Ex-comandante do exército confirma que Bolsonaro propôs golpe de Estado

Partes do depoimento foram divulgadas nesta sexta-feira.

Jair Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
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Num depoimento que coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro no centro e no comando de uma tentativa de golpe de Estado, no final de 2022, para impedir a tomada de posse de Lula da Silva, o ex-comandante do exército, Freire Gomes, confirmou que foi o próprio chefe de Estado que lhe propôs a rutura institucional para reverter a derrota sofrida nas presidenciais de outubro daquele ano.

Parte das afirmações de Freire Gomes divulgadas esta sexta-feira pela imprensa brasileira, e que o CM já tinha adiantado parcialmente, põem pela primeira vez Jair Bolsonaro como figura central e bastante ativa no plano golpista, contrariando a tese da defesa de que algo teria sido tramado sem o seu conhecimento. 

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Os promenores divulgados mostram que o general afirmou ter sido convocado por Jair Bolsonaro pelo menos duas vezes, uma no dia 7 de Dezembro de 2022 e a outra dias depois. Nesses momentos o presidente da república apresentou minutas de decretos presidenciais de exceção que tentariam dar um ar de legalidade ao golpe de Estado.

Na primeira reunião, afirmou o general, Jair Bolsonaro disse que havia várias possibilidades de dar um golpe disfarçado de ação legítima, entre elas um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, a decretação de Estado de Defesa ou a decretação de Estado de Sítio.

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Em todas essas situações de exceção, as Forças Armadas são chamadas e assumem direta ou indiretamente o controlo do poder, sob a alegação de terem de intervir para impedir ou acabar com um eventual caos social ou um perigo iminente para a soberania e a estabilidade do país.

De acordo com o ex-comandante do Exército, Bolsonaro pediu que os militares seguissem o plano e dessem sugestões para alterar e melhorar a minuta, que depois seria transformada num documento jurídico pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, na altura.

Nas duas reuniões realizadas no Palácio da Alvorada, residência presidencial em Brasília, onde se supunha que Bolsonaro estivesse recolhido em profunda depressão, como aliados diziam, estiveram presentes também o comandante da Força Aérea, brigadeiro Batista Júnior, e da Marinha, almirante Almir Garnier.

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No seu depoimento, Freire Gomes afirmou que tanto ele como Batista Júnior recusaram a proposta de rutura institucional e deixaram claro que as tropas que comandavam não participariam numa ação ilegal.

Na primeira das duas reuniões esteve presente também o assessor especial da presidência para assuntos internacionais Felipe Martins, também  advogado, e na outra, além dos comandantes militares e de Bolsonaro, participaram o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que defendia o golpe, e o ministro da Justiça, Anderson Torres.

Questionado no depoimento pelo porquê de não ter denunciado o plano de um golpe e manter Bolsonaro indefinidamente no poder, Freire Gomes avançou que não fez a denúncia pensando no bem do Brasil, pois, se a fizesse, seria exonerado e o presidente nomearia para o seu cargo um general favorável à rutura.

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