Rússia intercetou comunicações militares alemãs

A espionagem russa intercetou e divulgou publicamente uma conversa entre generais de alta patente alemães sobre o envio de mísseis para a Ucrânia, afirmando que constitui uma prova do envolvimento direto do Ocidente no conflito ucraniano.

A gravação, cuja autenticidade foi confirmada pelo Governo alemão, diz respeito a uma videoconferência realizada a 19 de fevereiro entre o chefe do Estado-Maior da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), general Ingo Gerhartz, e três outros comandantes militares, que decorreu através da Webex, uma plataforma comercial e não encriptada. Na gravação, os militares discutem o possível envio de mísseis de cruzeiro ‘Taurus’, de fabrico alemão, para a Ucrânia, bem como os potenciais alvos destes mísseis, incluindo a Ponte de Kerch, que liga a Crimeia à Rússia. Os generais discutem ainda a necessidade de enviar militares alemães para o terreno para operar os mísseis “como fizeram os britânicos”.

O Governo alemão considerou a falha de segurança como “extremamente grave” e já abriu uma investigação. “Este incidente é mais que uma simples interceção e publicação de uma conversa. É parte da guerra de informação lançada por Putin. Trata-se de um ataque híbrido de desinformação que visa criar divisão e minar a nossa unidade”, afirmou esta segunda-feira o ministro da Defesa, Boris Pistorius.

A Rússia chamou o embaixador alemão para pedir explicações e diz que a gravação prova o “envolvimento direto” do Ocidente na guerra da Ucrânia. “A gravação mostra que as Forças Armadas alemãs estão a discutir de forma concreta e substancial planos para atacar o território russo. Isto levanta a questão de saber se o chanceler Scholz controla os seus militares ou se esta é a política oficial do seu Governo. Ambos os cenários são maus e provam o envolvimento direto dos países do Ocidente coletivo no conflito da Ucrânia”, acusou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

E TAMBÉM

ENVIO DE MÍSSEIS “ESTÁ FORA DE QUESTÃO”

O chanceler alemão, Olaf Scholz, garantiu que o envio de mísseis ‘Taurus’ para a Ucrânia “está fora de questão” se envolver a necessidade de enviar pessoal de apoio para o terreno. Militares alemães dizem que treinar ucranianos para usar os mísseis “levará demasiado tempo”.

O PR russo avisou na semana passada que o envio de militares ocidentais para a Ucrânia “aumenta o risco de uma guerra nuclear” entre a Rússia e a NATO.

“A RÚSSIA NÃO ESQUECE”

O vice-presidente do Conselho de Segurança russo, Dmitry Medvedev, disse esta segunda-feira que Moscovo “mostrará contenção” na resposta à Alemanha “mas não esquecerá” o sucedido.