ESPANHA JULGA CARRASCO ARGENTINO

Um dos mais cruéis agentes de tortura e de morte ao serviço da ditadura militar argentina de 1976-83, Miguel Ángel Cavallo, conhecido como “Serpico” ou “Marcelo”, chegou na manhã deste domingo a Madrid, onde foi imediatamente presente ao juiz Baltasar Garzón, que o vai julgar por genocídio e terrorismo.

29 de junho de 2003 às 14:07
ESPANHA JULGA CARRASCO ARGENTINO
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A extradição de Cavallo do México para Espanha, acordada no passado dia 10 e hoje consumada, abre um precedente na Justiça Internacional. O México torna-se no primeiro país a extraditar uma pessoa acusada de crimes contra a Humanidade para outro país onde não foram cometidos os crimes imputados ao acusado. Garzón vai julgar Cavallo em Espanha pela presumível responsabilidade do arguido nos delitos de tortura contra Thelma Jara e de assassinato das cidadãs espanholas Mónica Jaúregui e Elba Delia Aldaya, alegadamente cometidos na Argentina. Perante o juiz, Cavallo negou-se a depor, alegando não conhecer os crimes de que é acusado.

Cavallo chegou esta manhã à Base Militar Torrejón de Ardoz, em Madrid, a bordo de um Boeing 707 da Força Aérea Espanhola, que foi buscar o prisioneiro ao Aeroporto Internacional do México. O prisioneiro foi escoltado durante o voo por elementos da Agência Federal de Investigações do México, que o entregaram ainda dentro do avião a três agentes policiais espanhóis. Um comboio rodoviário policial, composto por uma viatura da Guarda Civil, quatro da Polícia Nacional espanhola e um furgão celular, transportou Cavallo até à presença do juiz Garzón, que o começou a ouvir pelas 10h00 (hora de Lisboa).

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FUNCIONÁRIO PÚBLICO NO MÉXICO

Cavallo, 51 anos de idade, foi detido em Cancún, México, a 24 de Agosto de 2000, depois de ter sido identificado por vítimas como sendo o capitão de corveta conhecido por “Serpico” ou “Marcelo” que, juntamente com Alfredo Astiz, o “Anjo da Morte”, dirigiu as operações de tortura e de morte na Escola Mecânica da Armada (ESMA) argentina, um campo de extermínio ao serviço da ditadura do general Jorge Videla.

O carrasco argentino conseguiu iniciar uma nova vida no México, onde se ocultava sob o nome de Ricardo Cavallo e exercia discretas funções como director-geral do Registo Nacional de Veículos do México (Renave). O verdugo da ditadura militar argentina acompanhou a evolução dos tempos com o que se pode chamar de ‘saída airosa’, mas manteve o rosto e a voz que anos mais tarde foram reconhecidas pelas vítimas que ainda hoje o vêem e ouvem nos seus piores pesadelos. Pode fugir-se à consciência pessoal, mas não se pode fugir à memória dos outros.

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Enquanto carrasco responsável pelo sector “Pecera” na ESMA, onde os detidos (políticos) eram sujeitos a escravatura e tortura, Cavallo decidia quem devia viver ou morrer, se enviava ou não um preso para os famigerados voos da morte, onde os presos eram atirados de um avião militar para o mar. A ele são-lhe atribuídas as execuções das duas espanholas pelas quais vai ser julgado em Espanha, assim como 264 casos de pessoas desaparecidas, 159 sequestros, um delito de falsificação de documentos, roubos de automóveis e saques de residências.

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