General angolano suspeito de usar filho para lavar fortuna
Ministério Público alega que Manuel Hélder Dias Júnior, conhecido como ‘Kopelipa’, terá usado o filho para branquear, desde 2019, mais de 34 milhões de euros.
O general angolano Manuel Hélder Dias Júnior, conhecido como ‘Kopelipa’, é suspeito de ter lavado 34 milhões de euros em Portugal. O alegado branqueamento desta fortuna foi efetuado, segundo o Ministério Público (MP), através do filho desde, pelo menos, 2019. O dinheiro terá tido origem em negócios suspeitos em Angola e entrou em Portugal através de um banco russo.
As suspeitas desta alegada lavagem de dinheiro estão a ser investigadas pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Segundo um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de setembro último, o inquérito foi aberto em 2024 após serem detetadas transferências bancárias suspeitas da WWC - World Wide Capital, empresa inicialmente controlada por ‘Kopelipa’, para o filho deste general angolano.
O esquema usado na lavagem do dinheiro consistiu em contabilizar como suprimentos, ou empréstimos, do general angolano à WWC um valor superior a 34 milhões de euros, mas, segundo o acórdão, o MP suspeita que este dinheiro corresponda “a mera passagem de fundos para interesses pessoais e familiares do mesmo sócio [‘Kopelipa’]”.
No acórdão, o MP alega que, “no primeiro semestre de 2023, Manuel Hélder Vieira Dias Júnior procedeu à transmissão do direito ao reembolso dos referidos suprimentos para a pessoa do seu filho Carlos Aniceto Giovetty Vieira Dias, iniciando operações para exigir à sociedade e dar pagamento a tais alegados reembolsos no segundo semestre de 2023”. Por esta via, segundo o MP, os alegados empréstimos que ‘Kopelipa’ terá feito à WWC foram devolvidos por esta empresa ao seu filho.
O MP alega também que, “a partir do final de 2023, ocorreu a transferência do produto dessa devolução da esfera do Carlos Giovetty para a esfera de duas sociedades instrumentais, a Ediw Capital e a Ediw Imobiliária, criadas propositadamente para receberem os fundos”. Já em 2024, a Ediw Imobiliária usou parte do dinheiro para comprar imóveis. Ainda segundo o acórdão, o MP alega que “todas essas operações foram associadas a procedimentos instaurados contra Manuel Hélder Vieira Dias Júnior quer em sede criminal em Angola, quer em sede de sanções financeiras pelos Estados Unidos, com a inclusão do mesmo nas listas da OFAC [agência do Departamento de Tesouro]”.
‘Kopelipa’ foi um dos homens de confiança do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos.
E TAMBÉM
Contas bloqueadas
O DCIAP promoveu o bloqueio das contas bancárias da Edwin Capital, Edwin Imobiliária, WWC - World Wide Capital e Carlos Giovetty Vieira Dias, em 2024, tendo o juiz de instrução do Tribunal Central de Instrução Criminal determinado a suspensão temporária dos movimentos das contas. O DCIAP tem como diretor Rui Cardoso.
Interesse de ‘Kopelipa’
O MP alega, no acórdão do Tribunal da Relação, que uma conta da WWC - World Wide Capital terá servido para fazer pagamentos no interesse pessoal de ‘Kopelipa’.
Relação nega recurso
A Edwin Capital, a Edwin Imobiliária, a WWC - World Wide Capital e o filho de ‘Kopelipa’ recorreram para o Tribunal da Relação de Lisboa da decisão do juiz que bloqueou as contas bancárias, mas a Relação negou o recurso.
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