Egito retalia o Brasil após declarações de Bolsonaro sobre a embaixada em Israel

Viagem do ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro ao Egito foi cancelada em cima da hora.

06 de novembro de 2018 às 14:09
Aloysio Nunes Ferreira Foto: Reuters
Jair Bolsonaro Foto: Getty Images
Jair Bolsonaro Foto: Getty Images

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O Egito cancelou sumariamente e em cima da hora a viagem oficial que o ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, faria a partir desta quarta-feira àquele país árabe. Ferreira ficaria no Egito de quarta a domingo próximos, à frente de uma numerosa comitiva de diplomatas e de empresários, vários dos quais já estão no Cairo, capital egípcia.

O cancelamento da viagem em cima da hora, algo pouco comum na diplomacia, foi justificado pelo governo do Egito com alterações inesperadas de agenda, que impossibilitariam receber o ministro do Brasil e a sua comitiva. Mas diplomatas brasileiros que falaram sob anonimato afirmaram que o cancelamento foi uma clara retaliação do Egito a declarações do presidente eleito do Brasil, o radical de extrema-direita Jair Bolsonaro.

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Bolsonaro afirmou logo após ser eleito que uma das suas primeiras medidas na área de política externa ao tomar posse em Janeiro será reconhecer oficialmente a cidade de Jerusalém como capital de Israel e, dessa forma, mandar transferir a embaixada do Brasil, atualmente em Telavive, para aquela cidade. Poucos países do mundo reconheceram a decisão unilateral do governo de Telavive de tornar Jerusalém capital de Israel, pois a cidade é sagrada e disputada por várias religiões e, para os árabes, ela está ocupada ilegalmente por tropas israelitas numa demonstração de força.

Jair Bolsonaro, que tem no presidente dos EUA, Donald Trump, um dos seus maiores ídolos e que já o imitou em diversas outras áreas, fê-lo novamente nesta questão. Trump foi o primeiro a reconhecer Jerusalém como capital de Israel, no que pouquíssimos outros países o seguiram, e o Brasil, que tem excelentes relações com o mundo árabe e boas relações também com Israel, tinha decidido manter a sua embaixada em Telavive.

Mas Bolsonaro, que tem fortes ligações pessoais com Israel, onde foi convertido para a religião evangélica por pressão da mulher, Michelle, e de entidades evangélicas que impulsionaram a sua candidatura à presidência, decidiu sair da neutralidade que o Brasil sempre adotou na região e apoiar Israel. Isso pode acarretar, além de protestos veementes de vários países, consequências graves para a economia brasileira, pois o mundo árabe é o segundo maior comprador de proteína animal brasileira, entre muitos outros productos.

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