ATIRADOR DE WASHINGTON EM TRIBUNAL
O primeiro dos dois presumíveis atiradores que em Outubro do ano passado aterrorizaram a região de Washington, matando 10 pessoas em 13 ataques ao longo de 3 semanas, começou esta terça-feira a ser julgado na cidade de Virginia Beach. John Muhammad, 42 anos de idade, enfrenta duas acusações passíveis de condenação à pena de morte, mas alega estar inocente.
O juiz LeRoy Millette começou por ler as acusações e perguntar a Muhammad se as compreendia e se estava preparado para ser julgado. A estas duas questões o arguido respondeu “sim”, mas quando confrontado com a habitual pergunta “Como se declara em relação às acusações?”, manteve-se em silêncio. Depois, sussurrou algo ao ouvido de um dos seus dois advogados e só então respondeu: “Declaro-me inocente”.
Os advogados tentaram evitar o julgamento alegando insanidade do acusado, mas Mohammad recusou ser visto por psiquiatras, pelo que bloqueou a primeira táctica da sua defesa. Já esta manhã, os dois advogados do arguido, Peter Greenspun e Jonathan Shapiro, levantaram dúvidas sobre a imparcialidade do processo, denunciando fugas de informação policial lesivas para os direitos do seu cliente e queixando-se de que a Procuradoria não lhes forneceu informação suficiente sobre o processo de acusação.
O julgamento deverá demorar seis semanas, sendo os primeiros dias dedicados à selecção dos 12 membros do júri e três substitutos, a partir de 120 candidatos, que serão entrevistados em grupos de 40. Cerca de um milhar de residentes locais foram notificados para possível convocatória. Os júris de Virginia Beach têm tradição de ser ‘duros’, uma vez que muitos residentes são militares, no activo ou na reforma.
O julgamento deveria decorrer em Manassas, subúrbio de Washington, mas foi transferido para Virginia Beach, a cerca de 300 quilómetros da zona dos crimes, a pedido da Defesa, que alegou impossibilidade de um julgamento justo na área da capital federal norte-americana.
Muhammad enfrenta neste julgamento duas acusações de homicídio premeditado. A primeira está relacionada com o homicídio de Dean Harold Meyers, 53 anos de idade, atingido a tiro no dia 9 de Outubro de 2002 quando abastecia o seu automóvel num posto de combustíveis em Manassas. A outra acusação está relacionada com múltiplos homicídios nos últimos três anos. Neste particular, a acusação vai ter de provar que o envolvimento do arguido no homicídio de Meyers e em pelo menos outro tiroteio fatal.
Muhammad é o primeiro arguido a ser julgado ao abrigo das novas leis anti-terroristas aprovadas pela legislatura estadual após o 11 de Setembro de 2001. Significa isso que os procuradores vão ter de provar não só o envolvimento do arguido no homicídio mas também a sua intenção de influenciar o governo, ou intimidar a população civil. Os advogados de Defesa alegam que a pena de morte só pode ser aplicada se ficar provado que Mohammad foi quem premiu o gatilho, mas os procuradores contrapõem que basta provar que o arguido foi o “instigador” dos crimes.
Lee Boyd Malvo, 18 anos (17 na altura dos crimes), é o segundo presumível atirador acusado pelas 10 mortes em Outubro do ano passado. Malco começa a ser julgado no dia 10 de Novembro, em Chesapeake, por um homicídio no Condado de Fairfax. Os seus advogados pretendem alegar insanidade do arguido, argumentando que Muhammad baralhou as ideias do seu jovem companheiro, a ponto de Malvo não conseguir distinguir entre o bem e o mal. Lee Boyd Malvo vai ser julgado como adulto.
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