Barra Cofina

Correio da Manhã

Mais CM
6
Siga o CM no WhatsApp e acompanhe as principais notícias da atualidade Seguir

Erupção do vulcão dos Capelinhos foi há 60 anos

Jornal O Telégrafo trazia à primeira página as "horas de ansiedade" passadas na ilha do Faial.
Lusa 26 de Setembro de 2017 às 09:45
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Vulcão dos Capelinhos
Um dia depois de começar a erupção do vulcão dos Capelinhos, no Faial, Açores, o jornal O Telégrafo trazia à primeira página as "horas de ansiedade", porque "no mar, a 100 metros dos Capelinhos", tinha rebentado um "vulcão submarino".

"Como noticiámos, desde há dois dias, quase ininterruptamente, nas freguesias do Capelo e Praia do Norte, a terra tem tremido, pondo em sobressalto as respetivas populações que, assustadas, abandonaram as suas casas, percorrendo as ruas com o emblema do Divino Espírito Santo a implorar a Misericórdia Divina", relatou o jornal na edição de 28 de setembro de 1957.

O jornal, com sede na Horta, Faial, contava que no dia anterior, pelas 06:45, "essa ansiedade aumentou, ao ser avistado a 100 metros a nordeste dos ilhéus dos Capelinhos o mar em ebulição expelindo escórias que eram projetadas a alguns metros de altura".

"O mar no ponto da erupção tem cerca de 50 braças de profundidade", lia-se no matutino, acrescentando que "o facto, como era de prever, causou grande pânico na população daquelas freguesias e sobressalto na cidade e em toda a ilha".

Segundo O Telégrafo, "os baleeiros, que [estacionavam] no Comprido, e suas famílias, abandonaram imediatamente aquela estação", enquanto a torre do farol "oscilava de uma forma assustadora".

A erupção do vulcão dos Capelinhos começou a 27 de setembro de 1957 e, um ano depois, começou a perder força. A 24 de outubro de 1958 ocorreu a última emissão de lavas e o vulcão adormeceu.

Em entrevista à agência Lusa, o docente da Universidade dos Açores Rui Coutinho referiu que na sequência da erupção houve a evacuação de alguns lugares, tendo sido retiradas 1.712 pessoas e meio milhar de cabeças de gado, do Norte Pequeno, Canto e Capelo.

Citando um texto que elaborou para o Núcleo Cultural da Horta, a propósito dos 60 anos da erupção, Rui Coutinho explicou que, então, o governador civil do distrito da Horta, Freitas Pimentel, manifestou numa reunião com várias entidades a "intenção de criar um plano de intervenção" que "evitasse surpresas" e "garantisse estarem preparadas para situações futuras.

Num testemunho que Rui Coutinho recolheu de Norberto Fraião, à data da erupção funcionário da Federação de Municípios, este assinalou que "as areias é que eram o grande problema, porque destruíam as estradas e quando se acumulavam nos telhados faziam com que estes se abatessem".

Rui Coutinho, doutorado em Vulcanologia, lembrou que, a 17 de dezembro de 1957, emigrantes portugueses residentes na Califórnia doaram dinheiro para o Natal dos sinistrados, tendo, na resposta de agradecimento, o governador civil transmitido que "nada faltava" àqueles - "os que podiam trabalhar tinham obras do Estado em curso" e, apesar de a oferta ter chegado após o Natal, este foi devidamente comemorado no Capelo.

O investigador referiu que, na noite de 12 para 13 de maio de 1958, quando ocorreram cerca de 450 eventos, o pároco da Praia do Norte "absolveu coletivamente os pecados do povo", uma ação que "causou pânico generalizado", mas a imprensa local e a afixação de avisos de parede foram utilizados para acalmar a população.

A 15 de maio de 1958 chegou à Horta o ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, que anunciou "um exaustivo plano de recuperação e reconstrução", ao mesmo tempo que continuou a doação de alimentos a vestuário, tendo ainda o cônsul dos Estados Unidos da América visitado os Açores nesse mês para "discutir a emigração para o país".

Rui Coutinho adiantou que "cerca de 40% da população ativa emigrou do Faial em consequência da erupção", estimando os "custos quantificáveis" da erupção em dois milhões de dólares americanos à data, o que seriam hoje 15,4 milhões de dólares.

Porém, "muitos outros custos indiretos ou não quantificados ficaram por contabilizar", como a perda de receitas fiscais, de rendimentos, as verbas atribuídas à população para limpezas de vias e casas, entre outros, além dos "custos suportados pelos cidadãos", seus familiares ou famílias de acolhimento.

Rui Coutinho considerou que "no contexto austero do Estado Novo a resposta do Governo foi generosa", para considerar como "absolutamente espantoso" que não tenha havido uma única vítima mortal num acontecimento que marcou os Açores e no qual considera que se destacaram duas personalidades: Frederico Machado, pelos contributos técnico-científicos", e Freitas Pimentel, o governador civil responsável pela "gestão da crise".
Ver comentários
C-Studio