AFP justifica perante Senado francês não qualificar Hamas como terrorista

Comissão de Cultura convocou o presidente e o diretor de informação da agência de notícias pública.

14 de novembro de 2023 às 22:42
Fabrice Fries Foto: Aleksey Nikolskyi via Reuters
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A agência francesa de notícias AFP justificou esta terça-feira perante o Senado de França a razão por não se referir ao movimento islamita Hamas como terrorista, detalhando as dificuldades em cobrir o agravamento do conflito entre Israel e a Palestina.

A Comissão de Cultura do Senado francês convocou o presidente da agência de notícias pública, Fabrice Fries, e o seu diretor de informação, Phil Chetwynd, sobre a cobertura que a agência fez da guerra entre Israel e o Hamas que, para alguns meios de comunicação social e políticos franceses, foi "pró-palestiniano" por não qualificar o Hamas como terrorista.

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"Não há nenhuma diferença nas nossas notícias quando falamos da Al-Qaeda ou do Hamas", explicou Chetwynd, que recordou que a AFP, tal à semelhança do que fazem outros media como a BBC e a estação púbica France Télévisions, não designa diretamente uma organização como terrorista.

No caso do Hamas, explicou que quando usa a designação esta é acompanhada da identificação dos que assim a consideram, como os EUA, Reino Unido, Israel ou União Europeia.

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O diretor de informação garantiu que os seus 50 jornalistas de fotografia, vídeo e texto que trabalham na zona do conflito não tiveram "em nenhum momento dúvidas em descrever as atrocidades" cometidas a 7 de outubro pelo Hamas contra a população civil israelita.

Fries corroborou o argumento, que faz parte do livro de estilo da AFP há décadas, e deu como exemplo que uma boa parte do mundo pensa de forma diferente da dos Governos do ocidente.

"O Sul Global (conceito geopolítico que inclui a América do Sul, África e parte da Ásia) não reconhece o Hamas como organização terrorista e isso para nós é importante", acrescentou Fries, que esclareceu que a AFP não pretende ser a voz de França e sim de toda a Europa.

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Chetwynd reconheceu que nas milhares de notícias publicadas desde 07 de outubro é possível encontrar alguns textos em que se qualifica o Hamas como terrorista, algo que atribuiu a erros pontuais num contexto de muito trabalho.

O diretor de informação descrever a "complexidade" da cobertura, como aconteceu com o bombardeamento de um hospital em Gaza, em que houve acusações cruzadas entre o Hamas e Israel sobre a autoria do ataque.

"Apenas três horas mais tarde tivemos a versão de Israel, três horas em jornalismo é muito tempo", afirmou o presidente da agência, sobre as críticas relativas a um discurso demasiado próximo do Hamas.

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Chetwynd fez, ainda assim, uma autocrítica sobre "o correto uso das palavras" em algumas reportagens e, perante uma pregunta sobre a manipulação de dados, assumiu que a informação sobre as vítimas na Faixa de Gaza têm origem na órbita do Hamas, clarificando que essa mesma fonte alimenta outros media, organizações internacionais e ONG.

"Os nossos jornalistas viram em hospitais, nas morgues, nas ruas, centenas e centenas de crianças mortas" na Faixa de Gaza, afirmou o diretor de informação.

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