O cronómetro marcava 92 minutos de uma partida intensa. Chovia a potes naquela noite de 25 de janeiro de 2004, no Estádio Municipal de Guimarães. O Vitória recebia o Benfica para o campeonato. Fernando Aguiar tinha marcado o golo solitário dos encarnados aos 90 minutos e os visitantes tinham pressa em acabar o jogo.
Miklós Fehér, o avançado que José António Camacho lançara no jogo aos 59 minutos, para o lugar de João Pereira, disputa uma bola com Romeu. O esférico sai pela lateral e Fehér impede o jogador vimarenense de fazer o lançamento. Olegário Benquerença mostra-lhe o cartão amarelo e o húngaro responde com um sorriso. O último sorriso.
Os adeptos na bancada e milhões em casa assiste, incrédulos ao que se segue. Fehér dobra-se e cai desamparado. Os colegas correm para ele, um deles abre-lhe a boca, ao perceber que tem a língua enrolada. Os médicos apressam-se para chegar ao jogador.
Segue-se o desespero. Miguel, Simão Sabrosa, Tiago, Petit, Moreira desesperam. Jogadores do Benfica e do Vitória choram compulsivamente. Minuto depois chega um desfibrilhação. Tarde demais. Fehér não voltou a acordar. Ainda é levado ao hospital, mas não há nada a fazer. Aos 24 anos, o coração do jogador que se tinha mudado do FC Porto para os rivais da Luz na época anterior deixou de bater.
Uma onda de comoção varreu o país. O Benfica levou jogadores e dirigentes ao funeral de Miklós, na sua Hungria natal. Depois seria instalado um busto do jogador no Estádio da Luz.
A morte de Fehér teve o condão de despertar consciências para a necessidade de ter equipamentos como desfibrilhadores nos estádios e em espaços públicos. Muitas vidas terão sido salvas por aquela morte dramática. Um sorriso que jamais será esquecido.