Caetano Veloso: “Lula não fala norma culta da língua”

O músico brasileiro explicou esta sexta-feira, em Lisboa, a polémica em torno da frase “Lula é analfabeto”, que disse numa entrevista em Novembro, ao jornal ‘Estado de São Paulo’.

04 de dezembro de 2009 às 21:34
Caetano Veloso: “Lula não fala norma culta da língua” Foto: Tiago Sousa Dias
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“Criei um pequeno escândalo. É feio de se ler na primeira página de um jornal. Lula não é analfabeto”, disse Caetano Veloso numa conferência que decorreu esta sexta-feira na Casa Fernando Pessoa, reconhecendo, ainda assim, que o presidente do Brasil “não fala a norma culta da língua”.

De acordo com o artista, a controvérsia partiu de uma “edição sensacionalista das suas palavras”, mas a ideia implícita reflecte o “lado de grandeza histórica e épica” que o presidente do Brasil, Lula da Silva, conquistou entre o povo.

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“O Brasil de Lula não é só o do inchaço do Estado, mas a da promessa do país se tornar uma potência mundial”, disse Caetano Veloso. No entanto, para o artista essa transição não pode ocorrer enquanto nas favelas do Rio de Janeiro houver “adultos de nove, dez e 11 anos traficando droga e manejando armas de fogo”.

Caetano reconheceu que só no Brasil é que Lula podia ascender a presidente e que a sua eleição é “um sintoma de um modo de ser”.

Apesar das críticas, reconheceu que o actual Governo “é importante, bom”.

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“NEGROS CONTINUAM EM DESVANTAGEM”

Ainda que o mote da conversa tenha versado sobre a influência de 'A Mensagem' de Fernando Pessoa sobre o movimento tropicalista, onde também participou o poeta, filósofo e escritor brasileiro, António Cícero, o músico falou ainda de ódio racial no Brasil e reconheceu que as estatísticas “mostram que os negros continuam em desvantagem”.

“O Brasil precisava de uma gota de americanismo no sentido do enfrentamento da questão racial”, referiu em alusão à eleição do presidente norte-americano Barack Obama.

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Caetano Veloso disse ainda ser “uma ideia horrenda” a tese, defendida por alguns, de que o racismo possa ser mais forte no seu país por “não ser explícito”, como nos Estados Unidos ou na África do Sul, e recordou as suas idas antigas ao Carnaval para ver a “multidão”, sem ter em conta a raça. “Era uma maravilha”, confessou.

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