Criador das 'cidades-esponja' perde a vida no Pantanal

Queda de um pequeno Cessna matou os quatro ocupantes, entre os quais o chinês Kongjian Yu, nome incontornável da arquitetura urbana sustentável a nível mundial.

29 de setembro de 2025 às 01:30
Sanya, cidade-esponja chinesa Foto: Direitos Reservados
Kongjian Yu, pai das cidades-esponja

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“Não podemos lutar contra a água, nem vê-la como inimiga. Precisamos de deixar que ela escoe.” Foi a partir deste princípio que o arquiteto chinês Kongjian Yu construiu o conceito das cidades-esponja como forma de evitar inundações. Hoje, mais de 250 cidades em todo o Mundo seguem a doutrina de Yu, que ganhou força em julho de 2012, quando o dilúvio se abateu sobre a capital chinesa. Foram 40 horas de chuvas torrenciais, transformando Pequim e os subúrbios num lago de proporções gigantescas, alimentado por água que corria furiosa por toda a parte.

Morreram perto de 80 pessoas. Curiosamente, a Cidade Proibida, que durante cinco séculos serviu de residência a 24 imperadores das dinastias Ming e Qing, permaneceu seca, devido ao seu sofisticado sistema de drenagem.

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Inspirado nos conhecimentos dos seus antepassados e na sua já longa experiência em planeamento urbano sustentável, Yu consolidou a perceção de que era possível minimizar a repetição de tragédias como aquela que assolou Pequim, com cidades projetadas para que a água da chuva seja mantida e absorvida no local onde ela cai.

O segredo está em conciliar drenagem natural, lazer e preservação ambiental: com parques alagáveis (espaços verdes que ficam inundados durante as cheias e funcionam como áreas de convívio no tempo seco); jardins no topo dos prédios (reduzem o volume de água que vai para os bueiros); pavimentos permeáveis (que permitam a infiltração de água no solo); praças-piscina, (áreas desportivas ou de lazer, que se transformam em reservatórios temporários em dias de tempestade); pântanos e lagos, com pequenas ilhas de vegetação farta.

Em suma, estruturas que permitam reter a água e retardar a sua velocidade. O conceito foi adotado na China no ano seguinte às inundações de Pequim. Segundo Yu, é possível transformar uma cidade em cidade-esponja em cinco anos.

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Considerado um dos grandes arquitetos urbanísticos do nosso tempo, requisitado para encontros e conferências em todo o Mundo, o diretor do escritório de arquitetura paisagística Turenscape deslocou-se ao Brasil, para participar na Bienal de Arquitetura de São Paulo e realizar um sonho: conhecer o Pantanal, para desenvolver e aperfeiçoar os seus métodos e conceitos.

Uma viagem que ficaria registada em documentário, produzido pela Poseídos, de Rubens Crispim Jr., e realizado pelo cineasta Luiz Ferraz, autor da série ‘Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia’, que conta a história do acidente aéreo que vitimou jogadores e equipa técnica da Chapecoense, além dos jornalistas que seguiam a bordo, em novembro de 2016.

A pequena aeronave onde seguiam Yu, Rubens e Luiz, um Cessna, caiu na terça-feira, ao lado da pista de aterragem da Fazenda Barra Mansa, área turística do Pantanal, que recebe grande número de visitantes, explodindo ao atingir o solo. Morreram os três, assim como o piloto. Os corpos ficaram carbonizados. 

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