Filho de Bolsonaro foi à prisão visitar chefe de milícia acusado de assassínio, tortura e extorsão
Flávio Bolsonaro já emitiu um curto comunicado negando mais uma vez qualquer envolvimento com milícias.
Uma revelação feita esta quinta-feira por um ex-sargento da Polícia Militar e hoje vereador do Rio de Janeiro liga ainda mais comprometedoramente o clã Bolsonaro às milícias armadas que dominam pelo terror vastas áreas daquela cidade brasileira. O vereador afirma que o hoje senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, foi várias vezes à prisão onde ele e o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega estavam presos por assassínio.
De acordo com o ex-sargento e agora vereador fluminense Ítalo Ciba, do Partido Avante, ele e Adriano, então comandante do 16. Batalhão da Polícia Militar e considerado o chefe da mais sangrenta milícia da capital fluminense, foram presos em 2003 acusados de assassínio, tortura e extorsão. Dias depois, e, sempre segundo o vereador, por diversas vezes, Flávio Bolsonaro, então deputado regional no Rio de Janeiro, visitou-os na prisão num gesto de solidariedade.
Conotado pela imprensa com as milícias, grupos armados formados por polícias e ex-polícias corruptos, Flávio Bolsonaro tem negado veementemente. Até agora, ele tem afirmado que a sua ligação ao ex-capitão Adriano da Nóbrega era meramente protocolar, por o ter homenageado duas vezes, em 2003 e 2005 o antigo oficial, nessa altura, sempre realça o filho de Bolsonaro, um herói da polícia no combate ao crime.
A revelação de Ítalo, se puder ser confirmada, complica muito a situação de Flávio, que durante anos empregou no seu gabinete a mãe e a mulher do antigo capitão, morto no passado dia 10 pela polícia da Bahia, onde estava fugitivo há mais de um ano. Esta semana, o presidente Jair Bolsonaro veio a público defender o filho, afirmando que Flávio jamais teve qualquer envolvimento pessoal ou político com lilícias, e que foi ele, Jair Bolsonaro, quem "determinou" ao filho para homenagear Adriano na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro por considerar que o militar era um exemplo de combate ao crime, mesmo sendo já suspeito de mortes.
Ante a revelação feita hoje pelo ex-sargento Ítalo Ciba, Flávio Bolsonaro emitiu um curto comunicado negando mais uma vez qualquer envolvimento com milícias. Mas reconheceu ter ido à prisão onde Adriano estava preso, uma única vez e não em 2003 e sim em 2005, para lhe entregar a medalha de honra que a seu pedido tinha sido concedida pelo parlamento fluminense.
Tendo-se destacado como capitão no temido BOPE, Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, Adriano trocou de lado. Além de comandar a sangrenta milícia do Rio das Pedras, ele era considerado chefe do "Escritório do Crime", grupo de matadores profissionais de aluguer formado essencialmente por polícias e suspeito de envolvimento na execução da vereadora Marielle Franco, assassinada numa rua do Rio de Janeiro em 14 de Março de 2018, e estava fugido desde Janeiro do ano passado, quando a polícia e o Ministério Público desencadearam uma operação contra milícias.
As circunstâncias da morte de Adriano numa propriedade rural no interior da Bahia ainda são motivo de muitas dúvidas e de intensa polémica, a ponto de a justiça ter impedido até agora a cremação do seu corpo. Na versão oficial, Adriano foi descoberto e cercado numa pequena casa na área rural da cidade de Esplanada, reagiu à bala à voz de prisão e foi morto em confronto.
Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro rejeitaram publicamente esta versão, insinuando que a polícia da Bahia, estado governado pelo oposicionista Partido dos Trabalhadores, executou sumariamente o ex-militar. Jair Bolsonaro também já avançou suspeitar que durante a perícia aos 13 telemóveis encontrados com o miliciano possam ser introduzidas mensagens ou conversas forjadas para o incriminarem a ele e ao filho, sem explicar as razões dessas suspeitas.
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