARAÇÃO
A Companhia de Seguros Maphre construiu o maior centro de reparação automóvel da Península Ibérica para os seus segurados.
SISTEMA AUDATEX
Um dos grandes progressos na reparação automóvel foi a introdução do sistema de orçamentos automáticos Audatex.
TELE-PERITAGEM
O sistema de tele-peritagem é outro dos instrumentos para acelerar a reparação dos sinistros automóveis.
BENS E SERVIÇOS MAIS CAROS
TELEFONE FIXO
As chamadas telefónicas através de telefone fixo em Portugal custam mais do dobro dos restantes países da União Europeia, concluiu um estudo da Autoridade da Concorrência. O preço de uma chamada local era em Dezembro do ano passado 62 por cento superior à média europeia e 151 por cento superior ao preço praticado no Luxemburgo, país que apresentava o preço mais barato.
INTERNET
O acesso à internet custa, por sua vez, cinco vezes mais do que a média europeia. É na banda larga através de cabo que o diferencial é mais notório, apresentando Portugal um preço 428 por cento mais caro do que a Bélgica, que é o país com o preço mais baixo.
CARTÕES DE CRÉDITO
Portugal está entre os países em que os encargos com o cartão de crédito são demasiado elevados por falta de concorrência. Segundo a Comissão Europeia, há consumidores de alguns países que pagam mais do dobro em (pagamentos com) MasterCard e Visa.
DVD
Portugal está entre os países onde o DVD são mais caros. O último exemplo deu-se com a venda do ‘pack’ ‘Guerra das Estrelas’ que custava mais 20 euros do que nos restantes países europeus.
MEDICAMENTOS
O peso da indústria farmacêutica na formação do preço dos medicamentos é das mais altas da Europa, só superada pela Suécia.
CARROS
O preço dos carros vendidos em Portugal é um dos mais altos da Europa. Em comparação com Espanha, por exemplo, os preços são em média 25 por cento mais caros.
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