Alexandre III: Quando o papa passou a ser eleito por dois terços

Alexandre III determinou maioria qualificada para eleger o papa. Só um século depois seria instituído o conclave.

11 de abril de 2025 às 08:00
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Estávamos a mais de um século da realização do primeiro conclave (fórmula atual da eleição dos papas), que aconteceu em janeiro de 1276 e elegeu Inocêncio V. Até então, os papas eram eleitos em assembleia aclamativa por unanimidade. Muitas vezes precedidas por acesas e longas discussões, mas a eleição era unânime. Acontece que Alexandre III recebeu 21 votos de uma assembleia constituída por 28 cardeais, o que provocou um cisma de vinte anos, resolvido apenas nos últimos meses do seu pontificado.

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Cerimónia de coroação
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Entretanto, no Concílio de Latrão, que o próprio papa Alexandre III convocou, foi decretada a necessidade da maioria de dois terços dos votos dos cardeais para a eleição papal. Essa regra, com mais de oito séculos, instituiu-se de tal maneira, que continua em vigor nos dias de hoje. Aliás, essa foi a regra estabelecida pela constituição apostólica Ubi Periculum, assinada pelo papa Gregório X e que instituiu o Conclave.

Este foi o papa que assinou a bula que conferiu a independência de Portugal

Quando Alexandre III assumiu os destinos da Igreja, o mundo católico vivia tempos de acentuada turbulência. Por um lado enfrentava sérios conflitos com o Sacro Império Romano-Germânico, liderado por Frederico I Barbarossa (barba ruiva), por outro, empreendia esforços para evitar a conquista de Jerusalém e dos lugares santos pelo líder islâmico Saladino e, por último, enfrentava os cismas internos enquanto geria as diversas guerras e o surgimento de novos reinos na Europa.

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Papa Alexandre III com Frederico Barbarossa

Na época, os Templários, a grande ordem guerreira fundada no Templo de Salomão em 1120 com o objetivo de proteger os peregrinos que rumavam à Terra Santa, assumia o controlo estratégico de diversos territórios europeus, sobretudo no sul do continente, no sentido de proteger o mundo católico das investidas muçulmanas.

Um dos territórios onde os Templários desempenharam um papel de elevado relevo foi no nordeste da Península Ibérica, contribuindo decisivamente para a criação do reino de Portugal.

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Depois de contar com a ajuda dos cavaleiros da Segunda Cruzada para a conquista de Lisboa aos mouros, D. Afonso Henriques concedeu vastas terras à Ordem do Templo, no centro do País, tendo estes, partir da cidade de Tomar e liderados pelo notável cavaleiro Gualdim Pais, contribuído decisivamente para levar a cabo a reconquista cristã “muito para lá do rio Tejo”.

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Templários, o braço armado da Igreja

Alexandre III contava, portanto, com um braço armado no sul da Europa, que travava as investidas islâmicas, que chegaram a ameaçar expandir-se para Norte. Para além disso, do ponto de vista religioso e da povoação dos territórios, dispunha das duas grandes ordens religiosas da época: os beneditinos e os cistercienses.

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O maior problema de Orlando Bardinelli (nome de batismo de Alexandre III) era, portanto, o conflito com o imperador Frederico Barba Ruiva e o apoio que o líder do Sacro Império Romano-Germânico conferia aos anti-papas que alimentavam o grande cisma.

Foi por isso que, logo no início do seu pontificado, excomungou Frederico I, assim como Vítor IV, o primeiro dos três antipapas. Um dado histórico relevante foi também a imposição, em 1172, de uma severa penitência ao rei inglês, Henrique II, pelo assassinato do célebre arcebispo de Cantuária, Tomás Becket.

1179 foi o ano de ouro de Alexandre III (papa entre 1159 e 1181). Apesar de aturadas investidas diplomáticas, não conseguiu trazer para o seu lado o “Barba Ruiva”. No entanto, o imperador foi derrotado, em 1176, na célebre batalha de Legnano, perto de Milão e viu-se obrigado a negociar com o papa.

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Foi assim que, no designado “Encontro de Veneza”, o imperador e o papa concordaram que seria suspensa a excomunhão de Frederico e este, em troca, reconheceria Alexandre como líder único da Igreja Católica.

Resolvida a questão fundamental do pontificado, Alexandre III pode, finalmente, dedicar-se à gestão dos inúmeros conflitos que grassavam um pouco por toda a Europa e dirimir alguns dos principais litígios territoriais.

Foi assim que, após decisiva investida diplomática do então arcebispo de Braga, D. João Peculiar, o papa Alexandre III promulgou a Bula Manifestis Probatum, reconhecendo oficialmente o reino de Portugal.

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O assunto da independência estava praticamente resolvido desde o Tratado de Zamora, em 1143, mas carecia da chancela oficial, que só podia ser conferida pelo papa.

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Basílica de São João Latrão, em Roma onde está sepultado Alexandre III

Papas viviam em S. João de Latrão

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A primeira residência dos papas em Roma foi o Palácio de Latrão, junto à basílica que ainda hoje é a catedral do bispo de Roma. Foi assim desde o século IV até ao século XIV, quando o papa se instalou em Avinhão, na França. Regressado à Itália, o papa passou a residir no Palácio do Quirinal e só em 1870 se transferiu para o Palácio Apostólico, na cidade do Vaticano.

Leão XIII foi o 1º papa a ser filmado

Pio IX, que liderou a Igreja entre 1846 e 1878, foi o primeiro papa a ser fotografado. A fotografia foi tirada em 1875 por Adolphe Braun. Já Leão XIII foi o primeiro papa a ser filmado. O registo foi feito em 1896 por William Dickson, um dos pioneiros do cinema, do laboratório de Thomas Edison. O vídeo mostra o papa, já idoso, a caminhar e a abençoar a câmara de filmar.

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Portugal leva elefante a Roma

Em 1513, Júlio II recebeu a monumental embaixada de D. Manuel, chefiada por Tristão da Cunha, para impressionar o Papa com as riquezas acumuladas. Uma das inúmeras novidades foi a presença de um elefante trazido das Índias. Causou um espanto tal que passou a constar das grandes obras de arte italianas, sobretudo das pinturas.

Primeira ordem religiosa

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Considerado o pai do monaquismo ocidental, São Bento de Núrcia escreveu a famosa regra em 529 e fundou a primeira ordem religiosa católica na Abadia de Monte Cassino. Uma ramificação desta, em 1098, deu origem aos Cistercienses. Em 1118 nasceram os Templários, de pendor militar, e, mais tarde, em 1209, os Franciscanos. Em 1216 surgiram os Dominicanos e, em 1534, os Jesuítas.

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