Jornalistas angolanos vão apresentar queixa contra Serviço de Investigação Criminal por agressões
Segundo o diretor do jornal Hora H que os jornalistas foram "submetidos a torturas psicológicas e físicas" na esquadra, durante mais de duas horas.
Um grupo de jornalistas angolanos anunciou esta sexta-feira que vai apresentar queixa-crime contra efetivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC), alegando terem sido submetidos a agressões físicas e psicológicas durante uma reportagem.
Em causa está a detenção, durante mais de duas horas, de 10 pessoas, entre as quais sete jornalistas, quando se encontravam em serviço em frente às instalações daquele órgão do Ministério do Interior (Minint) de Angola, em Luanda.
O incidente teve lugar na quinta-feira e envolveu sete jornalistas do jornal e TV 'online' Hora H, jornal 'online' 24 Horas, TV Maiombe e TV NZinga, igualmente órgãos digitais, que tentavam entrevistar a mãe de um jovem detido.
Na altura, foram também detidos um motorista e dois irmãos do jovem.
Segundo o diretor do jornal Hora H, Escrivão José, os efetivos usaram a força para que os jornalistas abandonassem o local, sublinhando que durante mais de duas horas foram "submetidos a torturas psicológicas e físicas" na esquadra.
"Alguns colegas foram agredidos fisicamente e também psicologicamente. Portanto, achamos melhor fazer uma conferência de imprensa para anunciar o nosso posicionamento, que é abrir um processo contra os efetivos do SIC, que estão identificados e que não vamos cobrir mais as atividades do Minint, porque nós estávamos identificados e, infelizmente, vimos depois declarações do porta-voz do SIC que nós não estávamos identificados, enquanto existem imagens, tanto deles como as que nós fizemos, com as carteiras profissionais, com coletes", referiu.
Questionado sobre qual a justificação do SIC para que abandonassem o local, Escrivão José respondeu que alegaram apenas que não podiam estar naquele sítio.
"Nós não estávamos na esquadra, mas sim do outro lado da rua que divide o comando da polícia e o Bairro Popular, onde estávamos a entrevistar a senhora. Vieram com brutalidade, dizendo que tínhamos de sair dali, perguntámos se há um documento que proíbe fazer uma entrevista nos arredores da esquadra. Não quiseram saber e empurraram-nos à força para o interior da esquadra", relatou.
Já dentro da esquadra, prosseguiu Escrivão José, foram levados para uma sala onde foram submetidos às agressões.
"Não oferecemos resistência, porque já sabemos quais são os métodos da polícia angolana e íamos gritando que não havia necessidade de nos agredirem", sublinhou.
Escrivão José relatou à Lusa que ao fim de duas horas, o diretor adjunto do SIC ordenou que fossem levados à sua sala e, diante dos seus efetivos, pediu desculpas pelo sucedido e ordenou que fossem postos em liberdade.
Para o jornalista, os agentes do SIC "agiram de má-fé, agredindo todos os colegas que estavam ali".
O porta-voz do SIC, Manuel Halaiwa, contou outra versão dos acontecimentos e disse que os jornalistas não foram detidos, mas "retidos"
"Apresentaram-se junto da direção geral do SIC no período das 11h00 supostamente para fazerem uma cobertura a um grupo de indivíduos que vinha tirar satisfações sobre a detenção de um seu familiar", indicou.
Segundo o responsável, a forma como os jornalistas se apresentaram diante das instalações do SIC "não foi a mais adequada", pois "chegaram com um grupo de indivíduos e decidiram recolher imagens e fazer entrevistas" aos supostos familiares do detido, sem contactar previamente a instituição.
Ao ser interpelados pelos efetivos do SIC, "reagiram de forma enérgica", o que resultou em "desentendimento" e "para esclarecer os factos, todos foram recolhidos para o interior do edifício".
"Passadas algumas horas, depois das questões esclarecidas e de uma conversa com o diretor adjunto (...) reconheceram as falhas que cometeram ao iniciar a sua atividade naquele local que carecia de um esclarecimento pontual", disse, recomendando que os jornalistas recorram ao gabinete de comunicação para esclarecer quaisquer questões e lamentando "a forma como as coisas ocorreram".
Afirmou também que seria "anormal" que os efetivos do SIC assistissem a uma "algazarra" com um grupo de pessoas "a produzir insultos em tom alto" sem nada fazer.
Manuel Halaiwa disse que os jornalistas são os principias parceiros dos órgãos de defesa e segurança, destacando o seu papel na disseminação de informações sobre segurança pública.
Acrescentou que o detido está indiciado por crimes de incitação à violência e posse ilegal de arma de fogo e produziu um vídeo divulgado nas redes sociais, com uma arma, fazendo ameaças "a uma suposta pessoa que vai tirar do caminho" o que levou o SIC a atuar.
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