Ex-assessor que disse ter sido coagido pela polícia federal a denunciar Bolsonaro é preso ao comparecer em audiência
Imprensa partilhou áudios em que ataca o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
O ex-ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, foi preso na tarde desta sexta-feira, horas depois de a imprensa partilhar áudios em que ele ataca o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e diz ter sido coagido pela Polícia Federal a fazer denúncias contra o antigo presidente. A ordem de prisão preventiva foi assinada pelo próprio Alexandre de Moraes.
Cid recebeu voz de prisão ao ir ao STF para explicar a um juiz assistente de Moraes o contexto dos áudios vazados e confirmar ou não ter sido pressionado por inspectores da Polícia Federal a fazer acusações que implicassem Bolsonaro. Não foi revelado o que o oficial militar disse nessa audiência, o STF limitou-se a emitir um comunicado anunciando a nova prisão do antigo braço-direito de Bolsonaro por descumprimento das regras do acordo de colaboração que fez com a justiça no final do ano passado e por obstrucção de justiça.
Mauro Cid ficou preso de maio a novembro do ano passado acusado de 16 crimes diferentes praticados supostamente por ordem de Bolsonaro e que favoreceram o antigo presidente, e foi libertado após ter feito um acordo pelo qual contaria tudo o que sabe em troca da liberdade condicional. As denúncias que ele fez contra Jair Bolsonaro agravaram muito a situação jurídica do ex-presidente, alvo de duas acções de busca e apreensão da Polícia Federal em casa este ano e indiciado na semana passada pela corporação por falsificação do boletim de vacinas, forjando ter tomado a vacina contra a Covid-19 para poder entrar nos EUA.
Nos áudios divulgados na noite desta quinta-feira, 21 de Março, Cid diz a um interlocutor, ainda não identificado, que foi forçado pela PF a acusar o antigo chefe de Estado e que a polícia, na verdade, não queria saber a verdade, o que queria era que ele confirmasse uma narrativa que já estava pronta e compromete Bolsonaro. Em outro trecho dos áudios vazados, Cid diz que o Supremo Tribunal Federal está a sobrepor-se às leis do Brasil, principalmente Alexandre de Moraes, que, diz o militar, prende quem quer na hora que quer sem respeito a regras e direitos.
O STF alega que, ao conversar com outra pessoa sobre o acordo que fez com a justiça e ao trocar mensagens por uma rede social sobre o assunto, Cid descumpriu o acordo de colaboração, que tem como uma das regras mais importantes o secretismo absoluto. A Polícia Federal e Alexandre de Moraes ainda não divulgaram se vão manter ou anular o depoimento colaborativo de Cid e as provas que ele entregou, mas após a denúncia da alegada coação todas as acusações que ele fez a Jair Bolsonaro e outros suspeitos vão ser postas em causa pelos advogados de defesa, o que pode ocasionar uma reviravolta de consequências imprevisíveis nos vários processos que o antigo presidente enfrenta.
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