“Grândola”: Senha para as tropas combinada a rezar na igreja em Alvalade

Primeiro comunicado do MFA foi lido por Joaquim Furtado, no Rádio Clube.

20 de março de 2024 às 13:46
Joaquim Furtado leu o comunicado do MFA às 4h26 Foto: Sérgio Lemos
Joaquim Furtado leu o comunicado do MFA às 4h26 Foto: Sérgio Lemos

1/2

Partilhar

"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma." Foi este o início do primeiro comunicado do MFA lido pelo locutor Joaquim Furtado – e escrito pelo major Vítor Alves – aos microfones do Rádio Clube Português (RCP). O relógio marcava 4h26. Segue-se a transmissão do Hino Nacional e de marchas militares, entre as quais "A Life on the Ocean Waves", de Henry Russell, que haveria de ser adotada como hino do MFA. Era madrugada.

O primeiro sinal foi dado na véspera, dia 24, às 22h55, quando os Emissores Associados de Lisboa transmitiram "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, canção vencedora do Festival da Canção desse ano. Foi o locutor João Paulo Diniz, companheiro de Otelo Saraiva de Carvalho na Guiné, que passou o tema. O segundo sinal foi às 0h20, na Rádio Renascença, com a transmissão de "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso, no programa "Limite". É a senha que confirma o golpe e marca o início das operações. Os pormenores técnicos foram decididos na tarde de dia 24. Ajoelhados na igreja de S. João de Brito, em Alvalade, Lisboa, onde fingiram rezar, Carlos Albino e Manuel Tomás ultimaram pormenores. De manhã, Carlos Albino comprou na então Livraria Opinião o disco "Cantigas de Maio", onde consta o tema "Grândola, Vila Morena". Na madrugada de dia 25, Paulo Coelho era o locutor de serviço na Renascença. Não sabia do golpe e quase fez perigar o plano ao antecipar a leitura dos anúncios. A transmissão da senha à hora exata estava em perigo. Manuel Tomás deu um safanão na mão do técnico de som, provocando o arranque da bobine pré-gravada. Pela voz de Leite de Vasconcelos, que nada sabia, ouve-se a primeira quadra de "Grândola, Vila Morena".

Pub

Durante o dia, a rádio foi dando conta do que acontecia, com destaque para o RCP. Durante horas, Luís Filipe Costa foi a voz da revolução. Às 20h05, é lida, aos microfones do RCP, a Proclamação do MFA: "O Movimento das Forças Armadas, que acaba de cumprir com êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa História, proclama à Nação a sua intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do País e da restituição ao Povo Português das liberdades cívicas de que vem sendo privado."

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar