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Correio da Manhã

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Os especialistas da ‘operação especial’

Os mais destacados militares-comentadores da guerra da Ucrânia Carlos Branco e Agostinho Costa, têm sido o oposto da exigência e rigor.
Pedro Marta Santos / SÁBADO 23 de Outubro de 2022 às 19:43
Major-general Agostinho Costa
Major-general Carlos Branco
Major-general Agostinho Costa
Major-general Carlos Branco
Major-general Agostinho Costa
Major-general Carlos Branco
Se em tempo de paz recorremos a especialistas do estado das coisas (políticos, sociólogos, economistas), é natural que façamos o mesmo em tempo de guerra. A guerra é a continuação da paz por outros meios e, em toda a sua tragédia humana, destruição física e indizível miséria moral, talvez os únicos capazes de compreender a amplitude da tragédia sejam os militares.

A importância do que aprenderam e o drama do que observam exige-lhes um rigor suplementar, sobretudo na TV, onde cada gesto, tom ou expressão é amplificado. É uma exigência da gravidade, acrescida de ‘gravitas’. Os majores-generais Carlos Branco e Agostinho Costa, os mais destacados militares-comentadores da guerra da Ucrânia, têm sido o oposto dessa exigência e desse rigor.

Não se consideram comentadores, antes "analistas", como se comentar fosse indigno do ‘pedigree’, e juram-se "neutrais" com base na doutrina geoestratégica. Mas as suas preferências são tão claras como a neve que cai em Vladivostoque. Porquê, então, a pose autoritária, de inspeção às tropas da TVI/CNN? Há uma explicação possível (as minhas fontes são fracas, mas as de Branco & Costa são tão insondáveis como um ‘Garganta Funda’ das estepes): após anos de invisibilidade pública, de orçamentos minúsculos, de críticas da ingrata plebe à estrutura militar como degenerescência que convém extirpar do orçamento de Estado, eis, de súbito, o tempo de antena. O momento Patton pós-moderno.

Em vésperas da invasão, Carlos Branco garantia que "os russos não estão interessados em invadir a Ucrânia", acrescentando que o "regime ucraniano é democraticamente deficitário". Agostinho Costa ia asseverando na TV "a preocupação dos russos em não causar baixas civis" e jurava, a 21 de março na CNN, que o bombardeamento depois confirmado ao centro comercial Retroville, a noroeste de Kiev, seria "um ataque cirúrgico a uma infraestrutura importante. Gastar mísseis em centros comerciais quando se diz que os russos estão com dificuldades logísticas parece-me um pouco exagerado" (e riu-se).

Na sequência de novo ataque de mísseis na semana passada a Zaporijia (17 mortos e mais de 80 feridos), Carlos Branco insistiu que no edifício atingido "estavam 350 mercenários". No fim do longo diagnóstico, acrescentou que "esta análise carece de confirmação" - era um achismo, um palpite.

A 9 de outubro, quando a pivô tentou contrariar o major-general quanto à tese de chantagem nuclear do… Ocidente, aquele soergueu a sobrancelha para insistir que "Biden já terá falado da possibilidade de utilização do ‘first strike’ (primeiro ataque atómico)". Em termos táticos, Branco & Costa enganam-se mais vezes do que Fernando Santos, Carlos Queirós e o professor Neca juntos.

Os conceitos de soberania e autodeterminação dos povos permanecem desaparecidos em combate. No seu espantoso relativismo moral, Branco & Costa preferem esquecer as diferenças entre (querer) pertencer a um bloco de defesa político-militar e invadir um país soberano. Como escreveu Von Clausewitz, general prussiano e estratega militar de génio, "tudo na guerra é simples. Mas a coisa mais simples é difícil".
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