No Verão de 1979, Lisboa fervilhava com um novo espetáculo. O cabaret 'Crazy Horse' chegava a Lisboa com 14 beldades, incluindo "uma mão cheia de portuguesas". O espetáculo erótico assentou arraiais no teatro ABC, no Parque Mayer, por iniciativa do empresário Sérgio de Azevedo, o homem que tinha levado o striptease ao Frou Frou, no Campo Grande. Para promover o show erótico, com "mulheres em tronco nu", algumas das beldades desfilaram por Lisboa em biquíni, provocatoriamente deitadas sobre o capot de um Mercedes. E até a GNR se juntou à promoção do espetáculo, com militares a ajudar uma das beldades a subir para cima de um cavalo.
Cinco anos após a revolução política, a capital abraçava o erotismo. Com bilhetes que iam dos 100 escudos (50 cêntimos nos euros de hoje) aos 350$00 (1,75€) o espetáculo foi um sucesso. Joana Stichini Vilela lembra no seu livro LX 70 o que se escrevia na imprensa sobre as meninas. O Diário Popular, por exemplo descrevia assim as moças: "Ao longe, quando deitadas, [as bailarinas] fazem lembrar uma terrinha repleta de raros e saborosos frutos tropicais que provocam um aumento substancial de saliva". Mais ousado, o cronista do Diário de Lisboa entusiasmou-se: "E na cabeça de outros, provavelmente, o poema, em dois simples versos, de um dos últimos livros de Fernando Grade: 'Não há tusa/ para tanta musa".