“Maior ajuste da história da humanidade”: Argentina livrou-se do défice em um ano, mas tem mais 5 milhões de pobres

Libertário Javier Milei completou um ano na presidência.

11 de dezembro de 2024 às 18:21
Javier Milei Foto: Agustin Marcarian/ Reuters
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O Presidente da Argentina assinalou o primeiro ano de mandato com uma declaração ao país, na terça-feira. “O défice foi o ovo da serpente de todos os nossos males, pois sem défice não há dívida, nem emissões, nem inflação. Hoje, alcançámos um excedente fiscal sustentado, livre de incumprimentos, pela primeira vez nos últimos 123 anos”, notou Javier Milei, citado pelo jornal La Nacion. Contudo, desde que Milei assumiu funções, a Argentina tem mais cinco milhões de pessoas em situação de pobreza.

O economista libertário vangloriou-se de ter cumprido a promessa de cortar “com uma motosserra os gastos públicos”. “Reduzimos os ministérios de 18 para oito. Eliminámos quase 100 secretarias e sub-secretarias. (…) Demitimos mais de 34 mil funcionários públicos e estamos a fazer testes de idoneidade aos demais”, enumerou.

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No primeiro ano de mandato, Milei diminuiu a emissão monetária (a impressão de dinheiro para cobrir gastos maiores), que impulsionava os preços. “Hoje a emissão monetária é uma coisa do passado. (…) Estamos cada dia mais perto de que a inflação seja pouco mais do que uma má memória”, vincou Milei, descrevendo este como “o maior ajuste da história da humanidade”.

A inflação desacelerou de 25% em dezembro de 2023 para 2,7% em outubro de 2024. A queda reflete a redução do poder de compra da população: o consumo caiu 15% entre janeiro e novembro.

Taxa de pobreza mais elevada desde 2004

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Desde que Milei assumiu as funções de Presidente, a Argentina tem mais cinco milhões de pobres. A taxa de pobreza atingiu o valor mais elevado desde 2004 (52,9%) nos primeiros seis meses do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística da Argentina. Quase sete em cada dez crianças são pobres.

O desemprego também cresceu, subindo de 6,2% para 7,6% na primeira metade do ano, em termos homólogos. Enquanto isso, a economia argentina afundou 2,2% no primeiro trimestre e 1,7% no segundo.

Com menos de 10% dos assentos no Senado e apenas 15% na Câmara dos Deputados, o desafio para a coligação de Milei, A Liberdade Avança, tem sido a governabilidade. Várias das promessas eleitorais foram abandonadas, como a da eliminação do peso (e a sua substituição pelo dólar como moeda nacional) e a do encerramento do Banco Central.

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Em vez disso, a moeda nacional valorizou com a diminuição da emissão monetária e com a redução do peso da dívida pública no ativo do Banco Central da Argentina: de 88,2% em dezembro de 2023 para 66,4% em novembro de 2024.

“Para avançar no processo de encerramento do Banco Central que prometemos e que acabará para sempre com a inflação na Argentina, anunciámos um esquema de competição cambial para que todos os argentinos possam usar a moeda que desejarem nas suas transações diárias”, enunciou Milei na declaração ao país.

“A partir de agora, cada argentino poderá comprar, vender e faturar em dólares ou na moeda que quiser, exceto no pagamento de impostos, que por enquanto continuará a ser em pesos”, detalhou.

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Em matéria de segurança, o número de mortes em Rosário, conhecida como a capital do narcotráfico da Argentina e berço do astro futebolista Lionel Messi, baixou 62% entre janeiro e agosto, em termos homólogos, segundo um relatório do Ministério da Segurança Nacional. “Não vamos parar até que a nossa doutrina de ‘cá se fazem, cá se pagam’ esteja gravada na memória de cada criminoso”, frisou Milei.

Quanto à habitação, com o fim da regulamentação do mercado de arrendamento, o número de casas no mercado quase triplicou num ano na capital, Buenos Aires. Em termos reais, os preços baixaram para menos de metade face a 2023.

Recentemente, o Governo argentino terminou com os cuidados de saúde públicos gratuitos e a isenção das propinas universitárias para estrangeiros não residentes.

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Na declaração ao país, o Presidente argentino prometeu “impulsionar no próximo ano um tratado livre comércio com os Estados Unidos” e anunciou que a sua equipa “está a concluir uma reforma fiscal estrutural que reduzirá o montante dos impostos nacionais em 90%”.

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