Brejnev mandou matar João Paulo II

Uma comissão parlamentar italiana concluiu “para além de qualquer dúvida razoável” que o presidente Leonid Brejnev da ex-União Soviética esteve por detrás da tentativa de assassinato do falecido Papa João Paulo II, em 1981.

03 de março de 2006 às 00:00
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Esta conclusão, que corrobora as suspeitas nunca confirmadas de vários investigadores, foi ontem divulgada a jornalistas em Roma pelo senador Paolo Guzzanti, que presidiu à comissão.

Foi em 13 de Maio de 1981 que o turco Mehmet Ali Agca tentou matar João Paulo II, na Praça de S. Pedro, atingindo-o com dois tiros, que felizmente não foram fatais. Agca seria preso minutos depois e cumpriu 19 anos de prisão por este seu crime. Durante as investigações, mudou várias vezes a sua versão do crime, na primeira das quais responsabilizou a liderança soviética.

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No relatório que será oficialmente divulgado no final do mês, a comissão parlamentar italiana, que ouviu investigadores criminais na Itália e outros países, diz acreditar que a liderança política soviética tomou a iniciativa de eliminar o Papa João Paulo II pelo seu ostensivo apoio ao movimento pró-democracia ‘Solidariedade’ que florescia na Polónia e ameaçava contagiar as repúblicas sob influência soviética.

“Eles [a liderança soviética] transmitiram esta decisão aos Serviços Secretos militares e ordenaram-lhes que tomassem todas as medidas necessárias para cometerem um crime de gravidade única, sem paralelo nos tempos modernos”, lê-se no relatório, que faz ainda referência ao envolvimento dos Serviços Secretos búlgaros “apenas para desviar as atenções do papel da ex-URSS”.

Os procuradores públicos italianos nunca conseguiram provar a pista búlgara, mas Guzzanti afirma que há uma fotografia que prova que Sergei Antonov, funcionário da filial das linhas aéreas búlgaras em Roma – um dos seis arguidos absolvidos no julgamento sobre a tentativa do assassínio de João Paulo II – estava na Praça de S. Pedro no dia do atentado.

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A comissão liderada por Guzzanti foi criada para investigar os segredos da Guerra Fria revelados por Vasili Mitrokhin, um arquivista da KGB que fugiu para o Reino Unido em 1992. Entre esses segredos estava um capítulo sobre a tentativa de assassinato de João Paulo II. Em 2005, a comissão decidiu reabrir as investigações sobre João Paulo II depois da publicação do seu livro ‘Memória e Identidade’, no qual o Papa afirma estar convencido de que a tentativa de assassínio não foi iniciativa de Agca, que estava alguém por detrás dela. O último chefe da KGB, Kriuchkov, negou que a liderança soviética tivesse ordenado o assassínio.

PAPA PERDOOU ASSASSINO

A 27 de Dezembro de 1983, num dos momentos que ficaram para a História do seu Pontificado, o Papa João Paulo II deslocou-se à prisão para um inesperado encontro frente-a-frente com o homem que o tentara matar dois anos e meio antes. Durante 21 minutos, o Sumo Pontífice e Ali Agca conversaram em surdina, longe dos olhares indiscretos. No final, apertaram as mãos. Recorde-se que ainda na cama do hospital, dias após o atentado, o Papa já tinha perdoado o homem que tentara matá-lo.

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Ali Agca foi libertado no passado dia 12 de Janeiro, após cumprir mais de 24 anos pela tentativa de João Paulo II e pelo assassinato do jornalista Abdi Ipekci. Por decisão do Supremo Tribunal da Turquia, Agca voltou a ser preso dias depois para cumprir mais dez anos relativamente ao assassínio do jornalista.

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