Morgade, freguesia do concelho de Montalegre, volta este domingo, por ocasião das eleições legislativas, a manifestar-se contra a instalação de uma exploração de lítio naquela região, a cargo da empresa LusoRecursos.
Este domingo de manhã, os portões da escola primária, onde decorre o ato eleitoral, ainda chegaram a ser fechadas a cadeado, numa tentativa de boicote, mas a normalidade foi reposta antes das 08h00 da manhã, e as urnas acabaram por abrir conta com normalidade. Votam cerca de 320 eleitorados.
Ação semelhante aconteceu nas últimas eleições Europeias, onde votaram apenas 4 eleitores.
A Associação Montalegre com Vida tem vindo a apelar a que este domingo a comunidade não vá às urnas em protesto. Da freguesia fazem parte as aldeias de Rebordelo e Carvalhais.
"Esta manhã deparámo-nos com as instalações vedadas a cadeado, a fechadura vandalizada e teve que se recorrer ao arrombamento das portas para colocar a mesa de voto em funcionamento. Não votarem, tudo muito bem, agora andarem a vandalizar as coisas eu não concordo", disse o presidente da Junta de Freguesia de Morgade, José Nogueira.
Nesta localidade, repete-se este domingo um apelo à abstenção nas legislativas como forma de protesto contra a mina de lítio a céu aberto anunciada pela empresa Lusorecursos para esta freguesia que agrega as aldeias de Morgade, Carvalhais e Rebordelo e onde estão inscritos 325 eleitores.
Nas europeias de maio votaram apenas quatro eleitores e, nesse dia, a mesa de voto abriu com um atraso de cerca de uma hora e meia, também devido à porta trancada do edifício da junta.
"Podemos mostrar às pessoas que efetivamente estamos contra, que não queremos aqui a exploração mineira, mas de uma forma ordeira", salientou José Nogueira.
O autarca disse que também não vai votar este domingo.
Junto à sede da Junta de Freguesia, onde está instalada a mesa de voto, concentraram-se dezenas de populares e pela aldeia foram também colocadas tarjas de grande dimensão onde a principal mensagem que se pode ler é "não à mina, sim à vida".
"Nunca fomos ouvidos em todo este processo e não aceitamos que queiram construir uma mina ao lado das nossas casas que vai alterar completamente a nossa forma de vida. Não aceitamos que alguém em Lisboa decida que quer destruir parte das nossas aldeias e serras e a nossa qualidade de vida", afirmou Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida.
Este é, segundo o responsável, mais um "voto de protesto".
Além das preocupações com a dimensão da cratera da mina, a população aponta ainda preocupações relacionadas com os prejuízos ambientais, as consequências para a qualidade da água e do ar, os impactos sobre os solos ou sobre a classificação como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
"Nós estamos a apelar a que as pessoas não votem porque é a única forma de os membros do Governo e quem está na iminência de entrar para o Governo nos ouvirem. Estamos a lutar contra a destruição da nossa terra. Não, não à mina", afirmou Teresa Dias, também residente em Morgade.
Vítor Santos voltou a juntar-se ao protesto deste domingo para mostrar que está "contra a mina" e a forma como a "mina foi concebida".
"As aldeias estão muito próximas da concessão e isso traz impactos enormes aos habitantes das três aldeias. Eu tenho a certeza que se a mina for para a frente as pessoas não vão poder viver aqui", sublinhou este popular.
Em Montalegre, a Lusorecursos Portugal Lithium, empresa que em março assinou o contrato de concessão com o Estado para a mina do Romano (Sepeda), anunciou um plano de negócios de 500 milhões de euros, a criação de cerca de 500 postos de trabalho e a implementação de uma unidade industrial.
A empresa está em fase de elaboração do respetivo estudo de impacto ambiental (EIA).