Sem abrigo morre em rua de São Paulo após termómetros chegarem aos zero graus
Voluntários percorrem principais pontos de aglomeração de pessoas sem abrigo para que fiquem em abrigos municipais.
Um homem com idade aparente entre 45 e 50 anos foi encontrado morto depois de ter dormido ao relento numa rua do bairro da Saúde, zona sul da cidade brasileira de São Paulo, numa madrugada em que a temperatura nos termómetros municipais ficou perto dos zero graus, com sensação térmica negativa. Quando uma ambulância foi chamada por populares, já de manhã, nada mais podia ser feito pelo homem, que supostamente se chamava Adriano Paulo e era conhecido na região por viver na rua, perto de um supermercado da rua Carneiro da Cunha.
Desde sexta-feira, uma intensa vaga de frio atinge vários estados do Brasil, com temperaturas de até 7 graus negativos e neve no sul, como no estado de Santa Catarina, e São Paulo, mesmo sendo geralmente uma região de clima temperado, voltou a viver temperaturas baixíssimas. Nas madrugadas de sexta para sábado e de sábado para este domingo, os termómetros marcaram temperaturas perto de 1, 2 graus, mas a sensação térmica, aquilo que as pessoas realmente sentem, foi ainda menor, principalmente para quem vive nas ruas.
Sábado à tarde, na região do Aeroporto de Congonhas, sul da cidade, os termómetros marcavam somente 4 graus. Em regiões mais afastadas, como os bairros de Engenheiro Marcilac e Parelheiros, mais perto da Serra do Mar, a sensação térmica ficou negativa.
Equipas da edilidade paulistana e de voluntários percorrem desde sexta-feira os principais pontos de aglomeração de pessoas sem abrigo, tentando convencê-las a irem para abrigos municipais, muitas vezes sem sucesso, pois quem vive nas ruas nem sempre está disposto a aceitar as regras e a disciplina desses lugares. Por toda a cidade, foram erguidas 10 tendas de atendimento de emergência, onde pessoas que vivem nas ruas podem receber uma refeição quente, roupas e cobertores, e, se for necessário, atendimento médico.
A Estação Parque D. Pedro, no centro da cidade, improvisou um dormitório para pessoas sem abrigo passarem a noite num local mais protegido, recebendo cada uma um colchão, cobertores e alimentos e podendo tomar um banho quente, mas, também aqui, a capacidade máxima não foi preenchida e sobraram vagas. De acordo com dados da municipalidade de São Paulo, cerca de 32 mil homens, mulheres e crianças vivem nas ruas da maior cidade do Brasil, mas movimentos sociais avançam que o número real pode chegar a 60 mil.
Numa outra vaga de frio, em maio, ao menos sete sem abrigo morreram na cidade de São Paulo devido às baixas temperaturas. Independentemente do que os termómetros oficiais informam, no chão gelado, onde os sem abrigo dormem em cima de pedaços de papelão, o frio é ainda mais insuportável, agravado, como no caso dos últimos dias, por vento forte e uma chuvinha chata e continuada, que parece nem molhar mas, na verdade, a pouco e pouco encharca tudo e piora ainda mais a sensação de frio.
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