Pela primeira vez esta segunda-feira, Paris mencionou oficialmente o "apoio" de Kigali ao grupo armado, que ocupa parte do leste da RDCongo e é acusado de ter massacrado, pelo menos, 131 civis no final de novembro, e responsabilizado pela deslocação de cerca de 340.000 pessoas na região em que atua desde novembro de 2021.
"A França sempre defendeu e defenderá a integridade e a soberania da RDCongo", afirmou, esta terça-feira, Chrysoula Zacharopoulou, secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros francesa, que integra uma comitiva governamental gaulesa em visita a Kinshasa.
"Assistimos hoje ao regresso de uma situação trágica no leste da RDCongo. É insuportável e inaceitável", continuou a governante francesa.
"Há responsabilidades e a França não tem dificuldade em as apontar", disse ainda, acrescentando que "o M23 deve parar de lutar, desmobilizar e devolver os territórios ocupados".
"O Ruanda, que deve ser nomeado, deve deixar de apoiar o M23. Temos de pôr fim à repetição da história nesta região", acrescentou Zacharopoulou, repetindo a acusação formulada na véspera, segundo a qual "a França condena o apoio do Ruanda" ao M23.
Dito isto, acrescentou a governante francesa, "o papel de um amigo não é apenas denunciar, mas também ajudar a encontrar uma solução".
"Isto é o que fazemos falando com todos", "com a RDCongo, com a região", apoiando "a mediação de Angola e do Quénia", e "falando finalmente com o Ruanda, porque não construiremos uma paz duradoura sem o Ruanda", acrescentou.
"Colocamos ao serviço da paz a relação que reconstruímos com Kigali", concluiu Zacharopoulou.
As relações entre Paris e Kigali foram durante muito tempo contaminadas pela controvérsia sobre a atitude da França face ao genocídio de 1994 no Ruanda, até a um recente apaziguamento e ao reconhecimento em 2021 das "responsabilidades" francesas pelo Presidente Emmanuel Macron.
Em setembro, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, Macron assumiu mesmo o papel de mediador e juntou os presidentes congolês e ruandês, que se acusam mutuamente pela instabilidade na região leste da RDCongo.
O M23 foi criado em 2012, quando combatentes congoleses de etnia maioritariamente tutsi se revoltaram devido à perda de poder do seu líder, Bosco Ntaganda, acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de crimes de guerra, denunciando ainda várias violações do acordo de paz de 23 de março de 2009, que dá o nome ao movimento, nomeadamente o incumprimento de Kinshasa na reintegração destes combatentes nas forças armadas congolesas.