Bolsonaro recria Ministério das Comunicações

Titular da nova pasta é o deputado Fábio Faria, um bolsonarista ferrenho que é casado com uma das filhas do lendário Sílvio Santos.

Jair Bolsonaro sempre menosprezou a pandemia de Covid-19 no Brasil Foto: Reuters
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Numa decisão anunciada através do seu twitter esta quinta-feira, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, recriou o cobiçado Ministério das Comunicações, extinto em 2016 após a destituição da então presidente Dilma Rousseff pelo Congresso. O titular da nova pasta, também anunciado por Bolsonaro, é o deputado Fábio Faria, um bolsonarista ferrenho que é casado com uma das filhas do lendário Sílvio Santos, apresentador e dono da emissora de televisão SBT.

Fábio é membro do Partido Social Democrata, PSD, uma das entidades que formam o chamado "Centrão", grupo de partidos de centro sem ideologia claramente definida que nos últimos anos têm appoiado seja quem for que estiver no poder em troca de cargos. O "Centrão" já apoiou os ex-presidentes Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, e apesar de ter sido massacrado publicamente por Jair Bolsonaro no último ano e meio, aceitou sem pestanejar aderir ao governo para conseguir cargos.

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Bolsonaro sempre considerou os partidos do "Centrão" como o que classifica a "velha política", os políticos que trocam apoio por cargos, muitos dos quais foram acusados de ligação ao escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. Mas com o avolumar dos pedidos de impeachment entregues por cidadãos, entidades da sociedade e partidos de oposição na Câmara dos Deputados, o presidente deu o dito por não dito e, apesar de nenhum desses processos para a sua destituição ter sido aprovado ou ter mesmo iniciado a tramitação, apressou-se a formar uma base parlamentar na forma do chamado toma lá dá cá.

Inicialmente, o "Centrão", do qual fazem parte mais de 200 dos 513 deputados federais, contentou-se com cargos de segundo e terceiro escalões, como directores de departamento em ministérios ou presidentes de empresas públicas no nordeste do país. Mas, à medida que os problemas aumentaram para Bolsonaro, que está a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal e pode até ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República, o valor desse apoio subiu e, para garantir que não terá problemas com o mandato, pois qualquer abertura de processo terá de ser autorizada pela Câmara dos Deputados, o presidente resolveu pagar e dar ao grupo de partidos o seu primeiro cargo no mais alto escalão do governo.

Até agora, as Comunicações eram uma secretaria do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, comandado pelo único astronauta brasileiro a viajar ao espaço, Marcos Pontes, que a partir da criação do novo órgão fica só com as outras três. Precavido, ao mesmo tempo em que nomeou um representante do "Centrão" para titular da pasta, Jair Bolsonaro nomeou um dos seus homens de maior confiança para número 2 do novo ministério, Fábio Fajngarten, que comandava até agora a Secretaria de Comunicação da presidência, amigo dos filhos do chefe de Estado e figura conhecida pelo seu radicalismo político e religioso e por não se furtar a uma boa briga para defender o presidente.

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Com a criação da nova pasta, Bolsonaro fica ainda mais longe da sua promessa de campanha de o seu governo ter, no máximo, 15 ministérios. Já tem 22, com o das Comunicações passa a ter 23, e, também para contemplar os novos aliados está a estudar recriar outros, como o da Segurança Nacional, actualmente ligado ao da Justiça, e o do Desenvolvimento. 

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