Ex-ministros da Saúde do Brasil arrasam Jair Bolsonaro

Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich disseram na Comissão de Inquérito do Senado à gestão da pandemia que as omissões e boicotes do presidente custaram milhares de vidas.

Ex-ministros garantem que alertaram repetidamente o presidente para a gravidade da situação e pediram uma mudança de políticas, mas foram ignorados Foto: UESLEI MARCELINO/reuters
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As omissões e os boicotes de Jair Bolsonaro no combate à Covid-19 foram intencionais e custaram milhares de vidas. As acusações são de dois ex-ministros da Saúde ouvidos na última semana pela comissão de inquérito do Senado que investiga erros e omissões do governo no combate ao coronavírus, os quais garantiram que alertaram repetidamente o presidente para a gravidade da pandemia.

“Eu mesmo entreguei uma carta em mão ao presidente, com a previsão de especialistas de até 180 mil mortes em 2020 se não fossem adotadas medidas rigorosas [o Brasil terminou esse ano com 195 mil mortes] e pedindo ao presidente uma mudança de postura, mas fui ignorado. Cada vez que se falava com o presidente sobre a gravidade da pandemia, ele parecia entender, mas, dois, três dias depois, saía sem máscara e promovia ajuntamentos”, acusou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, demitido em abril do ano passado, acrescentando que o presidente contradizia muitas vezes as orientações do Ministério e confiava mais no aconselhamento paralelo, nomeadamente, dos filhos, “que participavam nas reuniões de ministros e tomavam notas”.

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Nelson Teich, que sucedeu a Mandetta e ficou apenas 29 dias à frente do Ministério, disse à CPI que se demitiu ao perceber que o presidente queria um ministro meramente “decorativo”. Teich adiantou que decidiu deixar o cargo quando Bolsonaro tentou forçá-lo a orientar o uso da cloroquina contra o coronavírus, o que ele, como médico, não podia fazer, e que o presidente lhe disse que o ministro “tinha de fazer o que ele queria ou sair”.

Questionados se as ações e omissões de Bolsonaro contribuíram diretamente para o aumento de mortes, Mandetta e Teich não tiveram dúvidas em dizer que sim, e que uma postura diferente do presidente poderia ter salvado muitas vidas.

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Acusa “canalhas”

Rebatendo as acusações de responsabilidade na morte de milhares de pessoas por Covid-19, Jair Bolsonaro afirmou que o morticínio de brasileiros pelo coronavírus é culpa dos “canalhas” que criticam o uso da cloroquina, que o presidente garante ser a cura da doença.

Carlos Bolsonaro, filho e principal conselheiro do presidente, incentivou-o a combater as acusações de omissão na gestão da pandemia radicalizando o discurso e atacando quem o critica ou limita, como o Congresso e o Supremo Tribunal.

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