Cuba sai de programa social e pode deixar regiões do Brasil sem atendimento médico

Governo de Havana decidiu sair do programa depois de Jair Bolsonaro afirmar que cortaria relações com a ilha.

15 de novembro de 2018 às 21:05
Médicos, xxx Foto: Getty Images
Médicos, xxx Foto: Getty Images
Brasil, bandeira Foto: Getty Images
Brasil, bandeira, Foto: Fernando Bizerra/EPA

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A decisão do governo de Cuba de romper o acordo que tinha com o Brasil no programa social "Mais Médicos", que levava médicos cubanos para regiões brasileiras remotas e carenciadas, pode deixar centenas de cidades sem um único médico. O governo de Havana decidiu sair do programa depois do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmar há dias que cortaria relações com a ilha por ser governada por uma ditadura que explora o seu povo e não respeita os direitos humanos.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro já tinha dito, num comício na cidade de Presidente Prudente, que expulsaria os cubanos que participam no "Mais Médicos". Ao seu estilo agressivo, Bolsonaro disse na altura suspeitar que entre os supostos médicos cubanos deveria haver pessoas que nem médicos são e outras que foram para o Brasil com intuitos suspeitos, chegando até a citar a presença de militares de Cuba no programa social.

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Criado por Dilma Rousseff em 2013 para levar médicos a áreas extremamente pobres e remotas onde os profissionais brasileiros não querem trabalhar, o "Mais Médicos" tem neste momento um pouco mais de 16 mil profissionais de diversos países espalhados por todo o Brasil, dos quais 8556 são cubanos. Se os médicos cubanos deixarem o programa e o país, haverá o que autoridades locais e regionais já classificaram como um "mega-apagão" na área da saúde.

Os médicos cubanos estão espalhados por mais de 600 cidades brasileiras, principalmente pequenas cidades no nordeste e no extremo norte. Em boa parte dessas cidades, os cubanos são os únicos médicos existentes numa vasta região.

Esta quarta-feira, perante a forte repercussão negativa no Brasil às suas declarações e à retaliação cubana, Jair Bolsonaro tentou encontrar um caminho que permita romper com Cuba mas manter os médicos cubanos no Brasil. Ele afirmou que, ao assumir, em Janeiro, dará asilo político a todos os médicos cubanos que o pedirem e quiserem continuar a trabalhar no Brasil.

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Ao contrário do que acontece com médicos de muitos outros países que participam no "Mais Médicos", os cubanos sempre foram assunto polémico, principalmente pela diferenciação no tratamento. Enquanto a todos os outros médicos dos mais variados países o governo brasileiro paga diretamente, no caso dos cubanos a soma dos ordenados da totalidade dos médicos é enviado para Cuba, cujo governo fica com a maior parte e dá apenas uma pequena quantia para os profissionais ou as suas famílias, impedidas de sair da ilha e de se juntarem a eles no Brasil.

O governo de Cuba, cuja decisão foi tornada pública esta quarta-feira pelo próprio Bolsonaro, ainda não especificou quando os médicos cubanos terão de deixar o Brasil. Autarcas de todo o Brasil e entidades ligadas à área da saúde estão a apelar a Bolsonaro para que abra um canal de negociação com Cuba e evite a saída em massa dos médicos cubanos, mas o presidente eleito já avançou que o Brasil forma 20 mil médicos por ano e não terá dificuldade em repor as vagas deixadas pelos profissionais de Cuba, o que na prática pode não ser bem assim, pois os brasileiros na sua maioria querem trabalhar em grandes e ricas cidades.

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