Prosa: O Diário de Ashura

Meu nome é Ashura.

Nasci no dia em que começou o Julgamento. Uns me chamam de cria do demónio. Não conheço meus progenitores. Nada sei do meu passado. E penso até que os rumores sejam verdade.

Tenho receio do que possa vir. Tenho medo que o monstro adormecido na minha alma desperte. Não sei porque escrevo neste velho diário, se o fim está tão próximo. Será Ashura sequer o meu nome? Sei que foi esse o primeiro que me foi atribuído. Nada… absolutamente nada, é aquilo que me recordo do meu passado.

Quero-me relembrar, mas tenho medo do que possa descobrir. Terei algo a esconder? Terei bloqueado as minhas próprias memórias? De noite sonho com um ser de olhos amarelos, sinto que me quer tomar o corpo. Não lhe vejo o rosto. Está encapuzado. Será o meu subconsciente a pregar-me partidas? Será o ser encapuzado a personificação da minha alma? Tenho medo!

Sento-me à beira do abismo e escrevo. Escrevo e olho para baixo. Pergunto-me o que poderá existir onde a luz não chega.

Que graça… falo em luz mas este mundo tornou-se nocivo, após o julgamento não existe distinção entre o bem e o mal ou a luz e a sombra.

Circulo por um parque outrora belo. Amo este parque. É o meu refúgio.

Adormeço por trás de uma cascata, grito com dores de alma.

Acho que já não escrevo coisa com coisa. Mas esta é a única forma que encontro para me esquecer o quanto o mundo é diferente de papéis aos quais os anciões chamam de "fotografias", uma espécie de retrato com cores que representar o Mundo Velho. Gostava de conhecer esse velho mundo.

Verde. Azul. Amarelo. Vermelho. Mil e uma cores! Centenas de contrastes!

Meu nome é Ashura e este é o meu diário.

Texto enviado pelo participante Bryan Rodrigues, 23 anos, de Gafanha do Carmo.

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