Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária.
Ao ordenar a invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, o Presidente russo, Vladimir Putin, desencadeou uma guerra que fez, num ano, dezenas de milhares de mortos, devastou cidades e afundou a economia do país.
Justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, a invasão foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu enviando armamento e ajuda humanitária para a Ucrânia e impondo à Rússia sanções políticas e económicas.
Até agora, a ofensiva causou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A vizinha Polónia acolheu o maior número destes refugiados - mais de 1,5 milhões -, e Moscovo afirma que outros cinco milhões procuraram refúgio na Rússia, mas Kiev acusa os russos de terem efetuado "evacuações forçadas" das localidades onde esses civis ucranianos residiam.
Neste momento, segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
Quanto ao número de vítimas civis, o ACNUDH apresentou como confirmados desde o início da guerra, e até 15 de fevereiro deste ano, 8006 mortos e 13.287 feridos, embora ressalvando que estes números estão muito aquém dos reais.
Segundo a mesma fonte, 90% das mortes e dos ferimentos de civis foram causados por armas explosivas de elevado impacto russas (como mísseis), principalmente em ataques a zonas povoadas, e as restantes devido à detonação de minas antipessoais, estilhaços de armamento e ataques a paióis.
Quando as forças russas tomaram a cidade portuária de Mariupol (na região independentista pró-russa de Donetsk), no final de maio e após três meses de cerco e bombardeamentos com artilharia pesada, esta tinha sido reduzida a escombros cobertos de cadáveres, e Kiev disse que pelo menos 20 mil civis ucranianos tinham ali sido mortos.
Segundo fontes ocidentais, no total, entre 30 mil e 40 mil civis morreram no conflito em toda a Ucrânia.
A longo prazo, as minas terrestres também representarão uma grande ameaça para os civis, afirmando os especialistas que a desminagem poderá levar décadas: Kiev diz que 30% do território ucraniano foi minado pelos russos, ao passo que a organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch acusa as tropas ucranianas de terem colocado minas antipessoais proibidas na região leste de Izyum.
Quanto a baixas militares, as estimativas da Noruega, citadas pela Euractiv (rede pan-europeia independente de órgãos de comunicação social especializada em políticas da União Europeia (UE)), apontam para 180 mil soldados russos e 100 mil soldados ucranianos feridos ou mortos, enquanto outras fontes ocidentais estimam que um ano de guerra fez 150 mil vítimas de cada lado.
Os militares ucranianos costumam usar o termo "carne para canhão" para descrever os russos enviados para a linha da frente, por serem muitas vezes impreparados, o que lhes dá poucas hipóteses de sobrevivência contra as forças ucranianas, determinadas em defender o seu país.
Outros são presos russos recrutados para se juntarem às fileiras do grupo de mercenários russo Wagner, que Kiev e aliados afirmam serem enviados para missões quase impossíveis, com margem para rejeitar equivalente a uma arma apontada à cabeça.
A guerra está também a ter um custo elevado para os militares do lado ucraniano, como mostram as inúmeras bandeiras nacionais azuis e amarelas que cobrem os cemitérios por todo o país.
Quanto a crimes de guerra, cerca de 65 mil suspeitas de casos foram denunciadas até agora, indicou o comissário de Justiça da UE, Didier Reynders, e investigadores da ONU acusaram a Rússia de os cometer "em escala maciça" na Ucrânia -- entre bombardeamentos, execuções, tortura e violência sexual.
Segundo as autoridades ucranianas, os militares russos deportaram à força mais de 16 mil crianças para a Rússia ou para zonas no território ucraniano controladas por separatistas pró-russos.
Por outro lado, várias ONG condenaram a Ucrânia por violar os direitos dos prisioneiros de guerra russos, mas em muito menor escala.
O Tribunal Penal Internacional iniciou no ano passado uma investigação aos crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos no âmbito do conflito, mas não pode processar nenhum dos países, porque nem a Rússia nem a Ucrânia são membros daquela instância judicial sediada em Haia.
Em vez disso, Kiev tem exercido pressão para a criação de um tribunal para julgar Moscovo pelo crime de agressão, por crer que será uma forma mais rápida de obter justiça e de mais facilmente punir os altos responsáveis do Kremlin.
A linha da frente "ativa" tem 1500 quilómetros, de norte a sul do país, de acordo com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas ucraniano, Valery Zaluzhny.
Segundo números do Instituto para o Estudo da Guerra, com sede nos Estados Unidos, as tropas russas ocupam quase um quinto da Ucrânia, mas Zaluzhny diz que as forças ucranianas conseguiram recuperar cerca de 40% do território ocupado desde a invasão, no ano passado.
Os combates têm-se concentrado no leste da Ucrânia -- onde habitações, empresas, comércio e fábricas têm sido destruídos -, desde que as forças russas retiraram do norte do país, um mês após o início da guerra, na sequência da sua tentativa falhada de tomar a capital, Kiev.
Nos últimos meses, a Rússia tem, em todo o país, repetidamente tomado como alvo centrais elétricas, causando apagões e deixando milhões de pessoas sem aquecimento este inverno.
O Banco Mundial indicou em outubro passado esperar que a economia ucraniana registasse uma queda de 35% em 2022.
A Faculdade de Economia de Kiev estimou em janeiro que custará 130 mil milhões de euros para reconstruir todas as infraestruturas destruídas pela guerra, após indicar, em novembro último, que, num país conhecido pelas suas exportações de cereais e óleo de girassol, a guerra causou mais de 32 mil milhões de euros de prejuízos no setor agrícola.
De acordo com o fundo cultural da ONU, cerca de 3000 escolas e 239 locais culturais sofreram danos em consequência dos combates.
Reconstruir a Ucrânia após a invasão russa custará cerca de 329 mil milhões de euros, segundo uma avaliação conjunta do Governo ucraniano, da Comissão Europeia e do Banco Mundial feita em setembro.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, as Forças Armadas ucranianas tinham sobretudo equipamento militar obsoleto da era soviética para se defender, pelo que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem repetidamente instado os aliados ocidentais a enviar-lhe armamento moderno, desde sistemas de defesa antiaérea a artilharia pesada, como tanques e outros veículos de combate blindados.
O Ocidente mostrou-se inicialmente relutante em envolver-se demasiado, para evitar qualquer confronto mais direto com uma Rússia nuclearmente armada, mas pouco a pouco tem acedido à maioria dos pedidos de Zelensky, embora o de caças F-16 não tenha até agora obtido resposta positiva.
Entre o equipamento militar enviado, os Estados Unidos forneceram lançadores de precisão de 'rockets' Himars, com um alcance de 80 quilómetros, muito superior ao do equipamento russo e que os analistas afirmam ter ajudado a mudar o rumo do conflito no outono, na batalha contra as tropas russas nas regiões de Kharkiv, no nordeste, e de Kherson, no sul.
Em novembro, os aliados de Kiev já tinham prometido mais de 37 mil milhões de euros em ajuda militar, de acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial -- um número que não inclui os mais recentes anúncios, feitos em janeiro por Estados Unidos, Canadá e vários países europeus, Portugal incluído, de que enviarão para a Ucrânia tanques de combate modernos.
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