Vilas Morenas cheias de cravos e sem bola: Alentejo ausente no patamar principal
Nem Grândola, Évora, Elvas ou Campo Maior: sem qualquer 'reforma', há um deserto no futebol.
A conquista da liberdade há 50 anos, as profundas mudanças políticas e sociais, a revolução dos cravos, "Grândola Vila Morena" do Zeca Afonso, a reforma agrária iniciada e depois travada, o fim da repressão e da ditadura - tudo isto foi vivido no Alentejo com o 25 de Abril de 1974. O que não se verificou foi a mudança de paradigma que levasse a região a figurar no mapa futebolístico do nosso país - salvo raras exceções.
Feitas as contas, a Revolução acabou por vincar a condição de 'deserto' no patamar mais alto do nosso futebol existente de Setúbal ao Algarve. O último bastião alentejano na 1ª Divisão foi o Campomaiorense... há 23 anos.
Na histórica época 1945/46, quando o Belenenses se sagrou campeão, foi o Sport Lisboa e Elvas o primeiro clube a pôr o Alentejo no mapa do futebol. Esse papel caberia depois a O Elvas e Lusitano de Évora, acabando por ser 'esquecido' em Campo Maior, em 2001. A 25 de Abril de 1974 não havia clubes alentejanos na 1.ª, nos 50 anos que se seguiram, apenas por sete temporadas se jogou futebol de primeira no Alentejo. "É o preço a pagar pela interioridade. Para trazer um jogador, tem de se pagar mais, dar casa, carro...", aponta Pedro Caldeira, presidente do Lusitano de Évora, clube alentejano que mais tempo esteve na 1.ª.
Até Juanito, médio do Elvas que esteve no principal escalão entre 1986 e 1988, aponta: "A cidade vivia bem, havia pessoas dispostas a investir no clube e só assim foi possível. Na altura, havia comércio forte, agora há dificuldades, desemprego, não há indústria, não há fundos. Joguei no Campomaiorense, mas na 2.ª Liga. A Delta suportava tudo e tínhamos boas condições."
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